Foram registrados 104 casos, entre mortes e internações de cães intoxicados, após a ingestão de petiscos com suspeita de contaminação, até esta quarta-feira (14), no país. A informação foi compartilhada entre 125 tutores que fazem parte de um grupo de Whatsapp criado para articulação e registro de ocorrências no país.
De acordo com Nayele de Freitas Guidetti, organizadora do movimento, todos esses casos foram devidamente comprovados por boletim de ocorrência, denúncias, número do lote do petisco, local de compra, nota fiscal e dados pessoais dos tutores.
Em Belo Horizonte, de acordo com a Polícia Civil (PCMG), até o momento, são 18 internações e 12 mortes em investigação.
Nesta semana, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) mandou retirar de circulação dois lotes de propilenoglicol, da marca Tecnoclean Industrial.
O Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa) identificou que esses lotes específicos foram contaminados por etilenoglicol, substância altamente tóxica. Afirmou também que este propilenoglicol adulterado foi usado na fabricação de petiscos para cachorros e pode ter sido responsável pela morte dos animais.
Durante a investigação conduzida pelo Mapa, foi identificada a possibilidade de distribuição do ingrediente contaminado para fábricas de alimentos de uso humano, mas, segundo a Anvisa, até o momento, não há suspeita de consumo humano.
Tutores de 13 estados e DF já registraram possíveis intoxicações
O número de cães vítimas de suposta intoxicação após o consumo de petiscos não para de crescer. De acordo com as investigações, já foram registrados casos em 13 estados e no Distrito Federal (veja mais abaixo).
Boa parte das vítimas estão em Minas Gerais. A Polícia Civil do estado confirmou, na última sexta-feira (9), que há 27 denúncias semelhantes. De acordo com a instituição, 15 animais morreram.
Segundo os tutores mineiros, os sintomas eram semelhantes: vômito, diarreia e lesão renal grave. A maior parte das mortes está na capital, onde 12 cachorros não resistiram.
Os trabalhos avançam desde o final do mês de agosto, quando foram feitas as primeiras denúncias. Desde então, a Polícia Civil descobriu a contaminação de pelo menos uma das amostras coletadas por monoetilenoglicol – também chamado simplesmente por etilenoglicol.
Três marcas de petiscos produzidos pela Bassar foram recolhidos dos distribuidores. Fiscais do Ministério da Agricultura Pecuária e Abastecimento (MAPA) visitaram a fábrica, em São Paulo. Os agentes tentam descobrir se houve e o que pode ter provocado a contaminação.
O g1 reuniu os principais desdobramentos das investigações.
Casos
Além do Distrito Federal, há casos registrados nos seguintes estados: Amazonas, Bahia, Espírito Santo, Goiás, Mato Grosso do Sul, Minas Gerais, Paraná, Pernambuco, Rio de Janeiro, Rio Grande do Sul, Santa Catarina, São Paulo e Sergipe.
Irregularidades em fornecedor
O Mapa encontrou irregularidades em dois lotes de propilenoglicol – substância permitida e identificada nos rótulos dos produtos – fornecidos à Bassar pela Tecno Clean Industrial LTDA. Segundo a fabricante de petiscos, essa matéria-prima estava contaminada por etilenoglicol.
Nesta sexta-feira, o Ministério informou que outros lotes também foram contaminados, mas desconhece a origem do problema. Apontou que há dificuldades na rastreabilidade dos envolvidos e da mistura de lotes de aditivos em diferentes estabelecimentos.
Empresas de alimentos e mastigáveis devem indicar os lotes de propilenoglicol existentes em seus estoques e seus respectivos fabricantes e importadores ao Serviço de Inspeção de Produtos de Origem Animal (SIPOA) de sua região.
Quais são as marcas envolvidas?
Os petiscos identificados até o momento são: Dental Care, Every Day e a Petz Snack Cuidado Oral. Todos são de fabricação da empresa Bassar.
Os produtos continuam sendo vendidos?
O Ministério da Agricultura determinou o recolhimento nacional de todos os lotes de produtos da Bassar em 2 de setembro. A pasta também interditou a fábrica da empresa, em Guarulhos (SP), até que sejam apresentadas todas as informações requeridas pela fiscalização.
O que diz a empresa?
A empresa responsável pelos petiscos foi notificada pela Polícia Civil de Minas Gerais através de uma carta precatória para prestar esclarecimentos. A produção dos petiscos é realizada em uma fábrica na cidade de São Paulo, e seus responsáveis terão que informar detalhes do processo de produção e os produtos utilizados na composição dos alimentos caninos.
Qual é a substância encontrada nos petiscos?
A Polícia Civil de Minas Gerais informou que foi identificada a presença de monoetilenoglicol em um dos petiscos entregues à delegacia por tutores de animais que passaram mal ou morreram.
A substância, que é tóxica e pode levar à insuficiência renal, já tinha sido detectada por meio de necropsia realizada pela Escola de Veterinária da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) em um dos cãezinhos mortos.
Quais são os sintomas da intoxicação?
Os animais apresentaram cansaço repentino, desconforto abdominal, diarreia, vômito e convulsões.
O que fazer ao identificar uma possível intoxicação?
A polícia pede que os tutores que tenham identificado o mal-estar ou precisem internar os animais depois da ingestão de petiscos, informe a corporação para a investigação.
O que dizem os envolvidos
Tecno Clean Industrial LTDA
Por meio de nota, a empresa afirmou que comprou o insumo – propilenoglicol – da empresa A&D Química Comércio Eireli e, posteriormente, revendeu ao mercado nacional como distribuidora.
A&D Química Comércio Eireli
A reportagem não conseguiu contato com a A&D Química Comércio Eireli.
Bassar Pet Food
A Bassar Pet Food informa que decidiu interromper a produção de sua fábrica até que sejam totalmente esclarecidas as suspeitas de contaminação de pets envolvendo lotes de seus produtos. A empresa também está contratando uma empresa especializada para fazer uma inspeção detalhada de todos os processos de produção e do maquinário em sua fábrica, em São Paulo.
De modo preventivo, a companhia já estava recolhendo os lotes de duas linhas de alimentos, mas procederá agora ao recolhimento de todos os produtos da empresa nacionalmente, conforme determinação do Ministério da Agricultura, Pecuário e Abastecimento.
A Bassar esclarece que ainda não teve acesso ao laudo produzido pela Polícia Civil de Minas Gerais, mas está colaborando totalmente com as autoridades desde o início dos relatos sobre os casos. A empresa enviou amostras de produtos para institutos de referência nacional para atestar a segurança e conformidade de seus produtos sob investigação.
Além disso, acionou todos os seus fornecedores para que façam o rastreamento dos insumos utilizados para afastarem a hipótese de algum tipo de contaminação.
A empresa está solidária com todos os tutores de pets – nossos consumidores e razão de nossa empresa existir. Somos os maiores interessados no esclarecimento do caso. Por isso, a empresa vem tomando todas as providências para investigação dos fatos. Os consumidores podem tirar dúvidas pelo e-mail sac@bassarpetfood.com.br.