sexta, 22 de novembro de 2024
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Padre excomungado começa a celebrar missas alternativas em Bauru

Excomungado pela Igreja Católica após questionar dogmas religiosos, o ex-padre Roberto Francisco Daniel, 49, celebrará neste domingo (25) a primeira de uma série de missas alternativas que ele pretende oferecer…

Excomungado pela Igreja Católica após questionar dogmas religiosos, o ex-padre Roberto Francisco Daniel, 49, celebrará neste domingo (25) a primeira de uma série de missas alternativas que ele pretende oferecer em Bauru, no interior paulista.

Padre Beto, como é conhecido, alugou um salão num clube na cidade (a 329 km de São Paulo) e vai contar com a ajuda de voluntários para as celebrações. As missas serão celebradas todos os domingo e serão abertas a todos, independentemente do estilo de vida e comportamento.

“A única doutrina será o amor”, afirma o ex-padre, expulso da igreja após defender a união entre gays e questionar dogmas e tradições.

Entre os motivos que o levaram à excomunhão, o ex-padre defendeu, por exemplo, o casamento entre gays. No comunicado em que oficializou a excomunhão do ex-padre, o Vaticano pediu aos católicos que não participem dos cultos liderados por Beto.

As missas de Padre Beto serão parecidas com as que ele celebrava antes da excomunhão. Ele usará túnica e casula (veste tradicional de sacerdotes e bispos), oferecerá a comunhão e fará sermão. Mas decidiu não fazer a oração da comunidade, por considerá-la artificial. Também retirou a profissão de fé.

“A celebração já é a profissão de fé”, explica. O religioso diz ainda que seu culto será mais informal que os tradicionais. Ele vestirá a túnica e a casula no altar, na frente de todos, por exemplo. Também não rezará em nome do papa, pois não pertence mais à igreja.

O dinheiro ofertado pelos frequentadores irá pagar o aluguel do bufê e as hóstias. Beto não receberá salário. Os músicos e amigos que ajudam na organização também atuarão como voluntários.

O religioso diz que decidiu voltar às missas, mesmo excomungado, por necessidade de seguir sua vocação.

“Minha vocação é evangelizar, semear a proposta revolucionária que Cristo pregou: a comunhão e a partilha entre os seres humanos.”

Beto diz que recebeu muitos pedidos para voltar às celebrações. Na opinião dele, as pessoas sentem falta de uma reflexão mais crítica sobre o evangelho.

Apesar das missas alternativas, padre Beto diz que não tem intenção de fundar uma nova igreja. “Não acredito mais nessa proposta. O Brasil está cheio de igrejas e elas só causam divisão”, diz.

A polêmica com a igreja continuou mesmo depois da excomunhão. Padre Beto gravou um vídeo em que “conversa” com o papa Francisco e faz vários questionamentos sobre a punição determinada pela Igreja Católica.

SEGUIDORES

Mesmo expulso da igreja, padre Beto levará alguns dos fieis para suas celebrações. Uma delas é a advogada Ondina Rafael, 71, que era frequentadora assídua das missas do padre excomungado e sente falta delas. Por isso, não vai perder as missas alternativas.

“Sou atuante há mais de 60 anos na igreja e digo que ele é o melhor pregador que conheci até hoje”, elogia. “É capaz de fazer com que as pessoas não só conheçam, mas passem a viver o evangelho.”

Além dos questionamentos das tradições católicas, Beto chamava a atenção na época de padre por causa do estilo fora dos padrões. Usa piercing, frequenta bares e veste camisetas com estampas de Che Guevara.

Fã do religioso, a pipoqueira Maria Inês Faneco vai levar seu carrinho para a rua em frente ao bufê no domingo, como fazia em frente às igrejas onde Beto estava.

Conhecida em Bauru por usar o muro de casa para recados e protestos, Inês pintou esta semana um aviso sobre a volta dos cultos do religioso polêmico.

Professor universitário e escritor, o ex-padre continua celebrando casamentos depois da excomunhão. Costuma ser contratado por casais gays, divorciados ou fiéis que querem receber uma bênção fora dos templos.

O religioso enfrentou dificuldades para marcar suas missas alternativas. Chegou a desmarcar a primeira celebração, prevista para o dia 18, porque os proprietários de um bufê de Bauru preferiram ficar longe da polêmica.

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