Estado mais rico do País, São Paulo tem 38,35% de seus alunos do 3.º ano do ensino fundamental com domínio do conteúdo de Matemática abaixo do esperado. Entre os estudantes, 14,72% alcançaram baixo nível de Escrita e 11,49% de Leitura, segundo os resultados da Avaliação Nacional de Alfabetização (ANA). O Estado obteve o segundo maior porcentual de alunos nos níveis mais altos de proficiência nas três áreas, mas, para especialistas em educação, o desempenho ainda é ruim e insatisfatório.
O porcentual de estudantes de São Paulo nos melhores níveis de proficiência ficou atrás apenas de Minas Gerais (em Leitura e Matemática) e Santa Catarina (em Escrita). Para Ilona Becskehazy, consultora em educação, os resultados desses Estados não são satisfatórios porque, além do baixo número de alunos nas faixas mais altas, as exigências desses níveis são muito pequenas. “O que se exige no nível mais alto ainda é muito básico. É um escândalo que São Paulo tenha apenas 20,24% de seus alunos com o mais alto índice de proficiência em Escrita, que tem como parâmetro que o aluno saiba escrever, mas não exige que formule frases ou textos com sentido”, diz Ilona. Para ela, os parâmetros da avaliação estão muito abaixo dos padrões de escolas particulares e ainda mais longe de parâmetros internacionais. “Nossas crianças estão queimando a largada. Com 8 anos elas já estão em desvantagem.”
Para Maria Márcia Malavasi, professora da Faculdade de Educação da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), São Paulo pouco se distingue dos demais Estados porque não tem uma política diferenciada para educação. “Apesar de ser o Estado mais rico, ainda faltam alimentação adequada para os alunos e professores, os salários são baixos e não há recursos pedagógicos suficientes. É toda uma combinação de fatores que não deveria existir.”
Wesley da Silva Teles, de 9 anos, está no 4.º ano e diz ter pena de alguns colegas de sua sala que ainda não sabem ler e escrever. “Tenho cinco amigos que não conseguem, que têm muita dificuldade para fazer lição. Eu tento ajudar, mas é difícil para eles.” A mãe de Wesley, a auxiliar de limpeza Marlene da Silva, de 24 anos, disse que o filho teve dificuldades no começo da alfabetização e, se não fosse pela ajuda de familiares, provavelmente ainda não saberia ler e escrever. “Se a gente não fica no pé, a criança não aprende.”
Municípios
A primeira etapa do ensino fundamental, quando ocorre a alfabetização, é em sua maioria feita pelas redes municipais de ensino. Na capital paulista, 38,99% dos alunos têm nível de proficiência em Matemática abaixo do esperado – em Escrita, o porcentual é de 15,12% e em Leitura, de 12,14%. “São as péssimas ações na educação básica, nas redes municipais e estaduais, que estão colocando nossas crianças cada vez mais em desvantagem”, diz Maria Márcia.
Para Ilona, não há perspectiva de mudanças no cenário da educação básica, pois a políticas para a formação dos professores é insuficiente. Para ela, a Base Nacional Comum, apresentada anteontem pelo Ministério da Educação, também não traz nenhum horizonte positivo. “As exigências de aprendizado que foram colocadas não mudam em nada o que é ensinado.”
Procuradas pelo Estado, a Secretaria Estadual de Educação afirmou que as “políticas implantadas para este ciclo de ensino têm dado certo”. “São Paulo não apenas apresenta crescimento nas duas disciplinas, mas também dados superiores aos nacionais”, diz a nota. A Secretaria Municipal de Educação destacou os avanços alcançados pelo município no período. “Também em relação aos dados do Brasil, a Rede Municipal de Ensino apresenta um número maior de estudantes nos mais elevados níveis de proficiência.”
Confira a seguir as notas das secretárias, na íntegra:
“A Secretaria da Educação do Estado informa que os dados apontados pela ANA (Avaliação Nacional da Alfabetização) corroboram que as políticas implantadas para este ciclo de ensino têm dado certo. São Paulo não apenas apresenta crescimento nas duas disciplinas, mas também dados superiores aos nacionais. Em escrita, por exemplo, 85,25% dos estudantes se encontram no nível adequado, 45 pontos percentuais a mais em relação a 2013. Já em leitura, 88,51% dos estudantes têm domínio considerado suficiente, frente à 77,79% dos alunos em nível nacional. Em matemática, 61,65% dos alunos se encontram com conhecimento a partir do adequado, enquanto no Brasil apenas 42,93% dos estudantes têm entendimento básico da disciplina.
Vale destacar que em escrita, São Paulo dobrou seu desempenho no nível mais alto (5), passando de 2,58% para 20,24% dos alunos neste patamar. E conseguiu migrar os estudantes que estavam no nível 1 de ensino, o menos adequado, para os demais patamares, passando de 11,6% em 2013 para 4,95% em 2014.
As escolas paulistas alfabetizam seus alunos um ano antes do que o restante do País. De acordo com o último Saresp, que avalia as escolas da rede, 98,7% dos alunos do 2º do Ensino Fundamental já sabem ler e escrever. O bom desempenho é fruto de políticas educacionais já consolidadas com foco específico nos anos iniciais, como o programa Ler e Escrever e o Emai, ensino de Matemática para os anos iniciais.” “A divulgação dos dados da Avaliação Nacional da Alfabetização (ANA), nesta quinta-feira, 17, revela que o município de São Paulo, em comparação com o ano anterior, apresenta avanços. Também em relação aos dados do Brasil, a Rede Municipal de Ensino apresenta um número maior de estudantes nos mais elevados níveis de proficiência.
Para melhorar a qualidade da Educação oferecida aos alunos da Rede Municipal de Ensino, a Secretaria Municipal de Educação tem investido na formação de todos os professores, melhoria nas condições de trabalho docente, além de investimentos em recursos materiais para professores e alunos.
Na rede também acontece a Recuperação Contínua, feita dentro do horário das aulas, e a Recuperação paralela, com professor exclusivo, oferecida no horário diverso das aulas.
Neste ano foi instituído o Núcleo de Apoio e Acompanhamento à Aprendizagem (Naapa), cujo objetivo é apoiar os alunos que apresentam dificuldades de aprendizagem e que estejam em situação de vulnerabilidade, constituindo nos territórios uma rede de proteção social.”