A mulher que foi encontrada morta e carbonizada com as filhas de 11 e 13 anos em Sorocaba (SP) tinha uma “vida normal” e nunca havia relatado à família problemas com o marido, que é suspeito de matar as vítimas.
Segundo a polícia, Janiel Soares Gomes, de 37 anos, é investigado por atear fogo na casa da família, com a esposa e as filhas dentro, e cometer suicídio momentos depois, no último dia 16.
Dulcilene Setúbal Batista, de 33 anos, e as filhas Luana Batista Gomes, de 13 anos, e Jheniffer Batista Gomes, de 11, foram enterradas no domingo (20) em Urupês, no noroeste paulista.
De acordo com o irmão de Dulcilene, Cláudio Setúbal, a notícia das mortes chocou a família, pois todos tinham uma boa relação com o suspeito.
“Não tem explicação como isso aconteceu. É uma pessoa que não usava droga, não fazia nada, ia do trabalho pra casa, pra família, nunca bebeu, é o que a gente sabe dele. Então é uma coisa assim sem palavras”, afirma o irmão da vítima.
Segundo Cláudio, a família deles é de Bacuri, no Maranhão, mas morava há mais de dez anos em Urupês. Há cerca de quatro, Dulcilene, o marido e as filhas haviam se mudado para Sorocaba em busca de mais oportunidades de emprego. Janiel era pedreiro e Dulcilene trabalhava em um mercado na cidade.
“Pelo que eu sabia, eles estavam vivendo uma vida boa. Minha mãe ligava direto pra eles e nunca demonstraram nenhum problema assim. Parece que há pouco tempo, ele [Janiel] chamou minha irmã para voltar ao Maranhão, mas ela não queria ir. Disse que, se ele fosse, ela iria voltar pra Urupês”, conta Cláudio.
Apesar da conversa sobre a mudança, Cláudio disse ao g1 que não sabe o que teria motivado o crime. Ele acredita que Janiel matou Dulcilene a facadas, asfixiou as filhas e, na sequência, ateou fogo na casa.
“Foi uma coisa que abalou toda estrutura da família porque somos em 13 irmãos, mas nenhum nunca passou por isso. Pensa numa família unida! Nunca ninguém brigou com ninguém, é uma coisa que acontece na vida e desestrutura a família.”
Bloqueou porta com geladeira
Segundo o relato de vizinhos, Janiel usou uma geladeira para bloquear a porta da casa e foi visto saindo do imóvel ao soltar os cães da família na rua, logo depois do crime no bairro Júlio de Mesquita.
“Eu avisei: vizinho, seus cachorros estão saindo. E ele disse não, é pra deixá-los andarem, pode deixar o portão aberto. E aí eu fui pegar a vassoura pra continuar lavando o carpete, e quando olhei pra casa, o fogão em chamas”, relatou um vizinho à TV TEM.
Ao g1, o irmão de Dulcilene contou que a família encontrou os cachorros quando foi para Sorocaba na sexta-feira (18), para reconhecer os corpos das vítimas, e levou os animais para Urupês.
Apesar das condições dos corpos, Cláudio disse que reconheceu a irmã e as sobrinhas no Instituto Médico Legal (IML). “Eu não consegui nem chorar ainda, parece que não caiu a ficha. Mas você chegar lá e ver sua irmã e suas sobrinhas tudo queimada, deu uma dor no coração”, afirma.
Janiel morreu no mesmo dia do crime, ao bater a moto em uma carreta na rodovia SP-79, em Votorantim (SP). Não há informações sobre o enterro dele.
Agora, a família espera respostas da polícia para saber o que realmente aconteceu. A Polícia Civil está ouvindo pessoas próximas à família e aguarda laudos para concluir o inquérito. Uma perícia foi feita na casa incendiada, que foi interditada por risco de desabamento.
“Ouviram testemunhas, mas ainda não deram o caso como encerrado. Foi cometido um feminicídio e quero saber como minhas sobrinhas foram mortas, quero saber tudo. É uma coisa que mexeu não só com o povo da cidade, mas o país inteiro”, diz Cláudio.
De acordo com a Divisão Especializada de Investigações Criminais (Deic), os laudos necroscópicos devem apontar a causa da morte das vítimas, se elas morreram no incêndio ou se tiveram lesões anteriores.
A motivação do crime também está sendo investigada. Conforme a Deic, Janiel não tinha antecedentes criminais, nem denúncias de violência doméstica.
“Minhas sobrinhas eram um doce de meninas. Elas estudavam perto de casa, brincavam, tinham uma vida normal. […] Os vizinhos falaram pra mim que, na terça-feira, que foi feriado, um dia antes, o pai até assou uma carninha pra elas”, relata Cláudio.
“E a minha irmã era uma mãe de família. Ela não vivia pra luxo, vivia pros filhos. A minha mãe soube dar educação pra todos os filhos porque nós nunca gostamos de briga, nunca usamos drogas. Todas as minhas irmãs são mulheres guerreiras, trabalhadoras”, completa.