O Ministério Público de Goiás (MPGO) deflagrou na manhã desta terça-feira (18) a Operação Penalidade Máxima II. A operação apura novas informações sobre a organização criminosa suspeita de manipular resultados esportivos de jogos de futebol profissional, inclusive da Série A do Brasileirão.
O MPGO não divulgou o nome dos envolvidos nesta fase da operação, por isso, o g1 não conseguiu contato com a defesa deles até a última atualização desta reportagem.
O grupo é suspeito de ter manipulado pelo menos cinco jogos importantes do Campeonato Brasileiro de Futebol do ano passado, além de outras cinco partidas dos campeonatos regionais, incluindo os estaduais de Goiás, Rio Grande do Sul, Mato Grosso e São Paulo. Segundo o MP, as investigações estão em andamento para determinar a extensão da fraude.
O MPGO divulgou que estão sendo cumpridos 3 mandados de prisão preventiva e 20 mandados de busca e apreensão em 16 municípios de 6 estados. Os mandados estão sendo cumpridos em Goianira (GO), São Paulo (SP), Rio de Janeiro (RJ), Recife (PE), Pelotas (RS), Santa Maria (RS), Erechim (RS), Chapecó (SC), Tubarão (SC), Bragança Paulista (SP), Guarulhos (SP), Santo André (SP), Santana de Parnaíba (SP), Santos (SP), Taubaté (SP) e Presidente Venceslau (SP).
Entenda como agia o grupo
O MPGO, por meio do Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado (Gaeco) e da Coordenadoria de Segurança Institucional e Inteligência (CSI), já apurou que o grupo criminoso conseguiu manipular resultados de jogos de futebol após subornar jogadores. A investigação mostrou que os jogadores recebiam entre R$ 50 mil e R$ 100 mil para que realizassem ações específicas durante as partidas.
A investigação mostrou que o esquema funcionava da seguinte forma: os apostadores faziam propostas para atletas marcarem pênaltis nos primeiros tempos de cada jogo. Caso os jogadores aceitassem, era feito o pagamentos do “sinal”. Após a partida, caso o pênalti tivesse sido feito, os jogadores receberiam o restante do valor combinado.
De acordo com o MP, há indícios de que as condutas solicitadas aos jogadores tinham como objetivo que os investigados conseguissem altos lucros em apostas realizadas em sites de casas esportivas, usando, ainda, contas cadastradas em nome de terceiros para aumentar o retorno financeiro.
A investigação começou em novembro de 2022 após uma denúncia feita pelo próprio Vila Nova, que é vítima no esquema, segundo o MP.
Primeira fase
A operação “Penalidade Máxima” foi deflagrada no dia 14 de fevereiro deste ano e, na época, cumpriu nove mandados de busca e apreensão, sendo dois deles em Goiânia e outros em quatro estados. Durante a ação, o empresário Bruno Lopez de Moura foi preso temporariamente, em São Paulo, suspeito de ser responsável pelas apostas e de intermediar contatos com jogadores. Bruno deixou a prisão após uma decisão do Tribunal de Justiça de Goiás (TJ-GO).
A investigação do Ministério Público apurou que um jogador do Vila Nova teria recebido um “sinal” de R$ 10 mil para provocar um pênalti no primeiro tempo de jogo. Se o pênalti fosse marcado – o que não aconteceu, ele receberia mais R$ 140 mil. Como a marcação não foi feita, o apostador teria começado a “cobrar” o jogador pelo prejuízo na aposta.
No dia 16 de março deste ano, o g1 mostrou que, após o Ministério Público de Goiás (MPGO) oferecer denúncia e a Justiça aceitar, os investigados em esquema que fraudava resultados de jogos do Campeonato Brasileiro se tornaram réus.
Ao todo, oito jogadores e mais seis integrantes de “núcleo de apostadores” foram denunciados por corrupção em competições esportivas, entre eles, o empresário Bruno Lopez de Moura, que chegou a ser preso em São Paulo, e o ex-jogador do Vila Nova Marcos Vinicius Alves Barreira, conhecido como Romário.
Veja quem são os oito jogadores que se tornaram réus na primeira fase da operação:
Mateus da Silva Duarte, conhecido como Mateusinho (jogador do Cuiabá);
Marcos Vinicius Alves Barreira, conhecido como Romário (ex-jogador do Vila Nova);
Joseph Maurício de Oliveira Figueredo (jogador do Tombense);
Gabriel Domingos de Moura (atual jogador do Vila Nova);
Allan Godoi dos Santos (jogador do Sampaio Corrêa);
André Luís Guimarães Siqueira Júnior, conhecido como André Queixo (ex-Sampaio Corrêa, atualmente no Ituano);
Ygor de Oliveira Ferreira, conhecido como Ygor Catatau (ex-Sampaio Corrêa, atualmente no Irã);
Paulo Sérgio Marques Corrê (ex-Sampaio Corrêa, atualmente no Operário-P).
Até a última atualização desta reportagem, o g1 não conseguiu localizar as defesas dos réus para que se posicionem. No dia 6 de março, Romário negou que faria um pênalti de propósito, mas admitiu ter aceitado dinheiro de aliciador que fazia esquema.
“Núcleo de Atuação” de apostadores
Na primeira fase da operação, o MP contou que, entre os denunciados, seis são integrantes de grupo criminoso especializado na prática de corrupção em âmbito esportivo. Os outros oito são jogadores. O órgão descobriu que o grupo se dividia em “Núcleos de Atuação”.
Veja quem foram os outros denunciados na primeira fase da operação, que compunham “Núcleos de Atuação” dos apostadores:
Bruno Lopez de Moura, conhecido como BL (empresário preso em SP, que liderava as ações);
Camila Silva da Motta (mulher de Bruno e suspeita de atuar em Núcleo Administrativo das apostas);
Ícaro Fernando Calixto dos Santos (fazia parte de Núcleo de Apostadores);
Luís Felipe Rodrigues de Castro (fazia parte de Núcleo de Apostadores);
Victor Yamasaki Fernandes (fazia parte de Núcleo de Apostadores);
Zildo Peixoto Neto (fazia parte de Núcleo de Apostadores).
Segundo o Ministério Público, funcionava da seguinte forma: o “Núcleo Apostadores” era formado por responsáveis por contatar e aliciar jogadores para participação no esquema delitivo. Eles também faziam pagamentos aos jogadores e promoviam apostas nos sites esportivos.
Também havia o “Núcleo Financiadores” – ainda a serem identificados. Eles eram os responsáveis por assegurar a existência de verbas para o pagamento dos jogadores aliciados e também nas apostas manipuladas.
Além disso, havia o “Núcleo Intermediadores”, estes eram responsáveis por indicar contatos e facilitar a aproximação entre apostadores e atletas aptos a promoverem a manipulação dos eventos esportivos.
Também havia o “Núcleo Administrativo”, que era responsável por fazer as transferências financeiras a integrantes da organização criminosa e também em benefício de jogadores cooptados.