O especialista em finanças públicas, Raul Velloso, afirmou à Agência Estado que o “coração do PAC (Programa de Aceleração do Crescimento) foi atingido” com o fim da arrecadação de R$ 40 bilhões da CPMF e que o pacote fiscal anunciado pelo governo na quarta-feira deve afetar em grande parte os investimentos oficiais em infra-estrutura.
Velloso também se mostra reticente com a possibilidade de o governo cumprir a meta de 3,8% do PIB para o superávit primário para este ano, o que foi manifestado no final de dezembro pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva. “É muito difícil que o governo atinja aquele objetivo, pois é expressiva a perda das receitas que eram obtidas pela CPMF”, afirmou. “Vamos aguardar os detalhes das ações que o Poder Executivo deve adotar sobre os cortes de despesas para estimar quanto o superávit será afetado. Se as medidas do governo forem fracas, sobem as chances do superávit primário atingir um nível bem inferior à meta em 2008.”
De acordo com o especialista, o impacto negativo da redução dos investimentos públicos em infra-estrutura interfere na perspectiva de crescimento do País de longo prazo, pois não estimula o setor privado a elevar a Formação Bruta de Capital Fixo.
A menor velocidade dos investimentos, indiretamente, tende a influenciar também a política monetária administrada pelo Comitê de Política Monetária (Copom), pois como o Produto Interno Bruto (PIB) potencial está em 4,3%, de acordo com o Ipea, e a economia deve ter crescido 5,2% em 2007, como estima o Banco Central, movimentos de avanço da demanda pressionam a inflação para cima e colocam em risco o cumprimento da meta para 2008.
De acordo com o relatório de inflação de dezembro do BC, a previsão para o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) em 2007 subiu de 4% para 4,3% e para 2008 aumentou de 4,2% para 4,3%. A projeção para 2009 da instituição oficial é de que o indicador deve atingir 4,3%, taxa bem próxima do objetivo central de 4,5% estabelecido pelo Conselho Monetário Nacional.