Entre 1980 e 2015, o número de médicos no estado de São Paulo cresceu 3,7 vezes mais que a média de crescimento da população, apontou o estudo Demografia Médica Paulista, divulgado hoje (14) pelo Conselho Regional de Medicina do Estado de São Paulo (Cremesp).
Enquanto a população cresceu 77,92% nesse período, o número de médicos subiu 286,89%, somando 123.761 profissionais no estado, o que corresponde a 2,79 profissionais para cada mil habitantes.
O índice supera a média nacional (2,1 médicos por mil habitantes), porém é menor em comparação ao registrado no Distrito Federal (4,9) e no Rio de Janeiro (3,75).
“Tem aumentado expressivamente o número de médicos no estado de São Paulo. Em cinco anos, tivemos o acréscimo de 25 mil médicos no estado e de 12 mil especialistas”, disse Mário Scheffer, professor da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo e coordenador da pesquisa.
Distribuição desigual
Apesar de o número de médicos no estado ultrapassar o de alguns países desenvolvidos, a distribuição é desigual. A região com o maior número de médicos por habitante é Ribeirão Preto, com 4.817 profissionais (3,32 médicos por mil habitantes), seguido pela região da Grande São Paulo, com 64.244 médicos (média de 3,05 médicos por mil habitantes).
Já as regiões com as menores médias são: Registro, no Vale do Ribeiro, com 245 profissionais (0,86 médicos por mil habitantes) e São João da Boa Vista, com 1.123 médicos (1,37 médicos por mil habitantes).
“Temos mais médicos por mil habitantes que o Reino Unido, Estados Unidos e Canadá. Mas isso não significa que esses médicos estão à disposição da população que precisa e por várias razões: por questões políticas, de remuneração, condições de trabalho e de organização do sistema de saúde”, disse Scheffer.
Segundo o coordenador, a pesquisa aponta concentração dos profissionais na capital. “Para se ter uma ideia, quase metade dos médicos está na capital, onde moram 25% das pessoas do estado”.
“A segunda desigualdade tem a ver com o funcionamento do sistema de saúde, com a relação entre público e privado. No estado, temos muitas pessoas com planos de saúde, 40% têm saúde suplementar. Na capital, isso sobe para 60%. O setor privado absorve muito a força de trabalho médica em função de remuneração e de condições de trabalho”, explicou Scheffer.
O estudo constatou ainda que as mulheres ganham menos que os homens e desigualdades na distribuição dos profissionais por especialidade médica.
Essas desigualdades, segundo Scheffer, acabam prejudicando principalmente a população do interior do estado, das periferias e quem depende da rede pública. “No momento em que temos o desfinanciamento e um desmonte da rede pública e um incentivo ao aumento privado de planos, a tendência vai ser piorar essa desigualdade e, mais ainda, faltar médicos, mesmo com a abundância de médicos”.
Ajuste fiscal
Segundo o presidente do Cremesp, Mauro Aranha, economistas consultados pela entidade preveem uma perda de R$ 400 bilhões para a saúde em 20 anos com ajuste fiscal proposto e debatido pelo governo. “Teremos um orçamento a menos e isso significa que, com o que gastamos hoje em saúde – cerca de R$ 100 bilhões [por ano], a cada cinco anos teremos um ano a menos de financiamento”.
Ele criticou também a proposta do governo de criar um plano de saúde popular. “A implementação de planos populares de saúde significa que haverá uma precarização da saúde pública e aumento da fatia da saúde privada e quem sofrerá será justamente a população mais vulnerável que não terá subsídios para comprar um plano de saúde popular”.
Segundo Aranha, as desigualdades podem ser corrigidas com políticas públicas.
Feminização
O número de médicas cresceu em todo o estado nos últimos anos, embora a maioria da categoria seja formada por homens (55,3% do total). Apesar da maior presença masculina, o coordenador da pesquisa afirma que está ocorrendo uma feminização da carreira, já que as mulheres prevalecem entre os profissionais mais jovens, com idade inferior a 25 anos, representando 58,1%. desse grupo. “Temos um fenômeno de feminização da medicina desde 2011. Entre os médicos recém-formados e novos médicos a maioria são mulheres”, disse Scheffer.
No entanto, elas ainda enfrentam dificuldades na carreira. “Elas recebem menor remuneração e isso tem a ver também com a baixa presença de mulheres em várias especialidades médicas, como as cirúrgicas, onde 80% são homens”, disse.
Especialidade médica
No estado, há 70.845 médicos especialistas. Desse total, 37,4% se concentram em quatro das 53 áreas médicas: pediatria, clínica médica, cirurgia geral e ginecologia e obstetrícia.
As quatro áreas com menor número de especialistas são medicina esportiva, radioterapia, cirurgia de mão e genética médica.