A Polícia Civil de Mato Grosso investiga pelo menos duas quadrilhas de narcotraficantes, ligadas ao Primeiro Comando da Capital (PCC), que abastecem a região de Rio Preto com cocaína da Bolívia.
Por mês, esses grupos desovam no Noroeste paulista entre 100 e 400 quilos de pasta base da coca por meio de uma intrincada logística envolvendo grandes fazendas na fronteira, aviões e caminhões frigoríficos. A estimativa é dos delegados-titulares de Mirassol d’Oeste, Mário Demerval Aravechia de Resende, e de São José dos Quatro Marcos, Walfrido Nascimento, com base em interceptações telefônicas.
O faturamento bruto mensal do esquema chega a R$ 6,5 milhões. Nem sucessivas operações das Polícias Federal e Civil foram suficientes para estancar a conexão Bolívia/Rio Preto. Os dois grupos continuam ativos, e seriam comandados por Ademilson Domingos Tazzo e Juraci Alves Duarte, o Patrão. Em Rio Preto, a Delegacia de Investigações Sobre Entorpecentes (Dise) tem notícia do envolvimento dessas quadrilhas no tráfico regional, embora não haja investigação formal em curso.
A base das quadrilhas é a região de Mirassol d’Oeste, cidade de 25 mil habitantes colonizada por paulistas da região de Rio Preto desde os anos 60. “Todos vêm para cá em busca de novas oportunidades na vida, lícitas e ilícitas”, resume o delegado Resende. A economia legal da região gira em torno da pecuária de corte, mas a proximidade da fronteira com a Bolívia – cerca de 80 quilômetros – incentiva o tráfico da cocaína produzida no país vizinho.
O clima na região é tenso, marcado pela violência do narcotráfico. “Aqui as pessoas costumam resolver suas pendências na bala”, diz Resende. Juízes e promotores costumam andar armados ou com escolta. Próximo à Bolívia, é comum se deparar com policiais fortemente armados do Grupo Especial de Fronteira (Gefron). Mesmo assim, a cocaína cruza a divisa com a Bolívia com relativa facilidade, por meio de aviões ou estradas de terra que ligam os dois países.