Com inchaço na barriga, dores fortes, sangramento e enjoos, uma mulher de 34 anos está há três meses lutando para conseguir um diagnóstico médico e começar um tratamento em Juquiá, no interior de São Paulo. Ao g1, a mãe de Cristiane Gomes Corrêa disse que a filha já fez alguns exames de sangue, urina e ultrassom, mas que não apontaram o que estaria causando os sintomas, e descartaram que seria gravidez.
Segundo Maria Auxiliadora Gomes, de 54 anos, virou rotina na vida delas passarem as noites em claro por causa das dores que a filha sente. “Estou vendo que do jeito que ela está aqui. Ela vai perder a vida, o caso dela é grave, está feio. Gemeu a noite inteira de dor, não tenho para quem recorrer e não tenho mais o que fazer”
Maria afirmou que a prefeitura não está oferecendo o suporte necessário para a filha e que no hospital elas são tratadas com descaso. “A situação que estou é difícil, está terrível. Já chorei tanto. Estou indignada com a barriga desse tamanho e falarem que o ultrassom não deu nada”.
A mãe contou que Cristiane tem anemia e a situação se agravava quando ela ficava menstruada, pois o fluxo sanguíneo é intenso e a deixava fraca, o que não acontece mais devido a uma injeção que foi receitada por um ginecologista.
“Ela toma injeção para não menstruar, mas há uns três meses a barriga dela vem crescendo, inchando. Tem enjoo, dor e começou a ter sangramento. Não tem diagnóstico do que é e não encaminham [para atendimento]. A injeção evita gravidez, mas não é [para isso que ela toma], é para o tratamento”, disse.
Aposentada por invalidez, Cristiane tem uma filha de 11 anos que, segundo Maria, sofre ao vê-la nessa situação. “Tadinha, ela vê tudo isso. Acha que não mexe com o psicológico dela ver a mãe assim? É muito descaso na saúde de Juquiá. [Minha] filha com dor em casa e uns falam que é cisto, outros mioma, barriga dágua. A prefeitura não dá parecer, o hospital dá soro e manda de volta para casa”.
“Depois do Carnaval não sei mais o que é viver, é só sofrimento e descaso”.
Maria contou que a filha vem passando muito mal, com a barriga muito inchada e sentido muitas dores. “O hospital da cidade não tem recursos para tratar ela, mas também negam o encaminhamento. Do jeito que está ela vai acabar morrendo”, finalizou.
Especialista
O g1 consultou o ginecologista Guilherme Karan que, após verificar os resultados dos exames de sangue, urina e ultrassom, descartou que Cristiane esteja grávida. Baseado nos laudos, o médico acredita que ela esteja com uma infecção urinária e inflamação, mas ressaltou a necessidade dela ser avaliada por um clínico.
No entanto, Karan não eliminou a possibilidade de uma gravidez psicológica, mas disse que isso é difícil afirmar sem consultar a paciente. Para ele, há grande possibilidade de ser uma distensão gasosa do intestino.
“Um processo inflamatório abdominal pode transcorrer com distensão abdominal e simular uma barriga de grávida, mas a gravidez psicológica ou pseudociese precisa ter componentes emocionais adicionais relativos a paciente que fazem ela acreditar que esteja grávida, mesmo tendo evidências do contrário”, explicou.
Posicionamentos
Em nota, a Prefeitura de Juquiá confirmou que a Secretaria Municipal de Saúde tem conhecimento do caso, que a paciente está sendo acompanhada pelo Estratégia Saúde da Família (ESF) Vila Nova e já passou por alguns exames, mas que estão aguardando os resultados.
Ainda de acordo com a administração municipal, a paciente tem uma Ultrassonografia Transvaginal no Hospital Regional de Pariquera-Açu agendada na sexta-feira (24).
Ao g1, a Secretaria Estadual de Saúde informou que a mulher foi auxiliada pela Central de Regulação de Ofertas e Serviços de Saúde (Cross) com objetivo de realizar a busca por um serviço de referência para o tratamento.
Ainda de acordo com a pasta, a Cristiane possui agendamento no Ambulatório Médico de Especialidades (AME) de Pariquera-Açu para realização de exame em abril, sendo que os familiares serão comunicados.