Com pouca notoriedade na imprensa, mas de relevante expressão no combate ao narcotráfico internacional, processos em andamento no Fórum de Votuporanga reforçam a presença da ‘rota caipira’ do crime organizado.
Uma investigação iniciada em 2021 mantém quatro processos ativos na Comarca, com 12 réus – homens e mulheres – de várias cidades e estados. A maioria foi presa, alguns estão foragidos e outros conseguiram liberdades provisórias.
Os integrantes dessa quadrilha começaram a ser presos durante a Operação Rota 310 da Polícia Federal de São Paulo, em 2021.
Em 11 fevereiro daquele ano um caminhoneiro foi preso na rodovia Euclides da Cunha (SP-320) com 184 quilos de pasta de cocaína. O carregamento de entorpecente avaliado em R$ 3 milhões (na época) vinha de Corumbá e seguia para Piracicaba.
O caminhão que transportava ferro foi interceptado na rodovia pela equipe do Tático Ostensivo Rodoviário (TOR), em Votuporanga. Os 180 tabletes da droga estavam escondidos sob a carga. Na ocasião, o TOR apoio a operação da PF.
De lá para cá a PF, Ministério Público e a Justiça continuam trabalhando no desmantelamento da quadrilha. Processos de investigação foram desmembrados e continuam tramitando na Comarca de Votuporanga. Em uma das últimas movimentações, no início deste mês, foi negada a liberdade para um dos presos.
Caminhoneiro alegou tratar de 10 filhos
O motorista de caminhão preso em Votuporanga foi condenado, ainda em 2021, a 9,4 anos de prisão. Durante depoimento à justiça à época, alegou ter transportado a droga por dinheiro, para cuidar dos 10 filhos, pois enfrentava dificuldades financeiras, o que foi rechaçado pelo juiz na sentença.
“….Interrogado ao fim da audiência, a fls. 462/3, L. retratou-se, anuindo, parcialmente, à imputação, a pretexto de que tem dez filhos e estava passando necessidades. Não é, todavia, justificável que, diante de apuros sociais, econômicos e financeiros, típicos de todo ser humano, alguém ingresse no mundo do crime, em especial do comércio de veneno destruidor, arrasando dependentes, famílias e sociedade, além de onerar órgãos públicos e privados de saúde. Expandido esse entendimento, a vida em comunidade tornar-se-ia inviável. Nada mais execrável (rectius, hediondo) do que sobreviver graças ao infortúnio alheio, sem escrúpulo. Não é plausível prover o sustento de numerosa prole, sacrificando milhares de incautos consumidores!…”, escreveu o juiz, que também classificou como ‘ousadia’ o motorista tentar atravessar dois estados transportando 184 quilos de cocaína no veículo.
A atuação de outros narcotraficantes em vários estados continua em investigação sigilosa, por isso a PF não comenta o caso.