segunda, 18 de novembro de 2024
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O apocalipse está chegando? O que dizem as religiões

Quem não estava em nenhum retiro espiritual nos últimos dias, ou em algum lugar afastado e sem internet, com certeza viu um dos principais memes deste carnaval. Foi um diálogo…

Quem não estava em nenhum retiro espiritual nos últimos dias, ou em algum lugar afastado e sem internet, com certeza viu um dos principais memes deste carnaval. Foi um diálogo durante a apresentação das cantoras Ivete Sangalo e Baby do Brasil, em Salvador (BA). De um dos camarotes, Baby do Brasil declarou: “todos atentos porque nós entramos em apocalipse, o arrebatamento tem tudo para acontecer entre cinco e dez anos”.

E a resposta de Ivete, que estava em um trio elétrico, não poderia ser mais surpreendente: “eu não vou deixar acontecer porque não tem apocalipse certo quando a gente maceta o apocalipse!” E puxou o rit “Macetando”, um dos principais sucessos deste verão.

Os vídeos do diálogo inusitado viralizaram rapidamente e geraram muitas brincadeiras na internet. Mas, também, curiosidade. As buscas no Google pelos termos “apocalipse” e “arrebatamento” dispararam. Mas, afinal, o que significa tudo isso?

Apocalipse é último livro da Bíblia, atribuído ao apóstolo João, e que teria sido escrito por volta do ano 100 d.C., quando ele estava exilado pelo império romano em Patmos, uma ilha da Grécia. Considerado um dos livros mais complexos das escrituras, o apocalipse traz uma linguagem figurada, o que dá margem para diversas interpretações.

Já o arrebatamento é uma teoria bem mais recente. Começou no século 19, na Inglaterra, passou pelos Estados Unidos e chegou ao Brasil por meio de missionários. Atualmente, grande parte da igreja evangélica brasileira e até alguns seguimentos da igreja católica acreditam que, a qualquer momento, muitos cristãos vão ser arrebatados, ou seja, vão desaparecer. Esse grupo será levado para o céu, para ser poupado de um tempo de muito sofrimento, chamado de grande tribulação. Durante esse período, o mundo será governado por um líder maligno, o “anticristo”, que vai perseguir os cristãos que ainda estiverem por aqui. Só depois disso é que chegará o fim dos tempos, com a volta de Jesus e o estabelecimento da paz mundial.

A doutrina do arrebatamento ultrapassou as paredes das igrejas e invadiu a cultura pop. O desaparecimento repentino de grande parte da população é o tema da franquia “Deixados para Trás”, que já conta com seis filmes, sendo que o último, “O início do fim”, foi lançado em 2023. Os roteiros foram baseados em uma série de livros com o mesmo nome, escrita pelos norte-americanos Tim Lahaye e Jerry B. Jenkins.

Mas essas interpretações da Bíblia estão longe de ser uma unanimidade entre os religiosos, como explica o padre Rodney Mendes, da paróquia Imaculado Coração de Maria, de Araçatuba, SP. “Muitos utilizam o apocalipse para uma visão muito fatalista da história e, ao mesmo tempo, é uma forma de não se comprometer com a mudança da realidade. Então é muito mais fácil acreditar que Deus vai resolver tudo”, diz.

O padre também lembra que não é possível entender uma obra sem saber quando e para quem ela foi escrita. “Quando João escreve o apocalipse, ele está diante de um cenário muito concreto, que é a perseguição dos cristãos pelos imperadores romanos. Na visão dele, os imperadores estão a serviço da besta, ou seja, estão a serviço do mal, para destruir a mulher, que é a igreja. Por isso, João escreve a carta para consolar os cristãos perseguidos na época e dizer que a vitória final é sempre de Deus.”

O teólogo, pastor e professor da EBT (Escola Brasileira de Teologia) João Berlofa concorda com essa interpretação. Para ele, muitas previsões do apocalipse bíblico já aconteceram quando a igreja foi duramente perseguida pelo império romano, nos primeiros séculos da era cristã. Mas ele completa que existem situações atuais que podem ser identificadas com o texto do apóstolo João.

“O apocalipse é a revelação daquilo que está oculto. Essa revelação tem a raiz no teatro grego, e tem o sentido de tirar o véu, de abrir as cortinas para que o espetáculo possa ser revelado. Se a gente olhar para a nossa situação social, para nossa situação política, para a nossa situação religiosa, vamos enxergar religiosos utilizando o nome de Deus para ganhar dinheiro, políticos utilizando a máquina pública pra conseguir cada vez mais poder e desigualdades sociais cada vez maiores. Enquanto isso, a igreja está atrás de uma cortina de fumaça chamada apocalipse, olhando para o céu e esperando Jesus voltar, enquanto o apocalipse está acontecendo debaixo do nariz dela”.

O diálogo das cantoras também repercutiu entre líderes de religiões de matriz africana. O pai de santo Leandro Cândido, que é umbandista e iniciado no Candomblé, lembra que a crença no apocalipse está ligada às doutrinas católica e evangélica. Mesmo assim, ele tem uma opinião pessoal sobre o assunto. Para ele, não existe um fim dos tempos, mas uma transição de eras, o fim de uma época para o início de uma nova, sempre voltada para a evolução espiritual de toda a humanidade.

APOCALIPSES DO PASSADO

Previsões sobre o apocalipse e o fim dos tempos sempre acompanharam a humanidade. Os mais velhos certamente lembram do medo da virada do milênio. Até o ano de 1999 muitos citavam uma suposta previsão do vidente francês Nostradamus (1503 – 1566) que teria afirmado que “de dois mil não passarás”. Passamos!

Antes de 2012, o temor era em relação ao calendário maia, que apontaria o dia 21 de dezembro de 2012 como o último dia da humanidade. Hoje se sabe que os maias contavam o tempo em ciclos e que essa data era apenas mais um fim de ciclo para início de outro.

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