Uma mulher de 52 anos, com três filhos, está virando, nas redes sociais, um dos símbolos da tensão entre Rússia e Ucrânia, que estão à beira de uma guerra. Um grande número de soldados (seriam 100 mil) e blindados russos estão posicionados em diversos pontos da fronteira ucraniana.
Mariana Zhaglo, que se apresenta como pesquisadora de marketing, foi entrevistada nesta semana pelo jornal britânico “The Times”. Empunhando um enorme fuzil sniper diante da janela da cozinha do seu apartamento em Kiev (Ucrânia), ela disse que está disposta a fazer o que for preciso para defender seu país.
A ucraniana montou um posto de sentinela na cozinha, armando-se com um fuzil Zbroyar Z-15 (versão ucraniana do americano AR-15), capacete e equipamento de camuflagem enquanto se junta a dezenas de milhares de civis que se preparam em uma força de defesa para a iminente invasão da tropa de Vladimir Putin.
“Esta é a nossa terra. Vou começar a atirar”, disse ela no caso de lidar com forças invasoras russas. “Se chegar a hora, lutaremos por Kiev; lutaremos para proteger nossa cidade. Se houver necessidade de começar o tiroteio, começarei a disparar”, completou.
O rifle de Mariana é comum em caçadas realizadas por compatriotas.
“Mas nunca cacei na vida. Comprei esta arma depois de ouvir alguns soldados discutindo qual era a melhor”, explicou.
A ucraniana gastou o equivalente a R$ 7 mil com o Zbroyar Z-15, segundo a reportagem. Mas o investimento foi maior: ela também fez um curso de sniper (atirador de elite) e adquiriu outros equipamentos, como um bipé, uma mira telescópica e um silenciador, para garantir que ela pudesse ser o mais letal possível.
A porta-voz do Ministério das Relações Exteriores da Rússia classificou a história contada pelo “Times” como “fake news”, noticiou a agência Tass.
“O uniforme dela é britânico. Mais fake news sobre militantes”, afirmou Maria Zakharova. Segundo ela, Mariana é integrante das forças de defesa territorial da Ucrânia, um importante braço do Exército local, criado para proteger as vulneráveis fronteiras.
Entenda a crise
O ressentimento dos ucranianos em relação aos russos é antigo. Ele remonta à insignificante ajuda prestada por Moscou após a Segunda Guerra Mundial, no auge da crise de fome que varreu o país, então uma república soviética, e a péssima gestão durante o acidente na usina nuclear de Chernobyl, na Ucrânia.
Mesmo independente, a Ucrânia se manteve na esfera de influência direta da Rússia. A reviravolta se deu em 2013, quando um enorme movimento contra o controle político russo começou a direcionar Kiev no sentido da União Europeia.
Recentemente, armamentos foram adquiridos pela Ucrânia dos EUA e de diversos países da União Europeia. Mesmo assim, considera-se que ainda não são páreo para repelir uma invasão russa.
A razão principal por trás das tensões é o acordo de Minsk firmado após a invasão da Crimeia pelas forças de Moscou. Os russos não admitem qualquer processo que possa levar a Ucrânia a se juntar a União Europeia ou à OTAN. Isso faria com que os russos tratassem a movimentação da Ucrânia como uma grave ameaça à sua segurança nacional.
Desde 2014, as regiões de Donetsk e Luhansk, áreas da divisão com a Rússia, conhecidas como Donbas, estão sob controle de separatistas apoiados por Moscou. As forças russas também são presentes na área, chamada por Kiev de “territórios temporariamente ocupados”. A Rússia refuta essa denominação.
Apesar das sanções com as quais os EUA ameaçam a Rússia, o consenso na União Europeia está longe de ser alcançado, já que o bloco é altamente dependente do gás russo.