Uma história de filme. A PF (Polícia Federal) informou, nesta segunda-feira (19), que Ida Verônica Feliz, tirada a força de casa em que morava com a família adotiva em Cuiabá, em Mato Grosso, em 2013, foi localizada na cidade de Cassola, na Itália. De acordo com a PF, a menina foi achada por autoridades italianas com os pais biológicos e não foram divulgados detalhes da operação.
Ida foi levada de casa quando tinha oito anos. Ela foi adotada com quatro meses, depois que os pais biológicos, a dominicana Elida Isabel Feliz e o italiano Pablo Milano Escarfulleri foram presos por tráfico de drogas.
Segundo o delegado Flávio Stringueta da GCCO (Gerência de Combate ao Crime Organizado) e da Divisão Antissequestro da Polícia Judiciária Civil de Mato Grosso, homens armados chegaram à residência e pediram água. A mãe adotiva, Tarcila Gonçalina de Siqueira, não estava em casa no momento e Ida se encontrava na residência apenas com a irmã, filha biológica de Tarcila.
— Homens entraram, pediram água e na hora que a mulher [irmã adotiva] distraiu, sacaram a arma e pegaram a menina. Entraram num carro branco e sumiram. Nós acreditamos que eles fugiram pela Bolívia porque tem menos fiscalização.
Stringueta ressalta que ao desconfiar que os pais biológicos contrataram os sequestradores profissionais para raptar a garota, descobriu por meio da interceptação de e-mail e de telefone da mãe biológica, que a garota estava na República Dominicana e tinha uma entrevista marcada no consulado italiano daquele País para tirar a cidadania italiana. A entrevista estava marcada para o dia 6 de maio de 2013.
— Menos de um mês depois [do desaparecimento], eu acionei a Interpol. Descobrimos que a mãe biológica estava agendando uma entrevista no consulado italiano na República Dominicana.
Mas, mesmo com o aviso, a criança não foi encontrada na época. Os pais biológicos de Ida foram presos no Brasil por tráfico de drogas. Pablo Milano Escarfulleri chegou a cumprir três anos da pena no País e depois foi expulso para a Itália. Elida Isabel Feliz estava cumprindo a pena em um presídio de Santa Catarina. Ela acabou tendo um filho na prisão e o menino ficou com uma família substituta. Mas o garoto também foi levado por Elida.
— Ela estava no semiaberto e, num fim de semana, pegou o menino e não voltou mais para a cadeia.
Ainda de acordo com Stringueta, Tarcila — mãe adotiva de Ida — tinha a guarda provisória da criança e não foi em busca da definitiva, pois nunca imaginava que os pais biológicos pudessem reivindicar a criança algum dia.
— Como os pais biológicos não mostraram interesse, ela relaxou e estava cuidando da menina com a guarda provisória.
A filha biológica de Tarcila era camareira de um hotel onde Escarfulleri e Elida deixaram Ida e foram traficar drogas. Ida viveu oito anos com a família adotiva em Mato Grosso. Atualmente, ela está com dez anos.
A menina, que tem cidadania italiana e dominicana, precisa da autorização das autoridades italianas para retornar ao Brasil. Como a adoção definitiva nunca foi concluída, Ida não tem cidadania brasileira, o que complica ainda mais a situação.
— Juridicamente, não tem nada que resguarde esse direito [de voltar para o Brasil].
O delegado resume que a sensação é de dever cumprido, mas também de frustração.
— Hoje toda a gerência está feliz com o encontro porque esse era o objetivo desde o início. Infelizmente, se tivesse encontrado na época, poderíamos trazer essa menina. Agora esse tempo todo, com a família biológica, a menina criou vínculos.