domingo, 22 de dezembro de 2024
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Patologistas brasileiros reivindicam carreira pública

Os patologistas brasileiros comemoram hoje (5) o dia nacional da categoria, alertando que a população não tem acesso a diagnósticos de qualidade com agilidade, devido, em grande parte, à falta…

Os patologistas brasileiros comemoram hoje (5) o dia nacional da categoria, alertando que a população não tem acesso a diagnósticos de qualidade com agilidade, devido, em grande parte, à falta de uma carreira pública para a especialidade. A diretora da Sociedade Brasileira de Patologia (SBP), Luciana Salomé, disse que esse é um dos grandes problemas que a patologia enfrenta no país. “É um problema para o profissional e para a população.”

Segundo ela, o papel fundamental do patologista no tratamento de uma doença é o de fornecer o diagnóstico correto ao clínico ou ao cirurgião que vai tratar o paciente. “E o que a gente vê, cada vez mais, é uma dificuldade de a população ter acesso a um bom diagnóstico”. Médicos de todas as outras especialidades fazem concursos para preencher vagas nos serviços públicos de saúde. Luciana Salomé argumentou que, no caso dos patologistas, eles são enquadrados pelo governo na categoria de patologistas clínicos. Esse é um ramo da especialidade que trabalha de forma mais automatizada, com maquinário, em que colocam amostras de sangue, urina e fezes para fazer um diagnóstico.

No caso do médico patologista, a diretora da SBP afirmou que o diagnóstico é muito mais artesanal. “Depende da boa formação e do olho do patologista. Ele precisa de fato examinar aquele material. Não há uma máquina que substitua o trabalho”. O problema é que o credenciamento pelo serviço público hoje é feito da mesma maneira que os laboratórios de patologia clínica, ou seja, o único critério para o credenciamento é o menor preço, assegurou Luciana. “Você se vê cada vez menos respaldado para prestar serviço ao Sistema Único de Saúde, sendo que esse paciente continua precisando de um diagnóstico benfeito.”

A especialista disse ainda que a tendência de extinção dos departamentos de Patologia nos hospitais públicos não só torna pior o aprendizado dos médicos residentes, mas também impede que o patologista discuta com o cirurgião ou o clínico o diagnóstico do paciente, pondo em risco, inclusive, as chances de tratamento e cura para casos de câncer, por exemplo.

“O empobrecimento, também em termos de aprendizado, é muito grande, porque é um departamento que está sumindo dentro dos hospitais públicos. Ele sai do hospital para ser visto em um laboratório terceirizado. Esse médico não tem compromisso com o serviço porque não tem vínculo com o hospital, não discute o caso com os clínicos, com os cirurgiões, não participa do seguimento daquele paciente que, em outro momento, pode precisar de nova biópsia ou, no caso de um tumor, ele pode recidivar e esse paciente não tem história”, advertiu. Com a concorrência nivelada pelo menor preço, a qualidade dos laudos é prejudicada, uma vez que os patologistas são levados a aumentar seu rendimento, dedicando menos tempo a cada caso examinado. “Ao retirar o trabalho de um patologista ou o Departamento de Patologia de um hospital, você empobrece os outros [departamentos]”.

A reivindicação da SBP é que haja uma formação de qualidade dos médicos, que sejam feitos concursos públicos para patologistas e que esses departamentos sejam considerados essenciais dentro dos hospitais. A instituição lembra que, como a remuneração é ruim, o serviço passa a ser terceirizado e não há controle da qualidade do diagnóstico. “O material sai do hospital para ser examinado em outro lugar. Com isso, o cirurgião ou o clínico perdem todo o controle sobre ele”. No caso de um câncer, o tempo para a entrega do diagnóstico pode alterar o prognóstico do paciente. “Esse tumor continua crescendo. Ele não espera o diagnóstico junto com o paciente. Compromete as chances que aquele paciente teria de se curar. É muito sério”.

Luciana Salomé destacou que a formação dos residentes contribui para se tornarem profissionais melhores. “Você aprende na prática. E o médico precisa entender que ele tem uma função social, com foco no paciente”. A preocupação, reiterou, é com o tipo de serviço de saúde que está sendo oferecido à população.

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