O ministro interino da Saúde, Eduardo Pazuello, disse que a nova vacina russa contra a Covid-19 ainda é muito “incipiente” e “rasa”. Embora não descarte outras opções, o titular da pasta afirmou que a parceria com a Universidade de Oxford ainda se mostra a melhor opção para o Brasil.
Em audiência na comissão mista do Congresso Nacional que acompanha as ações de enfrentamento à Covid-19, Pazuello disse que manteve uma videoconferência com o governador do Paraná, Ratinho Júnior (PSD), e com os técnicos que assinaram um acordo de cooperação com o Fundo de Investimento Direto da Rússia para pesquisa e produção da vacina.
“Essa videoconferência mostrou que, concordo com os dados ali, está muito incipiente, as posições estão muito rasas. Nós não temos profundidade nas respostas. Não temos acompanhamento dos números”, disse o ministro, após ser questionado por parlamentares.
A Rússia anunciou na terça-feira (11) que concedeu a primeira aprovação regulatória do mundo para uma vacina contra a Covid-19, que foi chamada de Sputnik V para os mercados estrangeiros.
A aprovação foi dada pelo Ministério da Saúde do país à imunização produzida pelo Instituto Gamaleya de Moscou após menos de dois meses do início dos testes em humanos, segundo afirmou na ocasião o presidente russo Vladimir Putin.
No dia seguinte, o governo do Paraná assinou um memorando de entendimento com a Rússia para dar início às tratativas relativas à vacina. A parceria vai ser dar por meio do TecPar (Instituto de Tecnologia do Paraná).
“Pode até haver tudo isso [eficácia], mas tem que ter muita negociação, muito trabalho para que isso seja de uma forma efetiva, digamos, avalizado pela Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária), para que nós possamos discutir a compra”, disse o ministro.
Reportagem da Folha mostrou que as informações oficiais sobre os testes da vacina contra Covid-19 da Rússia foram modificadas na base internacional que registra experimentos com humanos.
Nesta quarta (12), as informações sobre os experimentos com humanos da vacina da Rússia passaram a incluir também uma segunda fase, concomitante à primeira. Agora, consta que os estudos foram finalizados no dia 3 de agosto, mas não há informação sobre conclusões dos testes.
Pazuello também repetiu a posição largamente divulgada pelo Ministério da Saúde, de que os técnicos estão monitorando o desenvolvimento das vacinas no mundo e que devem aderir à primeira imunização que se mostrar mais eficaz e segura.
“Resumindo: nós estamos atentos à vacina russa e caso essa prospecção seja positiva, nós devemos também participar, seja por intermédio da Tecpar, em Curitiba, seja por intermédio de uma outra ala de fabricação nossa”, disse.
“É orientação e diretriz minha que todas as vacinas que se mostrem em uma prospeção positiva, devemos estar acompanhando, devemos estar parceiros e com opção de compra”.
O ministro também acrescentou que mantém encontros com outros laboratórios que estudam uma vacina e está em contato também com o governo de São Paulo, para obter informações sobre a parceria desenvolvida pelo Instituto Butantan com uma farmacêutica chinesa. No entanto, afirma que, até o momento, a parceria da Fiocruz com a empresa Aztrazenica e com a Universidade de Oxford ainda é a melhor opção para o país.
“A Aztrazenica com Oxford é ainda a melhor opção”, disse o ministro. “É a mais promissora, mas a gente não deixa de estar atento a todas as outras.
Antes da audiência no Congresso, por videoconferência, Pazuello participou de uma sessão informativa promovida pela OMS (Organização Mundial de Saúde). O ministro apresentou dados sobre as ações do governo para combater a pandemia, mas em nenhum momento mencionou que o Brasil ultrapassou a marca de 100 mil mortes em decorrência da Covid.
O ministro lamentou as mortes —sem mencionar o número de óbitos— e ressaltou a quantidade de pessoas curadas da Covid-19 no Brasil.
“Até o final do dia [desta quarta], o Brasil contabilizava 2.309.477 casos recuperados de Covid-19. Estamos entre os líderes mundiais em pacientes recuperados, o que evidencia o acerto das ações do governo brasileiro em resposta à pandemia”, disse Pazuello.
“O desafio que enfrentamos deixará lições importantes. Muito mais do que a emergência em saúde, a pandemia resultou em um caos social em escala jamais vista. Apenas um sistema de saúde forte, incluso e inclusivo, e uma futura vacina podem garantir que o mundo vença essa batalha”.