Em um momento em que a discussão sobre a presença da mulher na produção cinematográfica nacional ganha fôlego, o 48º Festival de Brasília do Cinema Brasileiro traz apenas três filmes dirigidos por mulheres entre os seis longas-metragens e doze curtas que participam da mostra competitiva.
Nathália Teresa é uma das diretoras que veio a Brasília para concorrer a um candango. Nascida em Campo Grande e atualmente morando em Curitiba, ela assina o roteiro e a direção do curta “A Outra Margem”, que será exibido na mostra competitiva no próximo domingo (20). O protagonista de “A outra margem” é Jean, um homem duro que dirige sua caminhonete madrugada a dentro nas ruas da capital sul matogorsessne enquanto escuta mensagens de amor no rádio. “Nos festivais, muita gente se surpreende quando descobre que foi uma mulher que criou e dirigiu esse homem, com esse perfil. Como se pelo fato de eu ser uma mulher diretora, eu só pudesse retratar outras mulheres”, diz.
Para Nathália, o protagonismo das mulheres no cinema incomoda. “É um ambiente machista sim, que quer que a mulher fique ali apenas trabalhando como produtora ou atriz. A produtora do meu filme, a Ana Paula Málaga, sempre ouve que porque ela é uma mulher bonita ela consegue as coisas. Locações para imagem, por exemplo. Isso é diminuir o trabalho dela porque ela é uma profissional extremamente competente”, avalia.
O debate em torno da presença feminina na direção ganhou força este ano principalmente pela repercussão em torno do longa-metragem “Que horas ela volta?” dirigido pela cineasta paulistana Anna Muylaret. Com o anúncio de que o longa foi escolhido pelo Ministério da Cultura (MinC) para concorrer a uma vaga na categoria de Melhor Filme em Língua Estrangeira do Oscar, Muylaert se tornou a primeira mulher em 30 anos a ter seu filme reconhecido pelo Ministério da Cultura. A última cineasta foi Suzana Amaral por “A hora da estrela” em 1986.
Para a diretora e organizadora do BIFF-Brasilia International Film Festival, Anna Karina de Carvalho, a questão nao é propriamente de machismo, mas da dificuldade que mulheres passam para assumir posições de liderança em diversas áreas. “As pessoas fazem sempre uma ligação do cinema unicamene à arte, mas cinema também é arquitetura, engenharia, maquinário. Durante muito tempo se achou que somente os homens podiam lidar com a direção. Eu acho que nao é um problema só do cinema, mas de outros campos também”, opina.
“Nós temos diretoras excelentes como Tizuka Yamasaki, Sandra Werneck, Laís Bodanzky, além de uma turma nova como a Maria Ribeiro, Maina Person, Pietra Costa” . Anna Karina lembra ainda que a retomada do cinema nacional se dá através de uma mulher (Carla Camuari, diretora de “Carlota Joaquina – Princesa do Brazil”), que era atriz e escolheu também ir para detrás das câmeras. “Eu acho que as mulheres não têm que se intimidar. Se existe interesse genuíno na direção, tem que brigar para ocupar estes espaços”, conclui.
As outras diretoras que têm filmes na programação do 48º Festival de Brasília do Cinema Brasileiro são Priscila Pereira, que assina o curta “Dias de azar” (com exibição programada para o próximo domingo, 20), e Marja Calafange, que codirigiu com Aly Muritiba o curta “Tarântula” (já exibido no festival).