O Primeiro Comando da Capital (PCC) e o Comando Vermelho (CV), as duas maiores facções do crime organizado do País, se uniram para abastecer traficantes no interior de São Paulo.
A constatação foi feita por promotores do Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado (Gaeco), de São José do Rio Preto, e divulgada nesta quarta-feira para a imprensa.
As investigações terminaram em um processo em que a Justiça de Fernandópolis (SP) condenou nove integrantes da quadrilha a mais de 95 anos de prisão, mas o Ministério Público (MP) recorreu para aumentar a pena.
A associação das duas principais facções de São Paulo e do Rio de Janeiro foi em 2008, mas a sentença, do juiz Evandro Pelarin, de Fernandópolis, só foi dada em 12 de novembro do ano passado e o recurso do MP, impetrado no último dia 31, publicado na edição desta terça-feira-feira do Diário Oficial da Justiça.
A associação foi formada pelo então líder do PCC na área 17 (região de DD 17), Welton Ferreira de Souza, vulgo Boy, e pelo traficante João Batista dos Santos, o Ventania, considerado um dos auxiliares de Fernandinho Beira-Mar e ligado ao CV. A partir da Penitenciária I de Mirandópolis, Boy se comunicava com Ventania para comprar drogas, trazidas do Rio de Janeiro.
De dentro da penitenciária, com auxílio de uma central telefônica, Boy fazia conferências com integrantes do PCC e do CV e encomendava a droga. Ele também coordenava recebimentos, ordenava pagamentos, vendas e entrega de cocaína e crack a outros traficantes da região de São José do Rio Preto, Barretos e Novo Horizonte (todas com DD 17).
A cocaína – e posteriormente o crack – era trazida por Ventania e entregue a contatos de Boy, entre eles algumas mulheres e adolescentes, que providenciavam a guarda, transporte e entrega do entorpecente para compradores. Perseguições e interceptações telefônicas autorizadas pela Justiça propiciaram a apreensão de mais de 20 kg de cocaína e a prisão de Ventania e condenação de Boy. O primeiro foi condenado 14 anos de prisão e o segundo, a 21 anos e sete meses.
As penas podem ainda aumentar se a Justiça acatar o recurso interposto na última quinta-feira pelo promotor Eduardo Caetano Querobim, de Fernandópolis. O promotor apela para que a Justiça faça a exasperação das penas, que é aplicar a pena mais grave cometida pelo réu acrescida de um valor entre um sexto e metade da pena (116% a 150%).
A sentença de Evandro Pelarin relata diversas situações em que os dois traficantes se uniram para o tráfico e relata que a associação começou a ser descoberta com a apreensão de 10,8 kg de cocaína na cidade de Bady Bassit, vizinha a Rio Preto. “Durante nossas investigações apuramos a união dessas facções criminosas no desenvolvimento do narcotráfico e para arregimentar novos integrantes para as organizações criminosas”, comentou o promotor João Santa Terra, do Gaeco de Rio Preto.
“Boy distribuía as ordens do interior do presídio de Mirandópolis e desenvolvia o narcotráfico com auxílio de seus ‘funcionários do crime’, entre eles sua esposa e sua amante”, diz. As mulheres também eram responsáveis por fazer a contabilidade do tráfico, como receber e depositar dinheiro em contas delas ou de terceiros e colocar Boy em contato para cobrar devedores por telefone.