Você trocaria espaço e alguns itens de conforto — como banheiro dentro do quarto ou mesinha de cabeceira — por boa localização e preços abaixo da média na hora de reservar um hotel?
É exatamente isso que os hóspedes de um hotel na Rua da Consolação, no Centro de São Paulo, encontram ao reservar o quarto-cápsula de apenas 3 m², o menor do Brasil, segundo os proprietários:
Área suficiente para abrir a porta;
Uma cama box de solteiro e…
E é só isso mesmo.
Brincadeiras à parte, apesar de ser bem pequeno, o quarto é funcional. Voltado a viajantes que buscam estadas curtas na capital:
Comporta até duas malas médias dentro da própria cama estilo baú;
Também possui uma janelinha redonda que não passa de 30 centímetros de diâmetro;
E um ar-condicionado.
O g1 visitou a hospedagem e fez um tour pelo espaço na quarta-feira passada (22).
MiniTour
A reportagem chegou ao prédio de sete andares e vidro espelhado – que fica a 650 metros da Avenida Paulista, em frente ao Cemitério da Consolação – e entrou no elevador em direção ao segundo pavimento, onde ficam os quartos-cápsula.
Após passar por um pequeno “labirinto” de corredores, uma extensa passagem com 15 portas numeradas dispostas lado a lado, com distância máxima de 20 centímetros entre uma e outra.
Em frente aos quartos, uma pia com quatro cubas e torneiras, além de um grande espelho, que são de uso comum dos hóspedes. Aliás, essa é uma das principais dúvidas de quem tem interesse em ficar lá.
“As pessoas perguntam onde é o banheiro, se não tem banheiro dentro do quarto”, contou ao g1 Guilherme Martins, sócio do São Paulo Hostel Club.
A resposta é: os banheiros são compartilhados, mas Guilherme garante que a limpeza está sempre em dia.
Outra pergunta possível: Pode levar acompanhante? Não. Mas um casal pode se hospedar em um espaçoso quarto de 6 m².
“A ideia do quarto-cápsula veio quando fizemos uma viagem ao Japão. É uma tendência muito grande lá. A gente queria trazer um modelo para o Brasil. Montamos um protótipo do que seriam as cápsulas, e a que foi mais aceita foi a que montamos aqui”, explicou o empresário.
No espaço, há 23 cápsulas individuais;
14 de casal;
O preço mais em conta anunciado no site é de R$ 79
Mas varia de acordo com a época do ano (no final de semana do Lollapalooza, por exemplo, uma diária saía por R$ 211);
Diárias em outros quartos de hotel na mesma região — suítes, na maioria dos casos — custam a partir de R$ 145, em média.
A cápsula individual visitada pela reportagem mede 3 metros de comprimento (o equivalente a quase quatro passos curtos) por 1 metro de largura (ou um passo e meio). Não é possível esticar os dois braços para o lado, por exemplo:
“Pós-graduado” em acomodações incomuns
Um dos hóspedes que já passaram pelo hotel é criador de conteúdo Eliezer Tymniak, de 27 anos. Ele começou a vender brigadeiros em Brasília em 2015 e tinha um objetivo em mente: viajar, não importava como.
“De R$ 1 em R$ 1, comprei passagem, passaporte e comecei a sair para o mundo com viagens bem econômicas mesmo”, contou ao g1.
Se tem alguém que entende de passar perrengue e dormir em lugares minimamente incomuns, esse alguém é ele. Com mais de 40 países na bagagem, já dormiu na rua, em barraca, praças, aeroportos, carros, vans… e até um banheiro químico.
Nessas viagens, Eliezer passou a compartilhar em vídeo as inúmeras experiências vividas, e hoje soma nas redes sociais mais de 6,8 milhões de seguidores, que acompanham sua rotina de aventura.
De passagem pela cidade de São Paulo neste mês, ele ficou hospedado no quarto-cápsula na Consolação e garantiu que nunca viu algo parecido em solo brasileiro:
“Foi realmente o menor quarto de hotel do mundo que eu fui na minha vida. Nunca vi nenhum quarto igual a esse no Brasil, ainda mais com camas de solteiro. Não tem nenhum espaço entre as portas, basicamente. É literalmente só o espaço de abrir a porta e já cai na cama”.
Mas a realidade é que o hotel em São Paulo não passou de um grande luxo para ele, levando em consideração os 7 anos de andanças pelo planeta. Eliezer relembrou uma das experiências mais estranhas que teve de se submeter: dormir em algo muito parecido com um caixão.
“Fiquei na capital da Malásia em um hostel que ficava no 25º andar de um prédio. Era tipo um caixão. Não tinha aquele teto. Era realmente um caixão de madeira, parecia que estava morto. Era escuro e tal, foi até meio claustrofóbico”, contou.