O nome diz tudo: o parto natural deveria ser a regra, não a exceção. A Organização Mundial de Saúde (OMS) recomenda que as cesarianas representem, no máximo, 15% dos partos realizados. No entanto, 56% dos brasileiros nascem por meio de cirurgia cesariana. Segundo a OMS, o Brasil é o segundo país do mundo que mais realiza cesarianas, atrás apenas do Chipre.
Além disso, a cesariana se tornou um indicativo de classe social. Nos hospitais privados brasileiros, 82% das mulheres dão à luz por meio de cirurgia. Na rede pública, a incidência é de 37%. Um projeto de lei em análise na Câmara dos Deputados (PL 7633/14) quer resgatar a importância do parto natural.
O projeto, apresentado pelo deputado Jean Wyllys (Psol-RJ), estabelece que toda gestante deve ter direito à informação e à escolha, com a elaboração de um plano de parto que registre todas as suas opções. A grávida deve ter direito a um acompanhante em todo o processo e a uma profissional auxiliar de parto, como uma doula – acompanhante de parto que oferece suporte afetivo e físico à mãe.
Ainda segundo a proposta, médicos e profissionais de saúde devem dar prioridade à assistência humanizada, preferindo métodos não invasivos e a utilização de remédios e cirurgias apenas quando necessário. Todos os hospitais deverão atingir o percentual de 15% de cesarianas, indicado pela OMS.
O deputado Jean Wyllys afirma que a proposta inclui uma série de recomendações do Ministério da Saúde que já existem, mas muitas vezes não são cumpridas. Para o deputado, o índice de 15% de cesarianas deve ser visto como uma meta e não como um limite rígido. “Há casos em que a cesariana é o único meio de preservar a vida da mãe e do bebê, então nesses casos não há limite para a prática da cirurgia”, explica o parlamentar.
Cultura médica
O presidente da Federação Brasileira de Ginecologia e Obstetrícia, Etelvino Trindade, concorda que o número de cesarianas é muito alto, mas ressalta ser contra o limite de 15% de cesarianas. “A ciência engessada vira ideologia. A ciência é, conceitualmente, evolutiva”, afirma, acrescentando que países desenvolvidos não cumprem esse índice.
A médica e presidente da Rede pela Humanização do Parto e Nascimento, Daphne Rattner, defende a mudança da “cultura intervencionista” nos serviços hospitalares e na educação de obstetras. “Concordo que não dá para fixar um limite de cesárias de um dia para outro. Mudança de cultura não se faz por canetada, se faz com mudança de serviços e de educação”, aponta, acrescentando que a cesariana aumenta a mortalidade da mulher em até quatro vezes.
Parto em casa
Na contramão das estatísticas, cresce nas principais cidades brasileiras um movimento de valorização do parto natural. Na base do boca a boca e com a ajuda das redes sociais, mulheres divulgam experiências positivas e transformadoras de partos naturais que, muitas vezes, acontecem em suas próprias casas, sem o auxílio de nenhum profissional médico.
Foi o caso da cineasta Cecília da Fonte, 25 anos, que deu à luz ao pequeno Francisco em sua casa, nos braços do marido. À espera do bebê, estavam duas enfermeiras, contratadas como parteiras, e uma doula.
Cecília diz que foi completamente transformada pela experiência do parto natural. “Que a mulher se informe o máximo possível, que ela não se submeta à primeira informação. O parto natural é a melhor coisa do mundo e acho que todas as mulheres merecem passar por isso”, resume.