Em tempos de corrupção, extremismo, falta de empatia e mar de desesperança, sempre aparecem exemplos capazes de fazer a sociedade acreditar que o mundo ainda tem jeito. Um desses casos foi testemunhado em Rio Preto pela jornalista Cecilia Dionízio, enquanto caminhava pela região central da cidade nesta segunda-feira, dia 11, curiosamente um dia depois do “Dia da Honestidade”.
“Estava eu e minha amiga Mara Lúcia Madureira seguindo calmamente pela calçada, quando nos deparamos com a cena inusitada. Alguém deixou o dinheiro da zona azul dobrado embaixo do limpador do para-brisa do carro”, conta Cecilia, em postagem no Instagram. Alguém precisou parar o carro no local, não encontrou a fiscalização do estacionamento rotativo e resolveu arriscar.
“Achei muito bacana o gesto”, diz Cecilia, mais uma vez surpreendida pela atitude tanto de quem confiou deixar o valor quanto da agente da zona azul. “Uma vez feito seu trabalho de emitir o cartão, (a fiscal) também deixou o troco, da mesma forma recebida. Num gesto de confiança mútua.”
Ela explicou que tudo isso em plena manhã de segunda-feira, num dos dias de maior movimento comercial na região central da cidade. “Creio que inúmeros transeuntes passaram por ali e, assim como nós, viram o dinheiro mas seguiram em frente, sem tocar. Isso nos mostra que ainda dá sim pra ter esperança na humanidade”.
Outro caso
Em outro exemplo de honestidade, catadores de materiais recicláveis da Acrepom (Associação dos Catadores de Papel e Materiais Recicláveis de Araçatuba) encontraram R$ 35 mil em dinheiro, no fundo falso de um cofre que havia sido descartado e doado à entidade, como sucata, pela Polícia Cívil. O caso aconteceu no ano passado.
O cofre estava jogado no local havia alguns dias, quando funcionários tiveram a ideia de utilizar como base para sustentar um barril improvisado como caixa d´água. Para a utilização, os catadores começaram a desmontar o objeto, retirando partes de metais que seriam enviados a reciclagem.
Ao deslocar uma parte do cofre, um dos catadores acabou descobrindo um fundo falso, onde os funcionários encontraram dinheiro, R$ 35 mil no total. De acordo com o jornal Folha da Região, as notas deviam estar escondidas havia muito tempo no local, porque algumas estavam se deteriorando.
Quando a Polícia Civil faz o descarte de cofres apreendidos, após a conclusão do trabalho de investigação e relato dos respectivos inquéritos, a destinação é a Acrepom. E esse foi o caso deste cofre onde encontraram o dinheiro. Os catadores, mesmo precisando de recursos para reconstruir parte da entidade, destruída por um incêndio criminoso, decidiram fazer a devolução do dinheiro.
Num primeiro momento os funcionários até comemoraram, mas depois de conversarem, decidiram que o dinheiro teria de ser devolvido. A direção da entidade foi comunicada e acionou a Polícia Civil, que recolheu o cofre. A Acrepom é mantida pelo trabalho cooperado de 26 famílias que dependem da renda do local para sobrevivência. Pouco tempo antes, a entidade foi alvo de um incêndio criminoso que destruiu parte da sede, maquinários e um caminhão.
Pesquisa
Uma pesquisa realizada pela consultoria de recursos humanos Crescimentum mostrou que, apesar de todo o clima de desesperança que atinge o País, principalmente com seus dirigentes políticos de 2010 para cá, o brasileiro tornou-se mais consciente da responsabilidade por seus problemas, menos ligado à lógica do paternalismo e com mais atitude para resolver as situações. Além disso, também está mais ciente das dificuldades do país e deseja que a sociedade mostre mais ética e compromisso.
A pesquisa, que foi feita em todo o país e ouviu 2.422 pessoas acima de 16 anos, indicou também que o brasileiro continua a valorizar a amizade, a família, acredita ser feliz, humilde e se vê como um cidadão honesto, ao mesmo tempo que acredita que a corrupção é o principal obstáculo para o desenvolvimento, seguido pela violência, pobreza e degradação do meio ambiente.