Embora Neymar sempre negue em suas entrevistas e declarações oficiais, ser eleito o melhor jogador do mundo é um dos objetivos da sua carreira para os próximos anos.
E a Copa do Mundo da Rússia era vista como um “trampolim” para essa meta ficar mais próxima ou até mesmo ser alcançada em caso de título da Seleção Brasileira. A queda nas quartas de final, definida com a derrota para a Bélgica na última sexta-feira, atrasou esse planejamento e ainda o fez desperdiçar a melhor chance de elevar o seu status.
Intensidade é uma boa palavra para definir a segunda participação de Neymar em uma Copa. Após deixar o torneio de 2014 com fratura na vértebra, sofrida nas quartas de final, e assistir de longe a derrota por 7 a 1 para a Alemanha nas semifinais, o atacante chegou ao Mundial da Rússia com o objetivo de ser protagonista e recolocar o Brasil no caminho dos títulos. Só conseguiu – e em parte – alcançar a primeira meta.
O tratamento de obsessão dado por Neymar à Copa do Mundo o levou a contrariar até mesmo o seu clube, o Paris Saint-Germain, para passar por cirurgia no quinto metatarso do pé direito em Belo Horizonte, com Rodrigo Lasmar, o médico da Seleção Brasileira, no início de março, após se machucar na França. E também seria pela equipe nacional o seu retorno aos gramados, nos dois amistosos preparatórios para o torneio na Rússia com golaços marcados contra Áustria e Croácia.
Parecia um prenúncio de que Neymar brilharia pela Seleção na Copa, mas a sua história no torneio acabou sendo construída com percalços. Afinal, o atacante colecionou polêmicas com adversários e árbitros, além de ter alternado grandes atuações com excesso de individualismo. Foi, mesmo eliminado há uma semana do fim, um dos grandes personagens do Mundial da Rússia. Mas para o bem e para o mal.
Neymar se despediu da Copa com apenas dois gols marcados e uma assistência. Mas não foi por falta de tentativas, tanto que ele foi o jogador que mais finalizou – 27 vezes – e que mais acertou a meta adversária – 13 oportunidades. Além disso, foi o mais caçado em campo, com 26 faltas sofridas.
Esses números atestam que Neymar foi um dos protagonistas da Copa da Rússia, seja por suas tentativas de marcar gols ou pelo temor que provocou nos adversários, que apelaram para o antijogo para barrá-lo. Mas nem por isso significaram grandes atuações, sendo que a principal delas foi contra o México, quando marcou um gol e teve participação direta no outro, de Roberto Firmino. E também arrancou elogios por um bom desempenho coletivo diante da Sérvia.
Contra a Bélgica, porém, quando o Brasil mais precisou do brilho de Neymar para evitar a eliminação nas quartas de final da Copa, ele não apareceu, sendo anulado em diversos momentos por Fellaini. Ou parou na grande defesa de Courtois, já no fim do duelo da última sexta-feira, impedindo que o jogo em Kazan fosse para a prorrogação.
“Neymar mostrou franca evolução, estava no ápice de suas condições. A gente consegue perceber quando a cabeça pensa e o corpo responde. Voltou acima do que eu imaginava. Se você pegar as ações de alta intensidade, talvez ninguém tenha igual no Mundial”, defendeu o técnico Tite.
Para piorar, Neymar manchou a sua imagem quando todas as atenções do futebol estavam voltadas para ele. Foi assim na estreia contra a Suíça, quando abusou do individualismo, o que explica, em parte, as 10 faltas sofridas por ele. Além disso, reclamou demais da arbitragem no confronto contra a Costa Rica, além de ter desabafado contra críticos ao marcar um dos gols do sofrido triunfo.
Assim, embora tenha ampliado o seu papel de protagonista durante a Copa, também aumentou a coleção de desafetos ao expor o seu indiscutível talento, mas também atitudes comportamentais condenáveis, sendo constantemente classificado como simulador. E isso acabou se dando em um cenário que parecia favorável ao atacante da seleção brasileira, pois Cristiano Ronaldo e Messi, figuras dominantes no cenário do futebol na última década, haviam sido eliminados precocemente do Mundial.
Neymar, portanto, tinha o caminho “livre” para se consagrar sem a concorrência de dois jogadores já considerados lendas, mas não teve sucesso. E pode ter desperdiçado a sua melhor chance de ser eleito o melhor jogador do mundo nos próximos quatro anos, diante do fator potencializador da Copa do Mundo para a eleição da Fifa e a dificuldade que deve ter de alcançar o mesmo protagonismo pelo Paris Saint-Germain.
Adquirido pelo clube francês junto ao Barcelona em agosto de 2017 na maior transação da história do futebol, Neymar joga fora das principais ligas europeias e está em um time que não tem conseguido se destacar na Liga dos Campeões, como mostra a eliminação na última edição para o Real Madrid nas oitavas de final e com duas derrotas.
Essa dificuldade do PSG em elevar o seu status e a possibilidade de Cristiano Ronaldo trocar o Real Madrid pela Juventus voltaram a levantar rumores de que Neymar poderia voltar ao futebol espanhol pelo clube madrilenho. O Real, porém, negou na última semana a possibilidade de contratá-lo nesse momento e o próprio jogador entende ser importante ficar por mais um ano no time parisiense. Enquanto isso, precisará curar a ferida de uma nova decepção com a seleção brasileira e da chance desperdiçada de ameaçar o reinado do craque português e de Messi no futebol mundial.