segunda, 23 de dezembro de 2024
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Manta de LED pode ajudar em tratamento de obesidade

Pesquisadores da Universidade Federal de São Carlos (UFSCar) desenvolveram uma manta coberta com lâmpadas de LED (diodos emissores de luz, em inglês) que demonstrou, em testes clínicos e pré-clínicos, capacidade…

Pesquisadores da Universidade Federal de São Carlos (UFSCar) desenvolveram uma manta coberta com lâmpadas de LED (diodos emissores de luz, em inglês) que demonstrou, em testes clínicos e pré-clínicos, capacidade de aumentar o ganho de força e de resistência muscular proporcionado pela atividade física, além de diminuir a inflamação e acelerar a regeneração do tecido após o treino.

O produto, desenvolvido em parceria com cientistas do Instituto de Física de São Carlos (IFSC), da Universidade de São Paulo (USP), foi patenteado e a expectativa é que chegue ao mercado ainda em 2014.

Parte da pesquisa foi realizada com apoio da FAPESP durante o doutorado de Cleber Ferraresi. O orientador do trabalho foi o professor Nivaldo Antonio Parizotto, do Centro de Ciências Biológicas e da Saúde (CCBS-UFSCar), que apresentou uma conferência sobre fototerapia durante a 29ª Reunião Anual da Federação de Sociedades de Biologia Experimental (FeSBE), realizada em agosto em Caxambu (MG).

“A fototerapia de baixa intensidade atua em conjunto com o exercício físico, fazendo com que o tecido muscular responda mais intensamente ao estímulo e produzindo um efeito de performance muito interessante. Pode ser útil tanto no esporte como na reabilitação e recuperação funcional de pacientes em várias circunstâncias”, disse Parizotto em entrevista à Agência FAPESP.

Segundo o pesquisador, a manta será feita de material plástico, terá entre 50 e 200 lâmpadas de LED de tamanhos variados, de acordo com a parte do corpo a ser tratada. Poderá ser usada luz em dois diferentes comprimentos de onda: vermelho (630 nanômetros) e infravermelho (850 nm).

“Temos feito diversos estudos para determinar qual é a dose necessária para se obter a melhor resposta do músculo e em que momento a fototerapia é mais eficaz. Nossos dados mostram que fazer a intervenção logo após a prática de atividade física é o ideal”, contou Parizotto.

A luz, explicou, auxilia na estimulação das chamadas células-satélites – um tipo de célula-tronco encontrado na periferia da fibra muscular. Essas células permanecem em estado quiescente (repouso) até serem ativadas pelo exercício físico. Elas então se proliferam, se diferenciam e ajudam a regenerar as fibras musculares lesionadas e a aumentar o tecido.

“Sabemos que a prática de atividade física estimula a liberação de radicais livres de oxigênio, causando o chamado estresse oxidativo. Nossos estudos indicam que o uso da manta após o treino favorece a entrada de determinadas enzimas nas células musculares que ajudam a neutralizar esses radicais livres, reduzindo a inflamação, a fadiga e acelerando a regeneração muscular”, disse Parizotto.

Mecanismos de ação

Diversos experimentos vêm sendo realizados pelo grupo de pesquisadores na tentativa de elucidar mais profundamente os mecanismos pelos quais a fototerapia beneficia o tecido muscular.

Durante o doutorado de Ferraresi, por exemplo, os experimentos envolveram voluntários submetidos a um treinamento de força nos quais foi feita a análise da expressão de 44 mil genes, por uma tecnologia conhecida como microarray.

“Para avaliar a mudança no padrão de expressão gênica, fizemos uma biópsia do músculo vasto lateral, localizado na coxa, antes e depois do período de treinamento. Fizemos também avaliação da força muscular por um método conhecido como dinamometria isocinética”, contou Parizotto.

Os voluntários foram divididos em dois grupos. Ambos foram submetidos a exercícios de musculação para o quadríceps durante 12 semanas. Após as sessões de treino, metade recebeu a fototerapia e, a outra metade, apenas uma manta que simulava o tratamento.

No grupo da fototerapia, a força medida no músculo-alvo aumentou cerca de 55%, contra apenas 27% no outro grupo. Os resultados foram divulgados na revista Lasers in Medical Science.

“A análise em microarray mostrou que a manta de LED aumentou a expressão de genes relacionados à hipertrofia muscular e reduziu a expressão de genes que inibem o ganho de massa. Ou seja, criou uma conjuntura molecular para fazer esse ganho ficar mais elevado”, disse o pesquisador.

Em outro estudo clínico feito durante o mestrado de Wouber Hérickson de Brito Vieira, também sob a orientação de Parizotto, 45 mulheres foram submetidas a um treino de resistência aeróbica em bicicleta ergométrica durante 12 semanas, e parte delas recebeu o tratamento com a fototerapia pós-treino no músculo quadríceps femoral.

As análises mostraram que a fototerapia reduziu a fadiga muscular e aumentou a tolerância ao esforço. Os resultados foram divulgados na revista Lasers in Medical Science.

Outro ensaio clínico foi realizado durante o mestrado de Thiago Maldonado, desta vez com 16 atletas profissionais pertencentes às categorias de base do clube Sociedade Esportiva Palmeiras.

“Todos os voluntários treinaram conforme o procedimento de rotina do preparador físico durante cinco dias por semana, durante seis semanas, sendo que um grupo recebeu a manta de LED nos músculos da coxa após os treinos e, outro, o tratamento placebo”, contou Parizotto.

O grupo que recebeu a fototerapia, contou o pesquisador, apresentou no final do experimento performance física superior no salto vertical (9,4% com manta contra 3,6% simulado), salto horizontal (8,8% com manta contra 3,2% simulado), assim como reduziu o tempo na velocidade de corrida curta (-2,97% com manta contra -1,04% simulado).

ratamento de obesidade

Há ainda outro braço da pesquisa, realizado em parceria com cientistas da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), no qual está sendo investigada a eficácia de uma manta de lasers no tratamento da obesidade.

Durante um ensaio clínico, 64 mulheres foram submetidas a uma hora de treinamento que combinava exercícios aeróbicos e de força, três vezes por semana. O grupo que recebeu a fototerapia após os treinos apresentou perda de massa corporal 48% maior. Além disso, também foi observada maior perda de gordura total (47%) e de gordura visceral (53%), maior redução na circunferência da cintura (35%) e do quadril (72%) e uma melhora mais acentuada no perfil lipídico (redução de colesterol e triglicérides).

Atualmente, os pesquisadores estão analisando como a fototerapia modulou a produção de citocinas inflamatórias no tecido adiposo das voluntárias.

“A obesidade, como se sabe, é acompanhada de um processo inflamatório crônico. A manta ajuda a conter essa inflamação e a aumentar a queima de gordura durante a atividade física”, disse Parizotto.

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