sábado, 23 de novembro de 2024
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Morre Horst Eckel, último sobrevivente campeão da Copa de 54

O feito e a memória mais marcante no futebol alemão certamente foi a conquista da Copa do Mundo de 1954. Menos de uma década após o fim da Segunda Guerra,…

O feito e a memória mais marcante no futebol alemão certamente foi a conquista da Copa do Mundo de 1954. Menos de uma década após o fim da Segunda Guerra, o lado ocidental de uma Alemanha dividida alcançou uma das maiores proezas da história do futebol mundial, que ficou conhecida como “O milagre de Berna” – a conquista representou também um impulso de ânimo na cambaleante autoestima de uma nação devastada.

Durante décadas, a importância e os heróis daquela conquista improvável seguiram citados e reverenciados. Mas, nesta sexta-feira (03/12), a Alemanha ficou órfã daquela geração. Morreu aos 89 anos Horst Eckel, o último sobrevivente da equipe vencedora da Copa do Mundo de 1954.

Eckel foi um dos dois jogadores da seleção da Alemanha Ocidental a ter participado de todas as seis partidas – esteve todos os minutos em campo.

O outro foi Fritz Walter, o capitão daquela seleção e considerado o primeiro grande ídolo do futebol alemão. Walter foi companheiro de Eckel no Kaiserslautern – uma das equipes mais tradicionais do país, mas atualmente na terceira divisão – e mentor do jovem meio-campista, que na época do Mundial tinha 22 anos e era o mais jovem da equipe titular e o segundo mais jovem do elenco.

Eckel fez sua primeira aparição pela seleção da Alemanha Ocidental em novembro de 1952, depois que o lendário treinador da seleção alemã Sepp Herberger o viu num amistoso entre Kaiserlautern e Schalke 04. Eckel marcou dois gols e sua convocação foi recomendada por Walter, que se beneficiava das incansáveis corridas do companheiro pelo flanco direito.

“Ele pode correr como um galgo”, disse Walter a Herberger. O apelido pegou e Eckel acabou por ser chamado de “Windhund” (galgo, em português) por causa de sua estatura magra e aptidão atlética para percorrer altas distâncias num jogo de futebol. Eckel atuava basicamente pelo lado direito – seja como ala ou meio-campista, por vezes também mais centralizado.

Função tática no “milagre de Berna”

Eckel jogou 32 partidas pela seleção da Alemanha Ocidental, sem ter conseguido balançar as redes, mas era uma das peças mais importantes no esquema de Herberger. Na Copa de 1954, por exemplo, Eckel assumiu um papel muito mais tático na equipe e ficava incumbido de marcar o principal armador dos adversários, como foi o caso na semifinal (quando anulou o craque austríaco Ernst Stojaspal) e na final (quando encarou a estrela húngara Nándor Hidegkuti).

“Herberger disse a cada um de nós exatamente o que tínhamos que fazer, o que o time tinha que fazer e então disse: Vão lá, joguem seu jogo e vençam”, recordou Eckel 60 anos depois.

A vitória por 3 a 2 frente à Hungria na final entrou para os livros de história como “O milagre de Berna”. Naquela época, a seleção húngara era disparada a mais forte do mundo e contava com craques como Ferenc Puskás, Sándor Kocsis, Nándor Hidegkuti e Zoltán Czibor. Apelidada de “Time de Ouro”, aquela geração húngara havia conquistado a medalha de ouro nos Jogos Olímpicos de 1952 e vinha de 32 jogos oficiais invictos – na fase de grupos, venceu a mesma Alemanha por 8 a 3.

Na final, com oito minutos de jogo, a Hungria já estava vencendo por 2 a 0. Mas o tempo chuvoso naquele 4 de julho de 1954 deixou o gramado pesado – uma condição prejudicial para equipes mais técnicas. E a Alemanha Ocidental, na base da força e da esperteza tática, virou a partida aos 41 minutos do segundo tempo, encerrando assim a era do “Time de Ouro” da Hungria.

A seleção alemã foi festejada ao retornar da Suíça. Era o primeiro título mundial do país e representava também uma das primeiras alegrias coletivas de uma nação que ainda se recuperava da Segunda Guerra. “Foi só quando voltamos para a Alemanha de trem e vimos a emoção no caminho e nas cidades, que compreendemos que éramos realmente campeões mundiais”, recordou Eckel.

Eckel participou também da Copa do Mundo de 1958, disputada na Suécia e que apresentou o então menino Pelé ao mundo. Em 1958, a Alemanha Ocidental perdeu a disputa pelo terceiro lugar para a França, do artilheiro do torneio Just Fontaine.

Lealdade ao clube do coração Kaiserslautern

O título mundial de 1954 não mudou muito a questão financeira para Eckel. Ele ganhava 320 marcos alemães (U$ 76 na época) no Kaiserslautern e precisava de outro emprego para pagar as contas.

O clube inglês Bristol City teria oferecido a Eckel um salário 20 vezes maior, mas ele sempre afirmou que nunca teve dúvida em permanecer no Kaiserslautern. Ele sempre foi um fã dos “Diabos Vermelhos” da Renânia-Palatinado. Quando era jovem, costumava pedalar 30 quilômetros para ver os jogos do time. Assistiu por um buraco na cerca porque não tinha dinheiro para os ingressos.

Eckel fez 214 jogos na elite do futebol alemão entre 1949 e 1960 – sempre pelo Kaiserslautern, com o qual conquistou o Campeonato Alemão duas vezes (1951 e 1953).

“Ele foi excelente como jogador de equipe”, disse o ex-jogador e ex-treinador Otto Rehhagel na comemoração do 85º aniversário de Eckel em 2017. Rehhagel é outra lenda do Kaiserslautern e comandou os “Diabos Vermelhos” ao título da Bundesliga de 1998.

“Ele sempre enfatizou a importância da união da equipe, dessa humanidade e amizade”, disse o ex-atacante Miroslav Klose, maior artilheiro em Copas do Mundo e outro grande nome que defendeu as cores do Kaiserslautern.

Eckel sempre gostou de falar sobre a Copa do Mundo de 1954, em particular sobre “O milagre de Berna” – principalmente para aqueles que não puderam vivenciar a façanha na época. Fazer parte daquele esquadrão vitorioso é seu maior legado no futebol – e era o que lhe deixava mais orgulhoso.

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