A mancha de poluição do Rio Tietê cresceu neste ano e agora se estende por 122 quilômetros, um aumento de 43% em relação a 2021, quando atingiu 85 quilômetros, segundo relatório da Fundação SOS Mata Atlântica.
Os dados são do Observando o Tietê 2022, que foi divulgado nesta quinta-feira (22), Dia do Rio Tietê. O monitoramento também foi feito por uma equipe técnica da causa Água Limpa e mostra ainda que a água de boa qualidade foi reduzida de 124 quilômetros, no ano passado, para apenas 60 quilômetros, na atual medição.
A poluição tornou a água imprópria em 21,18% dos 576 km monitorados. Segundo a fundação, o estudo foi realizado por 35 grupos voluntários, entre setembro de 2021 e agosto de 2022, desde a nascente, em Salesópolis, até Barra Bonita.
Os dados apontam comprometimento nas Bacias do Alto Tietê, Sorocaba Médio Tietê e Piracicaba-Capivari-Jundiaí (PCJ), que correspondem à metade da Bacia Hidrográfica do Rio Tietê.
Maior rio paulista, com 1.100 quilômetros da nascente à foz, o Tietê corta o estado de São Paulo de leste a oeste e é dividido em seis unidades de gerenciamento de recursos hídricos (UGRHs), também chamadas de bacias hidrográficas.
Os dados foram compilados com a média do Índice de Qualidade da Água (IQA) em 55 pontos de coleta distribuídos por 31 rios da bacia do Tietê, sendo 11 pontos ao longo do rio principal. Esses pontos de análise estão distribuídos por 27 municípios, sendo 14 na capital paulista.
Gustavo Veronesi, coordenador do programa Observando os Rios, afirma que o grande motivo da perda de trechos com qualidade de água boa e da piora, principalmente em cidades no interior, ocorre pela transferência de sedimentos contaminados acumulados no reservatório de Pirapora do Bom Jesus para o Médio Tietê.
Os sedimentos têm altas cargas de Demanda Bioquímica de Oxigênio (DBO) e reúnem remanescentes de esgotos e lixo, defensivos agrícolas e fuligem de carros.
“O maior revolvimento [operação que prepara a terra para a semeadura] do solo para os plantios e o uso mais intenso de fertilizantes e agrotóxicos para as culturas agrícolas têm implicado em grande produção de sedimentos que atingem os rios e que carregam consigo nutrientes e poluentes, que formam algas e consomem o oxigênio dissolvido da água”, explica.
Qualidade da água
Em 2021 foram monitorados 53 pontos, com índice bom em seis, regular em 36, ruim em sete, e péssimo em quatro.
Na bacia do Alto Tietê, na região de cabeceira, os indicadores apontam melhora na condição ambiental e redução da Demanda Bioquímica de Oxigênio (DBO) nos rios Tietê e Pinheiros, apesar de ainda estarem em condição ruim e péssima, conforme o estudo. O pior resultado medido está no Reservatório de Edgard Souza, em Santana do Parnaíba.
A situação com algas afeta diretamente o turismo em Barra Bonita, onde há passeios de barco que podem subir as eclusas. Os moradores da área ficaram preocupados com a intensa coloração verde que voltou a afetar a água no começo do ano.
De acordo com Veronesi, outra causa apontada para o aumento da mancha é a expansão das cidades e o surgimento de grandes áreas urbanas na região do Tietê. Ainda segundo ele, na região metropolitana de São Paulo, mesmo que a qualidade da água ainda esteja abaixo do aceitável, houve nos últimos anos uma melhora em função das obras de saneamento.
A Bacia do Rio Tietê abrange 265 municípios, numa área total de 9.172.066 hectares, com 79% do território no bioma Mata Atlântica, em 7.227.066 hectares e o restante no Cerrado.
Em 28 de julho de 2010, a Assembleia Geral das Nações Unidas declarou o acesso à água limpa e segura e o saneamento como direito humano essencial para a vida e condição para alcançar todos os outros direitos humanos.
Rio Pinheiros
Dos quatro pontos péssimos, três estão no rio Pinheiros, na capital paulista, que faz parte da Bacia Hidrográfica do Tietê. O Pinheiros passou por ações de saneamento, dentro de um recorte do Projeto de Despoluição do Rio Tietê, no Novo Rio Pinheiros.
O programa conectou mais de 649 mil imóveis da bacia do rio Pinheiros à rede de esgoto, beneficiando mais de 1,8 milhão de pessoas. Neste semestre começam a operar as Unidades de Recuperação (URs), que vão tratar a água nos córregos e retirar a carga orgânica, segundo a governo do estado.
O levantamento aponta que foram analisados os pontos de coleta nas Pontes do Jaguaré, Cidade Jardim e João Dias.
Com as ligações de esgoto, segundo os especialistas da fundação, pode levar tempo para serem observadas melhoras na qualidade da água, mas no cheiro do rio o resultado já é positivo.
Segundo o relatório, houve um único ponto de análise que saiu da condição regular para boa. Os pontos de monitoramento do córrego do Sapateiro e do Água Podre, na capital, registraram melhora no IQA.
Espuma tóxica
Em Salto, a região apresenta um fenômeno em que o rio fica coberto por espuma quando as águas estão agitadas. Gustavo Veronesi afirma que a poluição com sabão e restos de produtos de limpeza causam a situação.
“A espuma de Salto se deve principalmente ao começo das corredeiras. O Tietê passa pela região metropolitana, praticamente sem nenhum declive, e a partir de Santana do Parnaíba ele vai tendo corredeiras. Em Salto, o sabão na água quando passa [pelas corredeiras], que é o resquício de detergente, de sabonete, de sabão, o esgoto não tratado, se agita e forma as espumas.”
Foi verificada uma melhora no rio Piraí, em Salto, em que a qualidade da água saiu de regular para boa. Os índices que apontam comprometimento na qualidade da água foram aferidos em quatro pontos que saíram de regular para ruim.
O rio perdeu qualidade em Botucatu, que vinha apresentando qualidade boa e caiu para regular. Os especialistas acreditam que fatores climáticos de poluição difusa e de transferência de cargas de poluição e sedimentos contaminados de Reservatórios do Alto Tietê para o Médio Tietê impactaram os indicadores.
A perda de qualidade da água em trechos do interior seria também pelo uso de agrotóxicos e fertilizantes químicos. Houve piora nos rios Caiacatinga e São Luiz, no interior do estado de São Paulo, na área de abrangência do Comitê de Bacia Hidrográfica do Sorocaba Médio Tietê.
No rio Jundiaí, em Salto, também foi constatada perda na qualidade no ponto de coleta que sofre influência do crescimento populacional.