quinta, 14 de novembro de 2024
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Metade dos LGBTs não se assume no trabalho por temer preconceito

Um estudo da Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro (Unirio) mostrou que metade dos LGBTs esconde a orientação sexual no ambiente de trabalho por medo de represália por…

Um estudo da Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro (Unirio) mostrou que metade dos LGBTs esconde a orientação sexual no ambiente de trabalho por medo de represália por parte dos colegas. O levantamento também mostra que 35% daqueles que decidiram se assumir homossexuais já sofreram algum tipo de discriminação velada ou direta.

A pesquisa originou o Observatório da Empregabilidade LGBT, idealizado pelo psicanalista e ativista pelos direitos LGBTI+ Eliseu Neto. Ela aponta as dificuldades vividas por esta comunidade no ambiente de trabalho, aponta a necessidade de mudanças e indica meios para que ela aconteça.

“A nossa ideia foi criar um observatório que pudesse dizer como isso acontece. Mostrar que é altíssimo o número de pessoas que não falam da sua orientação sexual, que tem medo de falar disso no trabalho e que sente a necessidade de esconder, porque entende o que é a homofobia e o que ela traz”, afirma Neto.

Para Neto, apesar dos recentes avanços na legislação em apoio à população LGBTI+, como a criminalização da LGBTfobia, essa evolução não é refletida na sociedade e, consequentemente, no ambiente de trabalho. A consequência disso é a falta de gays e lésbicas em posições de liderança: “O preconceito vai te excluindo. Você não é chamado para as reuniões, você não tem a mesma voz, o mesmo tipo de respeito dos seus pares. Essa LGBTfobia institucional vai tirando as oportunidades de crescimento da população LGBT”, diz.

Segundo a pesquisa, apenas 13% dos LGBTs afirmaram ocupar ou terem ocupado anteriormente um cargo de diretoria. Outros 15% ocupavam ou ocupam cargos de coordenação e gestão, enquanto 54% ocupam cargos de entrada, como analistas, assistentes ou estagiários.

“O que a gente conseguiu perceber até agora é isso. Mais dificuldade de crescer na carreira, de conseguir cargos, menor relação com os espaços de chefia, e isso é muito desumano”, afirma Neto.

A situação é ainda pior para a população transexual, principalmente para mulheres trans e travestis. Muitas sequer chegam ao mercado de trabalho pela exclusão que sofrem ainda no ambiente escolar: “Até 2017, nem o nome social elas tinham respeitado. (…) A gente tem meninas que morrem de infecção urinária por ficarem o dia inteiro na escola sem poderem ir ao banheiro”, conta Neto.

Este é o mesmo pensamento da presidente da Comissão de Diversidade Sexual e de Gênero da OAB/DF, Cintia Cecílio. Para ela, é importante que existam políticas públicas para a inclusão da população transexual. Como muitas não têm oportunidades de estudar e são expulsas de casa, a prostituição acaba sendo a única alternativa de sobreviver: “É nossa obrigação fazer com que essas mulheres que estão nas ruas, saiam das ruas. É nossa obrigação enxergá-las como seres humanos, que tenham oportunidades para estudar, para ter uma profissão diferente da prostituição”, afirma.

Um projeto da OAB/DF para o próximo ano é criar um selo que certifique empresas mecanismos para que transexuais tenham acesso ao mercado de trabalho. “Se um estabelecimento pega uma pessoa trans que está na rua e coloca em funções que não precisem de uma profissionalização tão grande, como repositor de supermercado ou na área da limpeza, já dá uma oportunidade de tirar essa pessoa da rua e ela estudar e depois estar em um emprego melhor.”, conta Cecílio.

Hoje, já existe nacionalmente o portal Transempregos, que é um programa de empregabilidade voltado para pessoas trans e travestis. O site recebe currículos de transexuais e encaminha para vagas que aceitam transgêneros, além de reunir cursos profissionalizantes e de capacitação.

Pela pesquisa, 82% dos entrevistados LGBTs afirmaram que ainda falta muito para que as empresas acolham melhor. O Observatório traz propostas de como melhorar o ambiente de trabalho e políticas que diminuam a homofobia e transfobia também nas escolas. O estudo mostra que consumidores tendem a escolher empresas com base no seu posicionamento. “Uma empresa que tem um quadro bem diverso é uma empresa que tem uma saúde muito melhor. Hoje a sociedade compra isso. O cliente também compra”, afirma Cecílio.

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