Um grupo de especialistas independentes mandatado pela ONU denunciou, em um relatório divulgado parcialmente nesta segunda-feira (11), problemas de atrasos e falhas da OMS na gestão da crise de epidemia do ebola. O grupo “ainda não entende porque os alertas lançados em maio de 2014 não levaram a uma resposta adequada e séria”, segundo o texto do relatório preliminar. O documento final está previsto para ser entregue em meados de junho.
A Organização Mundial da Saúde (OMS) declarou estado de calamidade pública sanitária devido ao ebola somente em 8 de agosto. A epidemia atingiu 26 mil pessoas, principalmente em três países ocidentais da África, e provocou a morte de 10.900 pessoas na Libéria, Guiné e Serra Leoa.
Diante da lentidão da OMS em agir, os Estados-membros da organização pediram a um grupo de especialistas, em março, para analisar os motivos da reação tardia.
“Há um forte consenso em mostrar que a OMS não tem uma capacidade nem cultura suficientemente fortes para lidar com situações de emergência”, aponta o relatório. “Houve graves falhas nos contatos com as comunidades locais nos primeiros meses da epidemia”, aponta o documento.
“A OMS demonstrou uma grande fraqueza estrutural para responder às situações de urgência e a organização deve rapidamente reverter essa situação”, destaca o texto.
Recomendações
O grupo recomenda principalmente um reforço da capacidade operacional da OMS. Os estados-membros são orientados a criar um fundo de emergência, assim como uma força internacional de intervenção sanitária, que possa ser mobilizada rapidamente.
A organização também deve criar uma equipe multidisciplinar para responder a situações de emergência. Uma estrutura de comando dentro da OMS deve ser instalada o mais breve possível. O grupo recomenda que o Conselho Executivo da entidade tome essa decisão até janeiro de 2016.
Problemas para combater o ebola
O relatório evoca vários motivos para explicar a demora da OMS para responder à epidemia de ebola: a incompreensão do contexto diferente desta epidemia em relação a outras, informações pouco confiáveis em campo, negociações difíceis com os países envolvidos e problemas na estratégia de comunicação da OMS.
O documento também menciona as falhas dos sistemas de saúde muito frágeis dos países atingidos, a desconfiança da população, as fronteiras pouco controladas e uma forte mobilidade.
“É surpreendente constatar que foi preciso esperar até agosto ou setembro para reconhecer que a transmissão do ebola não poderia ser controlada sem a adoção simultânea e coordenada de medidas de vigilância, de mobilização das populações e de distribuição de material médico”, diz o texto.
A resposta internacional ganhou uma maior extensão em setembro quando o conjunto de sistemas da ONU reagiu e foi criada uma estrutura específica, a Missão das Nações Unidas para a luta contra o ebola.
Esse relatório preliminar será discutido na semana que vem, durante a Assembleia Mundial da Saúde, prevista para acontecer entre os dias 18 a 26 de maio.