quinta, 14 de novembro de 2024
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Pandemia: quarentena tem resilientes e quem ignora isolamento

Da janela, Vera Mussi Augusto, 79, vê o movimento nas ruas de Curitiba. “As pessoas são muito indisciplinadas”, conclui ela ao citar quem usa máscara no pescoço. A janela é…

Da janela, Vera Mussi Augusto, 79, vê o movimento nas ruas de Curitiba. “As pessoas são muito indisciplinadas”, conclui ela ao citar quem usa máscara no pescoço.

A janela é o mais próximo que Vera chega da rua há mais de quatro meses. Supermercado? “Meu filho faz”. Frutas e legumes? “Eu ligo e eles trazem”. Farmácia? “Faço pela internet”.

A quarentena no Brasil começou, em geral, em meados de março. De lá para cá, há quem ainda siga as orientações de isolamento rigidamente, como também os que permaneceram alguns meses em casa, mas retornaram algumas atividades, e aqueles que nunca se isolaram.

Vera diz que pretende seguir isolada até o fim da pandemia. “Não quero pegar o coronavírus porque se eu ficar ruim, me tornaria um abacaxi para os meus filhos”, diz.

Avó de oito netos e mãe de cinco filhos, sua rotina mudou drasticamente. Aposentada, ela mantinha uma vida ocupada, com funções como a coordenação de um clube do livro e a participação em uma associação filantrópica.

Alguns encontros foram adaptados para o ambiente virtual, mas, para ela, a experiência digital nem se compara com a presencial. “A gente se retraiu um pouco, o confinamento tira um pouco da energia das pessoas”, diz.

Assim como Vera, o casal formado por Verônica Mello, 47, e Tatá Oliveira, 34, teve que adaptar o trabalho ao novo formato na quarentena.

As duas são palhaças profissionais do grupo Circo SóLadies e tiveram uma redução de cerca de 90% da renda mensal. Elas dão aulas virtuais para uma escola e continuam fazendo apresentações por meio de lives.

“Nosso trabalho foi um dos primeiros que teve que parar e será um dos últimos a reformar”, afirma Tatá, que diz se sentir “meio idiota” quando vê pessoas indo viajar e encontrar os amigos.

Enquanto alguns ainda seguem o isolamento restrito, a estudante de moda, Beatriz Kopte, 20, começou a flexibilizar algumas medidas. Ela encontrou com amigas em junho. “Antes, estar com elas era tão natural, mas, agora, valorizo muito mais esses momentos”.

No começo da quarentena, ela e sua mãe saíam apenas para o mercado. “A gente chegava e colocava as roupas num saco, ia direto para o banho. Agora, sinto que estamos flexibilizando também isso”, conta.

A estudante vive com a mãe e nenhuma das duas são consideradas grupo de risco, e, por isso, não vê problema em retomar atividades, como academia. Porém, ela pondera que é preciso consciência e critica aqueles que “retornaram à vida normal e ficam bebendo no bar sem máscara”.

Christian Dunker, psiquiatra e professor da Instituto de Psicologia da USP, explica este tipo de atitude citada por Bianca. “O indivíduo tem limites”, diz ele, que compara que imprevidência [da quarentena] “fez muita gente sair correndo em uma corrida de 100 metros rasos, sendo que estamos numa maratona”.

“O medo prolongado é como a dor prolongada, chega uma hora que você não entende muito o que é a dor. Muita gente estabeleceu um sistema de quarentena impraticável a longo prazo e não fez o cálculo que isso poderia durar mais de cem dias”, explica.

Marcos Colpo, psicólogo, segue a linha de Dunker. “O ser humano não aguenta longos períodos de prisão, tem uma hora que fala ‘que se dane’”, afirma.

Elaine Wada Lopes, 40, mora num apartamento de um só quarto diz que não gosta de ficar dentro de casa. “Eu gosto da rua mesmo, eu preciso sair, ver gente e conversar”, diz ela que mora em Ribeirão Preto, região que permanece na fase 1 (vermelha) do Plano São Paulo (confira o estágio e evolução do vírus pelo Brasil).

Ela considera que o início da quarentena em março foi “um exagero”. “Acho que foi muito precipitada no nosso país, que enfrenta tantas dificuldades econômicas. O comércio deveria ter sido uma coisa mais gradativa”, afirma.

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