A busca por uma boa noite de sono tem feito muitos brasileiros aderirem ao uso de melatonina, um hormônio produzido pelo cérebro que é responsável por regular e estimular o sono ao final do dia. Em 2022 foram comercializadas mais de 3,6 milhões de unidades do suplemento, que passou a ser vendido sem receita médica em outubro de 2021, após aprovação da Diretoria Colegiada (Dicol) da Anvisa.
Um levantamento realizado pela Sindusfarma a pedido do SBT News revelou que as vendas de melatonina saltaram de 529,4 mil unidades entre janeiro e março de 2022 para 1,34 milhões no mesmo período de 2023, um aumento de 153,3%. A projeção é que este ano sejam comercializadas mais de 5 milhões de caixas do suplemento.
Os números são reflexo de um problema que preocupa a comunidade médica. Isso porque o uso inadequado e indiscriminado de melatonina, no longo prazo, pode causar declínio cognitivo grave, problemas psiquiátricos e pânico. O neurologista do Hospital Albert Einstein, Wanderley Cerqueira, explica que o hormônio é importante na regulação do sono e, consequentemente, na consolidação da nossa memória recente e antiga, porém não pode ser usado indiscriminadamente como “remédio para dormir”.
Atualmente, mais de 70 milhões de brasileiros sofrem com problemas no sono, o que inclui a insônia, segundo um estudo da Fundação Oswaldo Cruz (FioCruz). “Por conta do estresse, ansiedade, o uso de telas e substâncias psicoestimulantes, dentre outros fatores, o sono acaba sendo afetado, alterando a cognição, a memória. Muita gente acha mais fácil comprar melatonina na farmácia para arrumar o sono, o que está totalmente errado. Existem dúvidas se a melatonina exógena, que é desenvolvida em laboratório, tem realmente a ação da melatonina produzida pelo nosso organismo”, alerta Cerqueira.
O neurologista também observa que o uso inadequado do hormônio pode causar problemas sérios de saúde e, inclusive, o efeito contrário esperado pelas pessoas: “Se for usado sem prestar atenção no horário do sono, de qualquer jeito, em qualquer quantidade, ela pode causar problemas sérios de memória, dores de cabeça, vômito, fadiga, sensação de medo, pânico e até insônia crônica”, finaliza.