O último programa “Profissão Repórter” exibiu matéria sobre a desativação do aterro metropolitano de Gramacho.
O aterro ficou conhecido mundialmente nas telas do cinema e foi desativado no mês passado. Para quem não sabe, funcionou por ininterruptos 34 anos e era o maior lixão a céu aberto da América Latina (aliás, o Brasil é especialista em ser o maior do mundo em várias situações degradantes, essa é mais uma delas).
Localizado no município fluminense de Duque de Caxias, durante esse tempo o aterro recebeu o despejo de lixo urbano, químico hospitalar e industrial das cerca de 200 fábricas que compõem o pólo industrial da Baixada Fluminense, acumulando cerca de 60 milhões de toneladas de detritos. Um estrago que perdurará por séculos, se é que será reparado algum dia
A realidade nua e crua mostrada na reportagem confirmou, uma vez mais, que o Brasil é especialista em transformar boas idéias em operações malsucedidas. Isso porque, embora a iniciativa de desativação do lixão seja excelente, a forma como foi conduzida deixou a desejar.
Primeiro, os antigos catadores de lixo que gravitavam no entorno do lixão foram indenizados de uma só vez. Sim, todos eles foram cadastrados e receberem um crédito de cerca de R$ 13 mil em contas correntes abertas especialmente para esse fim.
A primeira coisa que a maioria daquelas pessoas fez com o dinheiro foi comprar ou dar entrada na compra de uma casa própria. Óbvio que o dinheiro não deu e nem poderia ser diferente. Essa foi a maior falha do programa de desativação.
Se o governo cadastrou os catadores, não é preciso ser nenhum especialista para descobrir que a falta de moradia decente era um dos mais graves problemas daquelas pessoas.
Deveria, então, ter promovido o processo de desfavelamento e instalado essas famílias em casas construídas em conjuntos habitacionais. Detalhe, os catadores iriam pagar pelas casas que receberiam, como, aliás, acontece com todo trabalhador. Mais ainda, o governo deveria dividir o pagamento da indenização em parcelas, para que o dinheiro não se esvaísse de um dia para o outro, dando condições para que os catadores fossem sendo readaptados ao mercado de trabalho e recebendo mensalmente um “salário” que mantivesse um mínimo de dignidade. Simples assim, poderia dividir o valor da indenização em salários mínimos, pagando mensalmente.
Nesse ínterim, os trabalhadores teriam que ser, obrigatoriamente, submetidos a programas de qualificação profissional, para que pudessem ser inseridos gradativamente no mercado de trabalho. A prefeitura havia prometido que faria essa capacitação, mas, como sempre, ficou só na promessa, para infelicidade nossa.
Do jeito que foi feito, os catadores receberam o dinheiro, vão gastá-lo e continuarão sendo catadores de lixo, certamente em outro lixão existente aos montes ali mesmo nas proximidades de Gramacho. E o ciclo continua, sem fim.