sexta, 15 de novembro de 2024
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Organizador de “rolezinho” é morto por amigo

Conhecido por ajudar a promover “rolezinhos”, encontros organizados pelas redes sociais, principalmente, em shoppings da capital paulista e da Grande São Paulo, Leonardo Henrique Soares Alvarenga, de 16 anos, foi…

Conhecido por ajudar a promover “rolezinhos”, encontros organizados pelas redes sociais, principalmente, em shoppings da capital paulista e da Grande São Paulo, Leonardo Henrique Soares Alvarenga, de 16 anos, foi morto na madrugada desta segunda-feira (27), no Parque Guarani, na Zona Leste da cidade.

Segundo a polícia, o garoto foi atingido por um tiro na cabeça, disparado pelo funileiro Leonardo Pereira de Almeida, de 18 anos, amigo de Alvarenga. Os dois voltavam de uma festa acompanhados de outras quatro pessoas, todas de 17 anos, no carro de Almeida.

À polícia, o grupo disse inicialmente que foi abordado por dois motoqueiros que anunciaram o assalto e atiraram no menino. Após perícia no veículo, porém, foi constatado que o disparo tinha partido de dentro do automóvel.
Os cinco adolescentes foram novamente ouvidos e revelaram que Almeida tinha atirado no amigo ao “brincar” com uma arma emprestada.

O revólver calibre 38 pertencia a Robson dos Santos Lopes, de 30 anos, que foi preso em flagrante por porte ilegal de arma. De acordo com testemunhas, Lopes é traficante na região e amigo apenas de Almeida. O caso foi registrado no 32° Distrito Policial, em Itaquera, e os dois suspeitos de envolvimento estão detidos.

Popularidade

Ao G1, amigos de Leonardo Alvarenga revelaram que a família do menino está revoltada com primeira versão contada pelos colegas do garoto. Os parentes acreditam que o crime tenha sido premeditado, e alegam que ele foi morto por “inveja”.

Darlan Mendes, também responsável por promover rolezinhos pela internet, conheceu Alvarenga há três meses. Leonardo queria fazer parte da “Associação Rolezinho: a Voz do Brasil”, uma das organizações criadas após a polêmica dos encontros, da qual Darlan era membro. “Ele já era considerado um famosinho, tinha curtidas, fazia sucesso nas redes sociais. Ele veio me pedir para ajudar, para organizar”, conta.
Embora fossem amigos há poucos meses, Mendes diz que Alvarenga era um menino tranquilo e bastante empenhado nos eventos. Juntos, eles realizaram o rolezinho-manifesto em agosto deste ano, no Shopping Itaquera, na Zona Leste.

De acordo com a associação, cerca de seis mil pessoas compareceram para reivindicar o direito de circular no centro comercial. Mendes afirma que os adolescentes só podem entrar no estabelecimento após passar por revista dos seguranças e acompanhados por um responsável. Muitos já foram barrados por conta dos antigos episódios de tumulto e violência que ocorreram no início do ano.

“Os rolezinhos que estamos fazendo oficialmente, e estamos na décima edição, nunca tiveram atos de violência, tumulto, roubos. Conseguimos conscientizar os jovens com essa ação”, defende Darlan Mendes.

Ele também relata que o colega andava sempre bem vestido, com roupas e tênis de marcas conhecidas. Fã de MC Daleste, funkeiro assassinado durante um show em Campinas em julho de 2013, Leonardo Henrique Alvarenga sonhava em ser famoso.

Em sua página no Facebook, há diversos posts em que o garoto afirma que um dia será conhecido. Os amigos acreditam que ele tinha vontade de ser MC.

“Roleta russa”

Uma das testemunhas do crime comenta que o menino era bastante assediado pelo público feminino e, constantemente “provocado” por outros garotos. “Ele era tranquilo, não saia na intenção de brigar, mas sempre arrumavam briga com ele. Era famoso no Facebook, um menino de olhos claros, bonito, com bastante menina”, explica.

A jovem diz que era amiga de Leonardo Alvarenga, e de outras duas meninas que estavam no carro. Ela revela que conheceu Almeida naquela noite, durante a festa. Ainda conforme a testemunha, eles deixaram o baile por volta das 2h30 da segunda-feira, e foram para a casa de Alvarenga.

Em um dado momento, uma das jovens teria pedido para ir embora. Almeida teria combinado de levá-la para casa, mas antes teria que abastecer o carro. O grupo todo foi junto. No meio do caminho, o rapaz entrou em um rua escura, deserta, conhecida como ponto de tráfico na região, próxima à Avenida Jacu-Pêssego.

Na biqueira, o funileiro encontrou o amigo que portava a arma. “Todo mundo ficou com medo, assustado, mas ele estava emocionado em ver o revólver. Ninguém sabia que ele iria parar ali. O Leo pedia para a gente sair de lá, e dizia que esse cara não gostava dele.”
A adolescente ainda afirma que o dono da arma teria descarregado o revólver e simulado o disparo contra a própria cabeça, antes de emprestá-la. “O Leonardo Almeida pegou a arma, mirou para o nosso amigo, e perguntou se ele estava assustado. O Leo estava com cara de medo. De repente, vi um clarão na minha cara. Depois, olhei e vi que o Leo estava com um buraco na cabeça e o sangue escorrendo. Gritei e pedi para ele correr para o Pronto-Socorro, rápido.”

Alvarenga foi levado pelos próprios colegas para o Hospital Santa Marcelina de Itaquera. Ele foi socorrido, mas morreu um dia depois de ser baleado. De acordo com a jovem, ela e as demais testemunhas foram ameaçadas pelo atirador para não contarem a ninguém o que tinha ocorrido. “Ele falava: “Essa história não vai sair do carro, porque se sair vai todo mundo ser preso ou subir (gíria que significa morrer)”.

A menina soube que Alvarenga foi enterrado nesta quarta-feira (29). Ela não conseguiu ir à cerimônia porque a família do menino rechaçou a presença do grupo envolvido na morte. “Eu estou com muito medo das ameaças, não posso sair na rua. Medo pelos familiares virem na minha casa. Fiquei traumatizada, estou tendo pesadelo. Nós mentimos por medo.”
A associação dos rolezinhos pretende fazer homenagens ao garoto nos dias 1° e 8 de novembro, quando realizarão dois encontros na Zona Leste. “Esses dias serão dedicados ao Leonardo, que sempre nos ajudou”, afirma Darlan Mendes.

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