Um novo relatório da revista científica The Lancet destaca que as ameaças à saúde provocadas pelas alterações climáticas estão em níveis alarmantes, reforçando a necessidade urgente de uma transição rápida de uma economia baseada em combustíveis fósseis para uma economia de emissões zero.
Segundo o documento, 2023 foi “o ano mais quente já registrado”, resultando em uma média de 50 dias adicionais de temperaturas extremas que ameaçam a saúde humana. Além disso, a mortalidade relacionada ao calor entre pessoas com mais de 65 anos aumentou em 167% desde 1990.
A exposição a altas temperaturas compromete a atividade física e a qualidade do sono, com um declínio de 6% nas horas de sono em 2023 em comparação com a média de 1986 a 2005.
O Countdown on Health and Climate Change 2024, que contou com a colaboração de mais de 120 especialistas e agências da ONU, revela que 10 dos 15 indicadores sobre os riscos das alterações climáticas à saúde alcançaram novos recordes preocupantes.
Os especialistas pedem que os trilhões de dólares atualmente investidos em combustíveis fósseis sejam redirecionados para uma transição justa e sustentável para uma economia com emissões zeradas de gases de efeito estufa (GEE), visando proteger a saúde global.
O relatório também aponta um aumento de 61% nos dias de “precipitação extrema” na última década, aumentando o risco de inundações e a propagação de doenças infecciosas. Em 2023, 48% da área terrestre global enfrentou secas extremas, o segundo maior nível registrado. As secas e ondas de calor afetaram 151 milhões de pessoas em 124 países em 2022, exacerbando a insegurança alimentar.
A produtividade do trabalho também foi severamente afetada, resultando em uma perda recorde de 512 bilhões de horas de trabalho devido ao calor em 2023, o que representa um prejuízo potencial de 835 bilhões de dólares (cerca de 771,9 bilhões de euros).
O relatório ressalta que as mudanças climáticas resultaram em recordes de ondas de calor e incêndios florestais que impactam a saúde e o bem-estar de pessoas em todo o mundo. A expansão contínua do uso de combustíveis fósseis e as emissões recordes de GEE ameaçam reverter os avanços alcançados até agora em termos de saúde pública.
Marina Romanello, diretora executiva do Lancet Countdown na University College London, enfatiza que redirecionar os trilhões de dólares investidos na indústria de combustíveis fósseis é crucial para promover uma transição equitativa para fontes de energia limpa e saudável, beneficiando assim a economia global.
Os dados mostram que as perdas econômicas anuais causadas por fenômenos climáticos extremos aumentaram 23% entre os períodos de 2010-2014 e 2019-2023, totalizando 227 bilhões de dólares (209,8 bilhões de euros), um valor superior ao PIB de cerca de 60% das economias globais.
Infelizmente, os investimentos em combustíveis fósseis continuam a ser significativos, com 36,6% do investimento global em energia direcionado a essa área em 2023. A invasão da Ucrânia pela Rússia levou a um aumento nos subsídios aos combustíveis fósseis, refletindo a falta de ação climática eficaz.
Um relatório recente da Organização Meteorológica Mundial (OMM) indicou que os níveis de dióxido de carbono (CO2), metano (CH4) e óxido nitroso (N2O), os principais gases de efeito estufa, aumentaram novamente no último ano. Além disso, a destruição de quase 182 milhões de hectares de floresta entre 2016 e 2022 reduziu a capacidade do planeta de absorver CO2.
As empresas de petróleo e gás, sustentadas por muitos governos e o sistema financeiro global, continuam a perpetuar a dependência de combustíveis fósseis, o que é insustentável em um cenário de emergência climática.
Anthony Costello, copresidente do Lancet Countdown, enfatiza a necessidade de uma transformação global nos sistemas financeiros, colocando a saúde das pessoas no centro das políticas climáticas para garantir que o financiamento proteja o bem-estar, reduza desigualdades e maximize os ganhos em saúde, especialmente nas comunidades mais vulneráveis.
A próxima cúpula das Nações Unidas sobre o clima (COP29), programada para 11 a 22 de novembro em Baku, no Azerbaijão, será uma oportunidade crucial para reforçar essa mensagem. O secretário-geral da ONU, António Guterres, alertou que as emissões recordes são uma ameaça à saúde global e que a inação climática deve ser enfrentada com ações decisivas, buscando um futuro mais justo, seguro e saudável para todos.