sexta-feira, 20 de setembro de 2024
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Os novos caras pintadas

Pode até ser que o grupo que protesta contra o aumento das tarifas de ônibus, metrô e trem em São Paulo não alcance seu intento inicial, de diminuir o preço…

Pode até ser que o grupo que protesta contra o aumento das tarifas de ônibus, metrô e trem em São Paulo não alcance seu intento inicial, de diminuir o preço das passagens, mas certamente já alcançou um grande feito.

Longe de concordar com os excessos e sem querer entrar no mérito dos protestos, penso que os participantes deixaram bem explícito que o povo ainda consegue, quando quer, gritar e dizer basta.

O simbolismo é que, embora capitaneado por um governo populista e que se autodenomina de esquerda, a população acompanha, silenciosa e resignada, as notícias de que nem tudo vai bem no país varonil, porém, assim como os caras pintadas saíram às ruas para derrubar o presidente Collor, mais uma vez os estudantes dão o tom dos protestos.

Para aqueles que não se lembram, em agosto e setembro de 1992 jovens estudantes pintaram o rosto de verde e amarelo e organizaram passeatas pelo impeachment do então presidente Collor, acusado pelo próprio irmão de cumplicidade com seu tesoureiro de campanha e de cometer crimes como enriquecimento ilícito, evasão de divisas e tráfico de influência.

A pressão da sociedade já tinha obrigado que o Congresso instalasse uma CPI e com o avanço das investigações, todas as passeatas foram marcadas pela irreverência, diversidade política e apartidarismo, onde os estudantes faziam questão de rechaçar a participação de partidos políticos, num sinal claro de que os partidos não controlavam as reivindicações dos estudantes. O resto faz parte da história e o resultado todos sabemos.

No protesto atual, já está provado que de nada adianta o uso da força e a repressão policial. A atuação policial deveria se limitar tão somente a observar o desenrolar dos acontecimentos. A linha de frente deveria ser assumida por negociadores tarimbados e pessoas de diálogo fácil. Quanto maior o grau de rigidez, maior a probabilidade do confronto. Daí para a baderna é um pulinho.

O movimento atual, que começou com os estudantes, ao que parece também fugiu do controle e se transformou numa revolta popular contra o aumento das tarifas, e pode acabar contaminado por outros temas, a demonstrar que os governos devem tratar assuntos de interesse público com muito mais sensibilidade, sob pena de provocar, volta e meia, reações contrárias e até exacerbadas da população.

Queiram ou não, a verdade é que o povo lutou, muito, para fazer valer o direito de se manifestar livremente. Então, vamos continuar lutando e exercendo esse direito conquistado a duras penas, porém, com responsabilidade e dentro da legalidade. Vida longa aos estudantes! Fora, arruaceiros!

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