Os órgãos de Matheus Rodrigo de Oliveira, menino que morreu após engolir um apito em Santa Catarina, foram doados a seis crianças, conforme a família. “Foram seis vidas que nosso herói salvou com apenas 7 anos. Era justamente o sonho dele: ser bombeiro para salvar vidas”, afirmou a avó Loreni Pereira de Campos.
A morte de Matheus foi confirmada pelo Hospital Pequeno Anjo, em Itajaí, no Litoral Norte, na sexta-feira (18). O acidente ocorreu em 12 de fevereiro em Navegantes, na mesma região. O menino ficou seis dias internado.
Órgãos como coração, olhos, fígado e rins de Matheus foram doados. A família tomou a decisão após viver a angústia da espera por um doador compatível de medula óssea. A mãe da criança perdeu um irmão vítima de leucemia antes de conseguir achar um doador.
“Hoje temos duas estrelinhas no céu, mas com a certeza que tem mais seis Matheus aqui na Terra. Tem uma criança olhando o mundo pela primeira vez com os olhos dele. O coração dele está batendo no peito de uma criança. Uma criança está falando pela primeira vez com a voz dele. Tem crianças que receberam seus rins e fígado. Temos certeza que o Matheus continua vivo” disse o tio da criança Anderson Santos em uma publicação nas redes sociais.
“A gente sabe o quanto é ruim para quem está esperando [por um transplante]. Então se ele puder salvar a vida de outra criança, tenho certeza de que onde ele estiver vai ficar muito feliz”, disse a mãe do menino, Tiele Costa de Oliveira.
Antes de ter a morte confirmada, Matheus ficou internado na Unidade de Terapia Intensiva (UTI) e respirava por ventilação mecânica após engolir o objeto. Segundo Tieli, havia esperança de reverter o quadro até os últimos momentos.
Matheus era o segundo mais novo entre quatro irmãos. Tinha comemorado o sétimo aniversário no dia 1º de janeiro.
“Esses sete anos que tive a chance de viver com ele foram só alegria. Um garoto muito esperto, inteligente, amoroso, cuidadoso com as coisas”, disse.
Ocorrência comum
A médica do Departamento Científico de Segurança da Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP) Renata Waksman afirmou que esse tipo de acidente, em que uma criança engole um objeto é “supercomum”. “Infelizmente temos bastante mortes, principalmente no primeiro e segundo anos de vida”, afirmou.
Segundo dados do Datasus, divulgados pela médica, 578 crianças com menos de 1 ano morreram por causa desse tipo de acidente em 2019. No grupo de 1 a 4 anos, foram 136 óbitos. De 5 a 9 anos, faixa etária de Matheus, foram 50 vítimas. De 10 a 14 anos, 37. E de 15 a 19 anos, 58 mortes.
Waksman também divulgou outras informações sobre os acidentes em que as crianças engolem algum objeto:
a incidência por corpos estranhos é grande nos primeiros 3 anos de vida, costuma ocorrer em caso e ocorre principalmente com meninos
alimentos, moedas, balões e brinquedos são os principais agentes causadores
o acidente também pode ocorrer com grãos. No Brasil, os mais comuns são milho, feijão e amendoim
o material mais relacionado a morte imediata por asfixia é o sintético: balões de borracha, estruturas esféricas, sólidas ou não, como bola de vidro e brinquedos
Recomendações do Corpo de Bombeiros
O 1° tenente do Batalhão Militar os Bombeiros Douglas Amaral da Cunha indicou algumas recomendações que podem ser seguidas por pais ou responsáveis para tentar evitar e saber como agir em situações semelhantes.
Sufocamento
Atente para sacos plásticos, fios e cabos e travesseiros fofos que podem provocar asfixia;
Estrados e colchão firmes são mais seguros;
Não permita que crianças mastiguem ou manuseiem objetos que possam ser engolidos;
Evite cordões ou gravatas em torno do pescoço da criança;
Utilize apenas berços certificados e evite deixar objetos com o bebê na hora de dormir.
Brinquedos
Devem ser grandes o bastante para não serem engolidos e resistentes para não quebrarem;
Não devem possuir pontas;
Respeite a indicação de faixa etária do brinquedo ao oferecê-lo à criança.
Como agir em caso de engasgamento com bebês (manobra de tapotagem)
Colocar o bebê de bruços sobre um dos antebraços;
Encaixar o queixo da criança entre dois dedos para que a cabeça fique firme;
As pernas do bebê devem ficar abertas, uma para cada lado do braço;
Posicione o braço para que a cabeça do bebê fique ligeiramente inclinada para baixo;
Com a outra mão, dê leves tapas nas costas do bebê para desobstruir as vias aéreas,
O líquido/objeto deve sair pela boca e ou nariz.
Acidente com Matheus
Segundo os bombeiros, o menino engoliu o objeto plástico, que tinha cerca de dois milímetros de espessura e cerca de três centímetros de comprimento.
O menino brincava com os amigos na frente de casa quando engoliu o apito. Quando a vizinha chamou os pais de Matheus, o menino já estava desacordado e foi levado às pressas à base dos bombeiros.