O massacre de Suzano, que completa um ano nesta sexta-feira (13), marcou o fim da vida de oito alunos da Escola Raul Brasil, de um empresário e das duas pessoas que cometeram os assassinatos, enlutando os 150 mil habitantes da cidade no Alto Tietê paulista. Os responsáveis diretos pelo crime, Guilherme Taucci, 17 anos, e Luiz Henrique Castro, 25 anos, morreram, mas aqueles que forneceram as armas estão vivos e em liberdade após serem julgados.
As investigações feitas pela Polícia Civil de São Paulo terminaram com cinco pessoas apontadas como suspeitas. Um adolescente, internado na Fundação Casa por ser suposto mentor intelectual dos crimes, e quatro adultos, indiciados pela Polícia Civil por vender armas e munições aos responsáveis.
Na justiça, o processo pedia a prisão dos quatro suspeitos de venda de armas por oito homicídios consumados (no caso dos alunos que morreram) e 11 tentativas de homicídios (no caso daqueles que ficaram feridos). A decisão dada pelo juiz responsável pelo caso, Fernando Augusto Andrade Conceição, declarou improcedente as queixas que responsabilizariam os réus por esses crimes em específico, mas no dia 27 de fevereiro de 2020, condenou dois deles, absolveu outro e transferiu o julgamento do quarto para a Comarca de São Paulo.
Todos os indiciados responderam por crimes referentes ao Estatuto do Desarmamento. Geraldo Oliveira Santos, conhecido como Buiú, e Cristiano Cardias de Souza, chamado de “Cabelo”, suspeitos de vender arma e munições para Taucci, foram condenados a 4 anos de prisão, mas tiveram pena revertida em restritiva de direito, quando podem responder em liberdade na condição de prestar esclarecimentos e trabalhos comunitários.
A decisão revoltou muitos, mas, segundo o mestre em direito penal Glebson Bezerra, se mostra coerente dentro do âmbito jurídico . “Embora a gente tenha um entendimento de que a pena deve ser pensada para a sociedade, porque a gente tem um pensamento punitivista, não é assim que ela funciona. A gente precisa entender que todo mundo deve ser julgado diante de sua culpabilidade”, afirma. Para ele, porém, a escolha de não impor a pena dentro do cárcere pode não cumprir a finalidade.
“O grande questionamento que a gente precisa fazer é: será que essa pena realmente vai atingir a finalidade? Eu acredito que não. Porque para alguém que faz a mediação entre adolescente e uma pessoa que vende armas ter uma pena restritiva de direitos e prestação de serviços à sociedade não vai ter ressocialização nenhuma”, pontua.
Confira as decisões judiciais referentes a cada um dos acusados:
Geraldo de Oliveira Santos, chamado de “Buiu”: é suspeito de vender ao autores do crime um revólver calibre 38 . Foi condenado a quatro anos de reclusão e pelo crime previsto no artigo 17 o Estatuto do Desarmamento, que proíbe a venda de armas sem autorização. Apesar da condenação, ele foi considerado dentro dos requisitos para cumprir pena restritiva de direito, não indo para a cadeia. Geraldo foi condenado a pagar 10 dias de multa e deve prestar trabalhos comunitários a serem definidos.
Cristiano Cardias de Souza, chamado de “Cabelo” e “Barroso”: teria feito o intermédio entre os jovens e Buiu para venda da arma e fornecido munição para o revólver. Foi inicialmente condenado a quatro anos de reclusão pelo artigo 17 do Estatuto do Desarmamento, mas, assim como Geraldo, vai cumprir a pena restritiva, pagando 10 dias de multa e prestando trabalhos comunitários.
Márcio Germano Masson, chamado de “Alemão”: suspeito de fornecer munição aos criminosos, foi absolvido por falta de provas que o liguem ao crime.
Adeilton Pereira dos Santos: suspeito de ter participado do intermédio para venda da arma. Teve caso redistribuído para a Comarca de São Paulo por “ incompetência do juízo ”. Ele poderá recorrer à sentença em liberdade.
Além deles, um adolescente de 17 anos e identidade não revelada está sob custódia. Ele foi apontado pela polícia como “mentor intelectual” do crime, planejando assassinatos em conversas do WhatsApp. Nos diálogos, o jovem falava em cometer estupros contra as meninas e em usar granadas no ataque.
Com apoio de amigos e família, uma professora nasce de novo
A professora Rita* trabalhava há mais de uma década na Raul Brasil no momento do ataque. Sobreviver ao terror que se passou dentro da escola fez com que ela considerasse o 13 de março como uma nova data de aniversário. O renascimento, porém, a transformou em uma pessoa que batalha diariamente para superar o trauma. “Desde o ocorrido tenho problemas com sono. Não durmo mais uma noite inteira, mesmo tomando remédio. Não consigo mais desenvolver minhas atividades da mesma forma. Chego a dizer que parece que sou outra pessoa”, afirma.
Em constante tratamento psicológico e psiquiátrico desde o ocorrido, a docente
“Não tive nenhuma ajuda há não ser o apoio dos colegas de trabalho e da minha família. O governo do estado parece estar mais preocupado em aparecer na mídia do que em se preocupar com as pessoas, pelo menos com professores”, lembra. Para Rita, focar no caso da Raul Brasil como fato isolado pode ser um erro.
“Reformar a escola foi um ato bom, mas não temos só a Raul Brasil como vulnerável. Nós temos várias escolas no estado de São Paulo que estão sujeitas a ações como essa e a gente não está vendo ação nenhuma de medidas de proteção nessas outras escolas, infelizmente”, analisa.
Fonte: undefined – iG @ https://ultimosegundo.ig.com.br/brasil/2020-03-12/um-ano-apos-crime-vendedores-das-armas-do-massacre-de-suzano-estao-soltos.html