domingo, 24 de novembro de 2024
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Mulher fabrica sabonetes com o cheiro dos ex-namorados

Sissel Tolaas é uma artista norueguesa colecionadora de aromas. Ela viaja o mundo coletando odores, e acumula mais de 7 mil amostras, incluindo o cheiro de seus ex-namorados. Sissel já…

Sissel Tolaas é uma artista norueguesa colecionadora de aromas. Ela viaja o mundo coletando odores, e acumula mais de 7 mil amostras, incluindo o cheiro de seus ex-namorados.

Sissel já fabricou um queijo com bactérias da chuteira do ex-jogador David Beckham. E fez muita gente passar mal recriando o odor da Primeira Guerra Mundial.

A artista, que mantém o Re_Search Lab, um laboratório de pesquisa em Berlim, na Alemanha, tem formação em química, linguística e artes visuais.

Ela desenvolve projetos tanto artísticos, quanto científicos e comerciais, seja em parceria com museus, instituições acadêmicas ou grandes empresas. Todos envolvendo comunicação olfativa.

“Cresci no hemisfério norte, na Noruega, onde os cheiros são bastante neutros. E sentia falta de alguma coisa. Então, decidi redescobrir o mundo tentando usar o nariz para esse fim. Já que eu não podia ir à Lua, decidi que iria pelo menos para a Europa oriental”, contou Sissel em entrevista ao programa de rádio Outlook, da BBC.

Um trabalho inusitado
Em plena Guerra Fria, ela embarcou de trem para Varsóvia, capital da Polônia. E quando saltou na estação, seu olfato capturou imediatamente o cheiro de lignito (uma variedade de carvão), repolho cozido e um tipo bem específico de material de limpeza.

“Acho que alguma empresa tinha o monopólio. Onde quer que você fosse, qualquer espaço público, esse material de limpeza era usado, você podia sentir o cheiro dele em todo o Leste Europeu”, relembra.

Ela coletou então amostras de lignito, repolho e detergente para levar para casa.

“Eu coleto coisas reais. Sempre viajo com luvas, sacos plásticos e todos os tipos de dispositivos analógicos. Fiz uma espécie de lata que me permite preservar essas fontes de odores, sem deixar o oxigênio entrar no recipiente, para que eu possa preservá-los ao longo do tempo”, explica.

Foi assim que Tolaas começou a viajar por todo o Leste Europeu e cruzar a fronteira com a bagagem repleta de itens inusitados, como lixo e poeira. Cheiros nem sempre agradáveis, é verdade.

“Se a realidade é horrível, então (o cheiro) é horrível. O que eu faço é literalmente cheirar a realidade”, diz ela.

Mas a artista também coleta odores corporais. “Desde 2004, tenho acesso a dispositivos que me permitem coletar pequenas moléculas que são emitidas por fontes de cheiro. Você tem um smartphone que tira fotos. Eu tenho um dispositivo semelhante e tiro fotos da realidade invisível”, compara.

“Neste tipo de análise, coleto as moléculas e estou interessada em quebrá-las e replicá-las em compostos químicos”, explica.

Um odor repugnante
Ela revela ainda que guarda amostras dos cheiros de todos os ex-namorados. “Fiz até sabonete com alguns deles”, afirma.

É uma maneira bastante vívida de lembrar de alguém. “Se essa é uma forma de não ficar mais sozinho, então, por que não?”

Em um dos seus trabalhos mais marcantes, a artista recriou o cheiro da 1ª Guerra Mundial para uma exposição em Dresden, na Alemanha. Segundo ela, foi o odor mais repugnante que já criou em toda sua vida.

“Eu não tinha referências em termos de fontes (de cheiros), não havia ninguém com quem pudesse conversar que tivesse sobrevivido à Guerra. Então, eu literalmente tive que me basear em livros de história e relatos de militares que tiveram alguma experiência em guerra.”

“Literalmente, criei o cheiro mais repulsivo que consegui imaginar para representar o campo de batalha”, acrescenta.

O cheiro era uma forma de fazer as pessoas entenderem o verdadeiro horror da guerra. E parece ter surtido efeito. “O odor era tão repugnante que algumas pessoas chegaram a vomitar antes mesmo de abrirem a porta”, diz Tolaas.

Entre suas criações, destaca-se ainda o queijo fabricado a partir de bactérias coletadas da chuteira do ex-jogador de futebol David Beckham.

A iniciativa fazia parte de um projeto realizado em parceria com a Escola de Medicina da Universidade de Harvard, nos Estados Unidos, para enfatizar a importância das bactérias presentes na nossa flora.

A ideia, segundo Tolaas, era ilustrar que bactéria não é só algo nocivo, e o queijo, no caso, era uma analogia ao corpo humano. “Tivemos acesso a essas bactérias, as cultivamos e usamos para fermentar o leite e fazer queijo”, explica.

O queijo feito a partir do odor das chuteiras de Beckham foi servido para convidados em um evento dos Jogos Olímpicos Londres 2012. De acordo com ela, alguns convidados provaram, outros preferiram não se arriscar.

“Acho que mais uma vez se trata do poder da linguagem. Se você não soubesse de onde essa bactéria veio, você diria que este é um queijo como outro qualquer”, analisa.

Tática de defesa
E será que ela tem um cheiro preferido?

“Eu encontro moléculas que fazem coisas comigo que eu nunca pensei que poderiam fazer. Me deixam em estado de alerta, me fazem cair no sono. Quando eu viajo e tenho jet lag, coloco uma dessas moléculas na minha cabeça e tenho um desempenho incrível.”
Tolaas conta que também usa os cheiros como tática de defesa pessoal quando vai fazer, por exemplo, um trabalho de campo em uma área considerada perigosa.

“Eu coloco um cheiro fedorento de lixo e emito um odor tão repulsivo que ninguém ousaria se aproximar”, revela.

“Usamos perfume para atrair a atenção, por que não podemos usar um cheiro que diga: Olha só, me deixa em paz?”

Ela cita o exemplo dos gambás. “O que eles fazem é muito eficiente. Aprendi muito com eles.”

Tollas coloca a estratégia em prática, inclusive, para fugir de algumas rodas em eventos sociais.

“Quando vou a uma festa, toda bem vestida, e não quero falar sobre o tempo mais uma vez, coloco um cheiro que permite que isso aconteça. As pessoas ficam procurando a fonte do cheiro, e não fazem ideia de que seja eu. É simplesmente incrível”, diverte-se.

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