Na última sessão do Supremo Tribunal Federal (STF), o ministro Luís Roberto Barroso, lançou barro na cara do também ministro Gilmar Mendes, para deleite de muita gente que, a exemplo do Ministro Barroso, estava engasgada com certas atitudes de Gilmar Mendes, especialmente com relação aos Habeas Corpus, ou deveríamos dizer “Abre as Portas”, concedidos por ele naquele tribunal.
Imagino que, após o round ocorrido em plena sessão do STUFC, assistido por milhares de pessoas na reprodução sucessiva do momento nos telejornais e no compartilhamento de vídeo pelas redes sociais, lá nos corredores e salas internas do tribunal, muitos dos sisudos ministros devem ter bradado um “Yeeees, Barroso”, com sorrisos de orelha a orelha. A ministra Cármen Lúcia, com certeza, reuniu todas as forças para não tascar um beijo na boca do excelentíssimo barracoso.
Os ministros por estarem no exercício do controle da constitucionalidade de leis e atos podem perfeitamente não estarem no controle dos próprios atos, ainda mais quando atacados com ofensas e grosserias mascaradas por retóricas de defesa. Ou pior, sendo vilipendiados pelo “mau sentimento” de “uma pessoa horrível, mistura do mal com o atraso”. Se até mesmo Cristo chutou o pau da barraca quando viu os vendilhões ultrajando o templo de oração, transformando-o em mero local de comércio, tanto mais o pode um simples mortal, como todos os outros, feito do barro.
A descrição da índole e postura do ministro Gilmar Mendes pelo colega de Corte, Luís Roberto Barroso, falando do mal secreto que permeia as atitudes do primeiro, é uma das verdades sobre a condição humana, quando podemos assim atribuir essa qualidade a alguns seres viventes.
O mau e o mal que transpassa a vida das pessoas, e às vezes nela se aloja, que não conquistaram seus íntimos desejos ou não prosperaram na vida amorosa, sentimental, ou são reféns de carreiras profissionais impostas, seja pela apatia diante do mundo, pela falta de oportunidade ou ausência de qualquer apoio alheio, em muitos casos é mesmo secreto.
Trata-se de uma energia negativa inerente, que na maioria dos casos não é percebida pelo próprio possuidor, mas que rege seu comportamento, pensamento, atitudes e define seu modo de ser, de existir, e talvez de não existir em sua plenitude humana.
Não se trata de conquista financeira, porque pobreza não significa ausência de felicidade e, sequer, riqueza repelente de infelicidade. Tampouco o negativismo e o mal estão ligados ao sucesso ou à ascendência intelectual. O exemplo é justamente um ministro da mais alta corte do Poder Judiciário, segundo o Excelentíssimo Ministro Luís Roberto Barroso.
De qualquer modo, o exemplo dado parece o adequado e salutar: refutar o mau, esteja ele exposto ou secreto. E mais, se for possível, abster-se do convívio e de longos encontros com pessoas que são capazes de espelhar seu ânimo e seu animus.
Também é prudente a constante autoavaliação, porque o contágio é cientificamente comprovado. Quando o homem não é capaz de influenciar o seu ambiente, esse o influencia em sua forma e essência.
Fiquemos atentos à bílis, ao ódio e ao mau sentimento próprios e nos desviemos dos alheios ao derredor, para que o mal secreto não nos torne em coisa horrível.
Sérgio Piva
s.piva@hotmail.com