A morte do jornalista e radialista Cândido Gil Gomes Jr., o Gil Gomes, aos 78 anos, afetou demais todas as pessoas que dele cuidavam. Entre elas sua ex-mulher, Eliana Izzo, com quem ele teve duas filhas e foi casado por 23 anos.
“Estamos arrasados, muito, muito triste. Ele conseguia controlar bem [a doença], só nesses últimos dias que foi muito difícil. Eu todos os dias o visitava e cuidava dele. Eu era amiga, cuidadora. Não éramos mais casados. Nunca me casei novamente, sempre o amei e o respeitei. Meu único amor”, afirma Eliana, de 58 anos.
De acordo com familiares de Gomes, ele teve de ser levado às pressas para o Hospital São Paulo na noite de segunda-feira (15), por volta das 19h. “O Gil tinha Parkinson e por conta dos muitos medicamentos que ele tomava, acabou afetando o fígado. Ele ficou mal de uns 25 dias para cá. O câncer foi descoberto somente agora”, revela a ex-mulher.
Segundo ela, antes da piora no grau da saúde, o jornalista recebeu muitos amigos. “Os filhos e netos estavam sempre ao lado dele. Muitos delegados o visitaram. A Rota [Rondas Ostensivas Tobias de Aguiar da Polícia Militar], ontem [segunda], ainda fez uma linda homenagem para ele no quarto”, diz.
A morte de Gil Gomes foi confirmada por volta das 8h30 de terça-feira (16), no Hospital São Paulo. Ele teve complicações geradas por um Mal de Parkinson e de um câncer de fígado, descoberto recentemente. O jornalista deixa quatro filhos e nove netos. O enterro deve acontecer às 10h desta quarta-feira (17), no Cemitério Memorial Vertical de Guarulhos, na Grande São Paulo.
O genro Marco Pacces, marido de uma das filhas, a advogada Vilma Gil Gomes, conta que ele estava bem debilitado. “Nos últimos tempos ele estava debilitado, por conta do Parkinson, tinha movimentação limitada da musculatura. Na noite de segunda, não o encontramos desacordado, não. O que percebemos foi uma grande fraqueza nele e acionamos a ambulância. Ele estava em nossa casa [dele e de Vilma]”, relembra.
Tanto Pacces quanto Eliana não descartam a possibilidade de, mais para frente, fazerem uma homenagem a Gil Gomes, seja em formato de memorial, de livro ou de filme. “Sim, ainda estamos amadurecendo a ideia. Teria de ser algo muito forte, porque ele nunca será esquecido”, encerra Eliana.
TRAJETÓRIA
Gil Gomes Jr. nasceu na Mooca, bairro histórico de São Paulo, em 13 de junho de 1940. Ele ficou mais conhecido no Aqui Agora, programa policial popular no SBT na década de 90.
Na atração policial, o jornalista se destacou pelo gestual e por sua voz inconfundível. Ao UOL, ele falou sobre as mudanças na linguagem dos telejornais após o sucesso do programa. Em sua opinião, esse era um reflexo das adaptações que se fizeram necessárias com o Aqui Agora. “Não só no Jornal Nacional [que mudou], mas a televisão em geral. Não estou falando do Aqui Agora do Gil Gomes, mas do programa mesmo. Teve uma mudança. Os repórteres já aparecem sem gravata, não ficam paradinhos. Já faz tempo que isso começou a acontecer”, disse.
Gomes, que pensou em ser médico, começou a carreira como locutor esportivo da Rádio Progresso. Foi na Rádio Marconi que ele passou a fazer reportagens policiais. Na televisão, além do SBT, teve passagens por Record, Gazeta e RedeTV!.
Muito antes de comandar o Aqui Agora, Gil Gomes já fazia jornalismo policial no rádio. Mas sua cobertura não agradava ao regime militar e ele acabou preso mais de 30 vezes, conforme relembrou ao ser entrevistado pelo programa “Sensacional” da RedeTV!.
“Terminava o programa e a viatura da Polícia Federal vinha me buscar. Só que eu era amigo do [político e delegado] Romeu Tuma e sempre saía”, contou.
Ameaças também foram uma constante na carreira de Gomes, conforme ele mesmo relatou: “Trabalhava na rádio e recebi um telegrama dizendo que tinha apenas 30 dias de vida. No outro dia, recebi mais um escrito 29 dias de vida, e começou uma contagem regressiva. Quando faltavam 12 dias, mataram meu gato, envenenado. Depois daí, a contagem acabou e não aconteceu nada, mas eu tenho uma mania de valente.”
O jornalista também lembrou como ajudou a solucionar um crime no Aqui Agora. “Mataram uma enfermeira no apartamento dela e o porteiro do prédio jurava que ninguém tinha entrado. A polícia estava investigando quem teria matado e deduzi o seguinte: se ele não tinha como entrar, ele não entrou. Só podia ser alguém do prédio. Apurei, levantei fichas e depois, conversando com um dos moradores, ele me confessou o crime”, disse. Com informações da Folhapress.