Integrante do Grupo Doutores do Humor, que leva alegria a pacientes hospitalizados em Araçatuba, a atendente de negócios Cíntia Nunes Marega, 48 anos, está a poucos dias de possibilitar mais que contentamento a um doente em especial. Achar um doador de medula compatível é difícil. A probabilidade é de um em cada cem mil.
Por isso, quanto mais pessoas se cadastrarem como doadores, as chances aumentam. Isso foi o que levou Cíntia a se registrar como doadora, em 2007, durante uma campanha realizada em São Carlos, onde morava, para ajudar uma adolescente com leucemia.
A Doutora Girassol da turma que provoca risos soltos nos doentes internados foi localizada pelo Redome (Registro Nacional de Doadores Voluntários de Medula Óssea) por ter surgido uma possível compatibilidade entre ela e um paciente que está internado em tratamento contra leucemia, o que pode significar a cura e uma nova vida para ele.
Ao receber a primeira mensagem do Redome, no início deste mês, a sensação foi de euforia. “Estou muito feliz por poder ajudar alguém, é emocionante”, afirmou. “Imagina a minha responsabilidade. É inexplicável o que estou sentindo. É como estar apaixonada”, descreveu.
Por conhecer a dificuldade em encontrar uma pessoa compatível, Cíntia se sente especial. “O trabalho como voluntária no Doutores do Humor já é maravilhoso, porque doamos o nosso tempo e levamos alegria às pessoas, mas ter a chance de salvar uma vida é ainda mais especial”, afirma ela, que é também doadora de órgãos.
Mãe de uma estudante de Odontologia de 22 anos, Cíntia diz estar com medo por causa da pandemia, mas garante que não vai desistir e fazer todo o processo necessário até a doação, caso a compatibilidade se confirme. “É muito importante ter esta consciência, porque é uma forma de salvar vidas”, disse.
Animada com a possibilidade de ser a esperança de vida para um doente, Cíntia já sonha em conhecer o paciente que irá receber sua medula, mas a revelação do doador só pode ocorrer após 18 meses, caso o paciente esteja em bom estado de saúde.
Doadores
Conforme o Inca (Instituto Nacional do Câncer), a chance de se identificar um doador compatível, no Brasil, na fase preliminar da busca é de até 88%, e ao final do processo, 64% dos pacientes têm um doador compatível confirmado.
Quando não há um doador aparentado (um irmão ou outro parente próximo, geralmente um dos pais), a solução é procurar um doador compatível entre os indivíduos da população em geral, representada por diferentes grupos étnicos (brancos, negros, amarelos etc) e suas combinações.
Assim, surgiram os primeiros registros de doadores de medula óssea, em que voluntários são cadastrados e selecionados para ajudar pacientes de todo o mundo. Hoje, já existem mais de 25 milhões de doadores em todo o mundo.
O Registro Nacional de Doadores Voluntários de Medula Óssea (Redome) tem 5.357.721 doadores cadastrados, mas promove a busca não só no Brasil, mas também nos registros estrangeiros. Para se cadastrar, basta comparecer a um hemocentro, preencher um formulário com os dados pessoais e coletar uma amostra de sangue.
É importante manter o cadastro atualizado, porque se for constatada compatibilidade com algum receptor, o Redome entra em contato com o possível doador.
Exames
Cíntia já respondeu a um questionário de saúde enviado pelo Redome, mas antes da doação, ainda vai passar por um rigoroso exame clínico, incluindo exames complementares para confirmar o seu bom estado de saúde.
Não há exigência quanto à mudança de hábitos de vida, trabalho ou alimentação. A doação é feita em centro cirúrgico, sob anestesia, e tem duração de aproximadamente duas horas. São realizadas múltiplas punções, com agulhas, nos ossos posteriores da bacia e é aspirada a medula. Retira-se um volume de medula do doador de, no máximo, 15%. Esta retirada não causa qualquer comprometimento à saúde.
Há um outro método de doação chamado coleta por aférese. Nesse caso, o doador faz uso de uma medicação por cinco dias com o objetivo de aumentar o número de células-tronco circulantes no seu sangue. Após esse período, a pessoa faz a doação por meio de uma máquina de aférese, que colhe o sangue da veia do doador, separa as células-tronco e devolve os elementos do sangue que não são necessários para o paciente.
Não há necessidade de internação nem de anestesia, sendo todos os procedimentos feitos pela veia. A decisão sobre o tipo de doação é exclusivamente dos médicos. Todo o gasto de exames, transporte, alimentação e internação é custeado pelo Redome/Ministério da Saúde.