Como se fosse inspirada na música “Ovelha Negra” da cantora Rita Lee, a moradora de Atibaia e a filha primogênita de Olavo de Carvalho, Heloísa de Carvalho Martin Arribas, de 52 anos, sempre se viu uma “pessoa muito diferente” da família. O escritor morreu na 2ª feira (24.jan.2022), aos 74 anos. Segundo ela, de covid-19. Deixou 8 filhos e a mulher Roxanne.
Heloísa soube da morte do pai pelas redes sociais. Foi acordada por volta de 1h30 com barulhos de suas cadelas Mel e Nina. Para passar o tempo depois de ter perdido o sono, entrou no Twitter. Na rede social, descobriu que seu pai falecera.
Ao Poder360, Heloísa afirmou que processou a morte de seu pai com naturalidade. Compartilhou a informação com o seu filho, André, e a seu marido, Alfredo.
O escritor foi enterrado na 4ª feira (26.jan.2022), em Petersburgo, na Virgínia, interior dos Estados Unidos. No dia, Heloísa estava em São Paulo, mas afirmou ao Poder360 que, se estivesse mais perto, “não iria ao enterro” de Olavo, como o chamou durante toda conversa.
Com uma história que se assemelha a muitos enredos familiares, a advogada disse que raras foram as conversas mais profundas com seu pai, mãe e irmãos.
“Eles sempre defenderam coisas absurdas, com esse fanatismo religioso e papos bem banais. Eu sempre me preocupei com questões sociais. Eles não. Os amigos são sempre daquela panelinha. Fora dali não abrem espaço para o diferente”.
Heloísa disse, que desde a sua infância, Olavo era um pai ausente e controlador. “Nas vezes que eu tentei algum papo, ele virava as costas e me largava. Realmente não queria saber”.
A advogada é a mais velha de outros 7 filhos do escritor, em ordem: filhos de sua ex-esposa Eugenia: Luiz Gonzaga, Tales, Davi. De sua 2ª ex-mulher Silvana: Maria Ignes e Percival. E de sua viúva Roxanne: Leilah e Pedro.
DE “ANJINHO” A “BANDIDINHA”
A advogada parou de falar com seu pai e seus irmãos “olavetes”, como ela se refere, em 2017. Isso aconteceu depois do lançamento do filme “O Jardim das Aflições”, estreado naquele ano. A obra narra sobre a vida e o pensamento do escritor.
Segundo Heloísa, o motivo do afastamento foi uma briga entre o diretor do filme, Josias Teófilo, contra o diretor de cinematografia, Daniel Aragão. Reclamava sobre questões financeiras e autorais relacionadas a obra. Na ocasião, Heloísa defendeu Daniel. Olavo apoiou Josias.
Até aquele momento, o escritor chamava Heloísa de anjinho e bonequinha. Segundo ela, “bastou desagradar, e ele começou a me chamar espermatozoide extraviado de Atibaia e bandidinha de Atibaia”.
“BALBÚRDIA”
A filha primogênita de Olavo analisou, ainda, como a personalidade influenciou politicamente o Brasil. Segundo ela, o resultado de sua influência foi a “balburdia que está o governo e o país”.
“O que essas pessoas não entendem, acredito que até por uma falta de capacidade intelectual, é que quando se diz que Olavo elegeu Bolsonaro, não é pela figura de ir à rua, mas uma estratégia de fazer campanha, falas e uniões com aliados”.
Segundo Heloísa, Olavo sempre quis ser famoso e influente. “Sempre foi uma pessoa narcisista e egoísta”. O que mudou para essa “obsessão” dar certo, segundo a advogada, foi o foco ao longo dos anos.
“Ele tentou o jornalismo, e não conseguiu. Tentou a astrologia, acabou não conseguindo porque não era honesto como astrólogo, sócios e amigos. Deu calote em muita gente. Depois começou com esse papo de filosofia. Ao longo dos anos foi adquirindo mais experiência e se aliando a pessoas de renome e poder financeiro, e chegou onde chegou”.
Para a escritora, que lançou o livro “Meu pai, o guru do presidente: a face ainda oculta de Olavo de Carvalho”, Olavo formou uma geração de “irracionais, raivosos, fanáticos que não sabem conversar”.
PT E O ANTIPETISMO
Na contramão do pai que propagava o antipetismo, Heloísa é filiada ao PT (Partido dos Trabalhadores) desde junho de 2021. Ao Poder360, disse que está “conversando com o partido” sobre a possibilidade de disputar as eleições de 2022.
Afirmou que dialoga com o partido para concorrer ao cargo de deputada estadual ou “alguma dobradinha, até por questão de cota, potencial de voto”. E salientou: “Vou fazer campanha para o Lula, óbvio”.
Eleitora do partido desde os anos 90, Heloísa afirmou ainda que pensa em doar o dinheiro de sua herança para a sigla ou alguma ação social.
“Na campanha de Lula não vão ser mil reais que vai fazer alguma diferença, mas acredito que faz diferença doar para o padre Júlio Lancelloti”.