Viajar por galáxias distantes e desbravar um universo lúdico cheio de aventuras. É isso que um projeto desenvolvido no Hospital de Amor em Barretos (SP) busca proporcionar, por meio do uso de óculos de realidade virtual em 3D, a crianças em tratamento contra cânceres.
Em meio a um dia a dia repleto de desafios reais e por vezes desconfortáveis, como as inúmeras trocas de curativos, injeções e sondas, o projeto “O Chamado do Herói” tira os pacientes do hospital sem precisar que eles pisem fora da instituição.
Aos 12 anos, Arthur Cerqueira Barros foi um dos dez pacientes que pôde vivenciar a experiência. Enquanto passava por procedimentos padrões de quimioterapia em uma sala de cirurgia, ele percorria com os olhos um universo desconhecido. O garoto garante que tudo foi encarado de forma mais leve que o habitual.
“Foi muito divertido, muito legal. Eu nem percebi na hora que cheguei na sala de cirurgia. Eu só percebi na hora que deu sono, que foi a anestesia. É mais divertido com os óculos”, diz.
Sensações reais
Criado por médicos do hospital em parceria com uma empresa de desenvolvimento de games, o projeto une imagens apresentadas no óculo com sensações reais que fazem parte da rotina dos procedimentos.
Os profissionais conseguem tornar os momentos mais lúdicos e com maior facilidade para assimilação das crianças, aponta o diretor da empresa de games, Cris Silva.
“A gente consegue trazer para o lúdico tudo aquilo que a criança vai passar no mundo real. Por exemplo, a gente tem que gameficar a sensação tátil do algodão gelado com álcool. Como a gente vai fazer isso? A gente vai achar uma desculpa para trazer isso de forma mágica dentro do jogo com algum personagem vindo e usando uma magia de gelo”, explica.
Ainda de acordo com Silva, o projeto passa por etapas de aprimoramento em sua estrutura para que possa melhorar ainda mais a experiência dos pacientes. O objetivo é que o uso do óculos seja ampliado aos 2 mil procedimentos realizados por ano no hospital.
“Esse projeto pode ser utilizado em absolutamente qualquer fase do tratamento. A gente consegue trazer música, sons, interação, histórias, narrativas e a nossa ideia é fazer com que a criança se sinta realmente um super herói”, diz.
Mais qualidade no tratamento
Os benefícios trazidos pela intervenção tecnológica podem ser percebidos não só pela forma positiva como o projeto tem sido aceito, mas também pelos reflexos no tratamento das crianças.
Segundo o médico pediátrico Wilson de Oliveira Júnior, a realidade virtual atinge diretamente o humor dos pacientes, impactando em aspectos como a ansiedade e aceitação do tratamento.
“Elas passam por um tratamento de câncer, um tratamento oncológico, que elas são furadas 30, 40 vezes no mês. Se ela é induzida feliz, ela acorda mais feliz, sem ansiedade e isso só traz benefícios para ela, tanto nesse momento, quanto a médio e longo prazo”, diz.