Na Rússia, Arnaldo Cezar Coelho está em sua 11.ª Copa do Mundo in loco. Primeiro sul-americano a apitar uma final de Mundial, em 1982, e comentarista da TV Globo desde 1989, ele diz que nunca viu “um número de erros dos árbitros tão grande como agora”.
Para Coelho, os juízes estão “terceirizando” para o VAR (sigla em inglês de “video assistant referee” ou árbitro assistente de vídeo) decisões que deveriam ser tomadas por eles. Em entrevista ao Estado, ele também critica a robotização da arbitragem e a falta de critério para o uso do VAR.
Qual é a sua avaliação sobre a atuação do VAR na primeira fase da Copa do Mundo?
Confesso que estava muito curioso para ver o árbitro de vídeo em uma Copa do Mundo porque as outras competições nas quais a Fifa usou o VAR eram menores, com menos jogos, como o Mundial de Clubes e a Copa das Confederações. Até por conta disso, fui à entrevista do Pierluigi Collina (chefe de arbitragem da Fifa) e me sentei na primeira fila. Fiquei impressionado ao ouvir dele que esperava que o VAR não trabalhasse muito nesta Copa. Na palavra deles, o VAR iria salvar os árbitros. Essa é a minha 11.ª Copa do Mundo e nunca vi um número de erros dos árbitros tão grande como agora. Os árbitros estão preparados fisicamente, são verdadeiros atletas, até porque o futebol está muito dinâmico, mas a presença do VAR tem sido uma muleta para eles.
Quando o senhor diz “muleta” se refere ao fato de os árbitros de campo ficarem dependentes dos árbitros de vídeo?
É normal o bandeirinha, por exemplo, esperar a conclusão de uma jogada para apontar se houve impedimento ou não. O árbitro, no entanto, não precisa esperar, mas está esperando para tomar uma decisão. Quase metade dos pênaltis desta Copa do Mundo foi marcada pelo VAR. Os árbitros estão terceirizando uma decisão que deveria ser deles.
O VAR tem mudado o comportamento dos árbitros?
Estão robotizando a arbitragem. A tecnologia ajuda o futebol em casos se a bola entrou ou não ou na linha de impedimento. A imagem é seca e fria em casos que não são interpretativos. Veja os exemplos do tênis e do vôlei, onde a tecnologia aponta se a bola foi dentro ou fora. Mas, no vôlei, o juiz não pede ajuda do vídeo para ver se um jogador deu dois toques na bola porque isso é interpretativo. O árbitro de futebol virou um robô.
O comportamento dos jogadores também mudou? Eles estão simulando menos?
Até agora, não vi ninguém simular um pênalti. Os atletas estão em uma espécie de Big Brother. Sabem que várias câmeras estão em todos os lances. Isso inibe a simulação.
Qual é a sua opinião sobre a atuação dos árbitros de vídeo?
Falta critério aos árbitros de vídeo. A Fifa tem de aprimorar esse protocolo. A câmera lenta desvirtua qualquer movimento. No jogo entre Colômbia e Senegal, por exemplo, o juiz marcou um pênalti, mas resolveu voltar atrás depois de rever a imagem em câmera lenta. A câmera lenta não pode servir como base em casos subjetivos. A intensidade dos lances tem de ser levada em consideração dentro da velocidade normal do jogo, e não em câmera lenta. O Collina vai dar uma nova entrevista para fazer um balanço da arbitragem na primeira fase da Copa e tenho certeza de que ele vai comemorar o fato de o número de erros ter diminuído por causa do VAR.
Tantas consultas a imagens da televisão não têm paralisado demais os jogos?
Achei que esta Copa iria ter muitas paralisações, mas as consultas têm sido rápidas. É praticamente o mesmo tempo de uma substituição. O jogo não perdeu a dinâmica.
O que você tem achado da atuação do Sandro Meira Ricci (árbitro brasileiro de campo) e do Wilton Pereira Sampaio (árbitro brasileiro de vídeo)?
O Wilton é muito discreto, quieto. A possibilidade de erro é muito pequena com ele. Já o Sandro no Brasil é uma coisa. Fora do Brasil é totalmente diferente. A arbitragem dele até agora foi exemplar, um sucesso. Dependendo do desempenho do Brasil, ele pode chegar a apitar a final.