Há quase cinco anos de sua primeira convocação para a seleção, Marquinhos acumula experiências em sua trajetória.
Aos 24 anos, o zagueiro do Paris Saint-Germain foi à Rússia e viu alguns de seus colegas de clube se sagrarem campeões do mundo. Perdeu posição antes de começar o torneio em que o Brasil foi eliminado diante da Bélgica e agora, passados dois meses, se vê de novo como titular.
Em entrevista ao Estado, ele descreve os bastidores do PSG e os desafios de seu colega de time e amigo Neymar. Comenta o resultado desta janela de transferências, que implica em sua possível mudança de posição, e aponta o Liverpool como um dos fortes da Europa. Os amistosos do Brasil, a situação política do País e as consequências do calendário do futebol também são assuntos tratados nesta entrevista exclusiva.
Como foi a volta da Copa e o reencontro com os franceses, campeões mundiais?
Foi bom, é claro que uns voltaram mais felizes e outros mais tristes. Temos um treinador novo que vem implantando filosofias importantes, questões de disciplina e cuidados extracampo. Além de ter uma filosofia de jogo muito inteligente, ele sabe analisar os rivais.
Você tem sido aproveitado em posições diferentes. Ora zagueiro, ora lateral e mais no meio no PSG. Como lida com isso?
Pelas minhas características, os dois técnicos (da seleção e do PSG) sabem que sou zagueiro, é onde me sinto melhor, mas também sabem do meu espírito de time, da vontade de ajudar, e quando precisam eu me proponho a fazer. Mas não existe uma mudança de posição, a zaga é onde consigo atuar melhor, é onde vou ficar.
Há desconfianças pelas contratações da temporada no PSG?
A gente não sabe bem o que acontece nessa parte, mas a gente sabe que não é tão simples e fácil contratar grandes jogadores, principalmente por todo nosso histórico de compras. A gente sabe que os clubes acabam pedindo muito. Com certeza foi uma janela difícil para o PSG. Mas há jogadores de qualidade para atuar em todas as posições, basta todos estarem disponíveis, fazendo o que o técnico pede.
Qual é o time a ser batido nesta temporada na Europa?
O Real, campeão na última Liga. Outros grandes chegam fortes, como o Liverpool. Há times com grandes nomes como Barcelona, Bayern e City.
Existe “panelinha” de brasileiros nos bastidores do PSG?
Por ser patriota, falar a mesma língua, comer as mesmas coisas, por ter os mesmos costumes acabamos nos encontrando mais, mas temos um grupo de WhatsApp do time inteiro, onde a gente conversa muito, zoa muito, é bastante ativo. É um grupo sadio.
Muito se fala de Neymar… ele é de pedir conselhos?
As pessoas que pensam que é fácil ser ele, pensam só no lado bom de ser Neymar, do lado fácil da vida de jogador, das mordomias, mas se esquecem da trajetória. Todos que conhecem o Neymar sabem que ele é especial, diferenciado, um menino de ouro. Hoje, sei quando ele precisa de um conselho, quando precisa ter um tempinho, quando está feliz ou triste. Ele escuta meus conselhos, ouve muito o pai, já presenciei muitas vezes os amigos falando quando tem de falar, o Thiago Silva, Daniel Alves… ele é rodeado de gente que quer o bem dele, quer somar e ajudar. O Neymar é especial, mas é uma pessoa normal.
Acredita que os grandes ídolos também passaram pela mesma situação que a dele?
Esse lado de pressão vem junto, ele sabe bem que tem de existir isso, é normal, creio que todos os outros craques também tiveram momentos bons e ruins. Mas hoje, com as redes sociais, fica fácil ver alguém comentando de você, alguém que quer te colocar para baixo. Tem muito mais gente para falar mal do que para apoiar. Às vezes, depois de um jogo em que as coisas não vão muito bem, o Neymar entra nas redes e vê o que não quer, uma mensagem que não gosta, alguém falando mal. Eu sofro com isso. Imagina o Neymar, pela dimensão do que representa? Quando perdemos, somos um lixo de pessoa.
Como você viu a convocação feita por Tite para os amistosos contra EUA e El Salvador?
Ele expôs o que passamos na Copa, que a gente fez um bom trabalho, tínhamos potencial para ir mais longe… Então, a única coisa que faz passar, faz amenizar a decepção e a dor é entrar em campo e trabalhar.
Os amistosos escolhidos para o Brasil nessas duas primeiras datas foram rivais fracos. Quais são as consequências disso?
É sempre bom enfrentar grandes times, ter grandes desafios, porque são nos grandes testes que você vê os mínimos detalhes e os pequenos erros. O jogo grande te dá ansiedade, gosto de jogar, é bom para todos, mas infelizmente não é a gente que cuida disso, a gente não pode dar “pitaco”. Está nas mãos da CBF.
Como jogador, quais as consequências de jogar uma média de dois a três jogos na semana?
É desgastante e talvez isso acabe de uma certa maneira diminuindo o desempenho de alguns atletas que têm de jogar esses jogos. Na Europa, a gente faz média de 45 jogos, um time que chega em várias finais, joga 50, 55 partidas. Não passa de 60. São cerca de vinte jogos a mais do que no Brasil, até mais, o que é bastante coisa.
Os jogadores estão saindo do Brasil cada vez mais cedo para jogar na Europa. Além do salário, quais outros motivos podem ser decisivos na hora da escolha?
Há muitas variáveis que contam, tem o sonho de criança, de estar com grandes craques. Na minha época, assistia Kaká, Ronaldinho e Ronaldo. O desgaste e o calendário que também podem influenciar, mas penso que menos. Creio que é mais a questão do sonho, da experiência de vida, de uma oportunidade melhor à família.
Como você está enxergando esse momento do Brasil?
O momento é bem delicado. É até perigoso expor sua opinião. Tem gente sendo atacada por isso. O Brasil é um país maravilhoso, mas infelizmente falta segurança, peca em algumas coisas que quando a gente mora fora a gente percebe mais. Somos um país jovem que tem tudo para ser uma grande potência. Cada um tem de respeitar a opinião e gostos do outro, se lutarmos todos juntos poderemos crescer sempre.