segunda, 25 de novembro de 2024
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O que se sabe sobre a flurona?

Nos últimos dias, uma palavra vem se tornando cada vez mais rotineira nos noticiários: flurona. Trata-se do termo usado para designar uma infecção simultânea pelo coronavírus e pelo vírus influenza,…

Nos últimos dias, uma palavra vem se tornando cada vez mais rotineira nos noticiários: flurona.

Trata-se do termo usado para designar uma infecção simultânea pelo coronavírus e pelo vírus influenza, causador da gripe. A palavra é uma junção de “flu”, que significa gripe em inglês, com corona.

Diferentemente do que muitos possam pensar, o virologista e professor da Universidade de Brasília Bergmann Ribeiro explica que a coinfecção com dois vírus não é incomum na medicina e não indica, necessariamente, que o paciente desenvolverá formas mais graves das doenças.

Os sintomas da covid-19 e da gripe são semelhantes e, por isso, só mesmo exames de laboratório podem confirmar casos de flurona.

“Especialmente na temporada de gripe, a infecção mista é algo que certamente veremos, mas serão casos indetectáveis, a menos que seja feita a busca específica pelo genoma do vírus da gripe”, explica o microbiologista José Antonio López Guerrero, diretor do Departamento de Cultura Científica do Centro de Biologia Molecular Severo Ochoa e diretor do Grupo de Neurovirologia da Universidade Autônoma de Madri.

Primeiros casos foram registrados em 2020

Apesar de ser um termo relativamente recente para maioria das pessoas, a flurona não chega a ser uma novidade. Ainda em fevereiro de 2020, antes mesmo de ser declarada a pandemia de covid-19, a revista americana The Atlantic relatou o caso de um homem em Nova York diagnosticado simultaneamente com coronavírus e gripe. A esposa e os dois filhos dele também tiveram flurona.

Depois, outros casos foram descobertos durante estudos em hospitais dos Estados Unidos e da China. Apesar disso, ainda se sabe pouco sobre a condição.

Uma coinfecção torna a situação mais grave?

Não necessariamente. Ter dois vírus simultaneamente no corpo humano não significa que eles se somam clinicamente. “Pode ser ocasionalmente mais sério, mas não necessariamente”, afirma Guerrero.

No primeiros caso de flurona em Israel, anunciado na semana passada, uma mulher grávida não vacinada praticamente não apresentava sintomas. Ela só foi diagnostica com flurona porque exames para os dois patógenos foram realizados.

“Os sintomas de uma infecção mista variam, dependendo da carga viral com a qual se está infectado com cada um dos vírus e também da idade, estado imunológico e outras patologias”, enumera Guerrero.

Também pode influenciar o quadro do paciente se a pessoa já teve uma infecção por coronavírus e se foi vacinada contra um ou ambos os vírus.

Por outro lado, Adrian Burrowes, médico da família e professor assistente na University of Central Florida, afirmou que estar infectado simultaneamente com gripe e covid-19 pode ser “catastrófico para o sistema imunológico”. Em entrevista à CNN em setembro, ele disse acreditar que a flurona poderia elevar a taxa de mortalidade na pandemia.

Nadav Davidovitch, diretor da Escola de Saúde Pública da Universidade Ben-Gurion em Israel, disse, também em entrevista à CNN, que ainda não há dados suficientes para afirmar que as taxas de hospitalização são mais altas em pessoas com flurona em relação a aquelas com apenas um dos dois vírus.

Flurona pode agravar a covid-19?

Os vírus da gripe e o que provoca a covid-19 não compartilham informações. Por isso, a proliferação de casos de flurona não aumenta o risco de o coronavírus evoluir para formas mais perigosas.

“São vírus de espécies completamente diferentes, que usam receptores diferentes para infectar, e não há muita interação entre eles”, explica o epidemiologista Abdi Mahamud, da Organização Mundial da Saúde (OMS).

Qual é a melhor forma de prevenir uma possível coinfecção?

O melhor a fazer é seguir observando as medidas de proteção e higiene que já fazem parte da rotina devido à covid-19: distanciamento, lavar bem as mãos, evitar ficar em locais mal ventilados e, claro, a vacinação – se possível contra as duas doenças (covid-19 e gripe).

Mutações do coronavírus Sars-Cov-2 tendem a ocorrer especialmente em pessoas não vacinadas, nas quais o patógeno tem maior probabilidade de se replicar.

Por isso, o principal objetivo para combater a propagação do coronavírus deve continuar sendo “vacinar todos para que as chances de mutação sejam reduzidas”, explica Mahamud.

Por que há tantos casos de flurona atualmente?

O especialista da OMS considera normal o surgimento de mais casos de flurona do que na estação anterior, devido ao maior relaxamento em muitas sociedades em relação à pandemia e à redução nas vacinações contra a gripe em alguns países.

As medidas de proteção e higiene não ajudam a prevenir apenas o coronavírus, como também várias outras doenças, entre elas, a gripe. E vários países começaram a relaxar as medidas de proteção, por exemplo, eliminando a obrigatoriedade de máscara em vários lugares e permitindo reuniões de grupos maiores de pessoas, além de eventos. A isso, se soma a tradicional temporada de gripe, sobretudo nos países do Hemisfério Norte, onde é inverno.

Para Guerrero, certamente já houve mais casos de flurona do que os noticiados, mas que não foram descobertos. A explicação é simples: se uma pessoa com certos sintomas de gripe é diagnosticada com coronavírus, por exemplo, através de um teste positivo, automaticamente se para de procurar por outros patógenos. Por isso, “as infecções mistas podem ser subdiagnosticadas”, explica o especialista.

Há casos no Brasil?

Sim, e eles existem já há mais de um ano. Em São Paulo, a Secretaria Municipal da Saúde informou que desde 2020, dados do Sistema de Vigilância Epidemiológica da Gripe indicam 24 registros da dupla infecção.

No Ceará, foram confirmados três casos em dezembro de 2021: um homem de 52 anos, que não precisou ser hospitalizado, e duas crianças de um ano de idade, que já receberam alta.

Casos de pessoas que contraíram covid-19 e gripe ao mesmo tempo estão sendo investigados pelas secretarias de Saúde de vários estados, como no Rio de Janeiro.

O virologista Bergamnn Ribeiro relata que, com as festas de fim de ano e a não obrigatoriedade de uso de máscaras em ambientes externos, o contágio subiu naturalmente. Para ele, a redução do número de vacinados contra a gripe também é uma das causas para o registro de casos de flurona no Brasil.

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