O Ministério Público denunciou, por fraude processual, 11 policiais militares do 9º Baep envolvidos no confronto que resultou na morte de seis homens, em 12 de outubro de 2019, na Estância Alvorada, em Rio Preto.
O documento foi protocolado nesta semana, no Fórum central de Rio Preto, pela promotora Valéria Andreia Ferreira de Lima. O processo de falsidade ideológica está em segredo de Justiça. No entanto, o processo que apurou crime de homicídio, não. Deste último foi possível extrair informações sobre a denúncia.
Embora o inquérito de homicídio tenha sido arquivado por ausência de elementos que comprovassem a execução dos suspeitos, alguns detalhes apontam para indícios de transgressão disciplinar e crime militar: “Divergências de horário da denúncia e da chegada ao local, bem como a pesquisa de antecedentes criminais de um dos mortos por um policial militar um dia antes do ocorrido” (pág. 641).
A informação de que a quadrilha estaria reunida no imóvel para planejar o estouro de um caixa eletrônico (ou assalto a banco) teria acontecido muito próxima (ou simultaneamente) à invasão dos PMs no local. A Polícia Civil entende que, entre a informação e a ação, deveria haver um intervalo de deslocamento das equipes, o que não aconteceu.
Outro fato relevante é que as armas que os mortos estariam portando não estavam mais juntas aos corpos quando da chegada dos peritos do Instituto de Criminalística. Foram retiradas pela Polícia Militar. Houve a perícia no local. No entanto, a alteração da cena do crime inviabilizou à Polícia Científica precisar a exata dinâmica dos fatos. (pág. 426)
São investigados no processo os tenentes Vitor Cassiolatto Souza e Luís Henrique Pinheiro Gonçalves, os sargentos Márcio da Silva Thomé e Osvaldo Brolini Júnior, os cabos Marcelo Vitor da Silva, Leandro Mariano e Bruno Pereira Dias, e os soldados Thiago Bento da Cruz, Guilherme Guimarães, Renan Keoma Souza e Rafael Augusto Vieira.
A denúncia será analisada pelo juiz da 3ª Vara Criminal, que decidirá se aceita (e dá andamento ao feito) ou arquiva o processo.
O mês de outubro daquele ano foi marcado pela alta letalidade policial. Isso porque uma semana antes, no dia 7, quatro homens já haviam sido mortos por outras equipes do 9º Baep na Estância Jockey Clube. As investigações apontam que duas vítimas foram executadas.
Entenda o caso
Segundo o boletim de ocorrência policial, após receberem a denúncia sobre uma reunião suspeita em residência da rua 2, na Estância Alvorada, policiais militares do 9º Baep tentaram entrar na casa e foram recebidos a tiros.
Houve confronto e os seis homens que estavam no local morreram. São eles: Andrey Silveira, Wellington Veríssimo, Weverton Nader, Fabiano Alves, Silvano Francisco Neto e Felipe Baptista (único que não registrava antecedente criminal).
O cabo Mariano teve o colete balístico atingido por um disparo, mas sofreu apenas uma lesão no peito.
Os policiais apresentaram seis armas como sendo do grupo: três revólveres calibre 38, duas pistolas (.40 e 380) e um fuzil M4.
Uma moradora do bairro, arrolada como testemunha, confirma que houve o confronto.