Enquanto alguns especialistas divergem sobre o termo “reinfecção”, mais uma votuporanguense apresentou o resultado de exames que comprovam a contaminação pelo coronavírus por duas vezes. Foi o que aconteceu com a moradora do Pozzobon, Kelly Christina Prado dos Santos, de 39 anos. Ela testou positivo pela primeira vez no dia 22 de junho e no último dia 4 outro exame confirmou que ela foi novamente acometida pela doença.
Diferente do primeiro caso, anunciado anteontem pelo médico infectologista e coordenador da rede de Urgência e Emergência de Votuporanga, Chaudes Ferreira Junior, onde a paciente não apresentou complicações, Kelly passou muito mal e chegou a ficar internada na Santa Casa por três dias na primeira vez.
“Eu fiz um Raio-X, deu muita secreção no pulmão, da primeira vez atacou o meu rim, creatina só foi abaixando, e agora está atacando novamente. Da primeira vez fiquei três dias internada na Santa Casa. Até então eu desacreditava que ia dar positivo, pensei que depois de pegar a primeira vez a gente ficava imune, mas não é. Quando testei positivo a segunda vez eu entrei em pânico, pois sou hipertensa, tenho insuficiência renal e fiquei muito mal da primeira vez”, disse ela.
E o relato de Kelly não é isolado. Pelo menos mais três votuporanguenses afirmam já terem contraído o vírus por duas vezes em diferentes lapsos temporais.
Divergências
Enquanto alguns profissionais da saúde, como o caso de Dr. Chaudes, tratam casos assim como “reinfecção”, outros dizem que só é possível utilizar esse termo após um sequenciamento genômico do vírus.
“Você só pode considerar de fato reinfecção quando você tem o sequenciamento das amostras dos dois vírus da infecção”, diz a epidemiologista e vice-presidente do Instituto Sabin, Denise Garrett. “Para provar a reinfecção precisamos sequenciar o genoma do vírus. Esse teste é complicado, especializado. Por isso, é raro conseguir provar que é uma reinfecção”, completou.
Essa divergência levou o Ministério da Saúde a divulgar uma nota técnica com regras para a definição de casos suspeitos de reinfecção. Para que isso seja caracterizado, o indivíduo precisará de dois resultados positivos de RT-PCR, com intervalo igual ou superior a 90 dias entre os dois episódios, independentemente da condição clínica (como nos dois casos relatados pelo A Cidade). No entanto, exige-se também a conservação adequada das amostras, a principal dificuldade no país.
“A reinfecção por cepas homólogas é uma possibilidade, mas no atual cenário, e em virtude do conhecimento de que o SARS-CoV-2 pode provocar eventualmente infecções por períodos prolongados de alguns meses, faz-se necessário determinar critérios de confirmação, como sequenciamento genômico, para comprovação de que se tratam de infecções em episódios diversos, por cepas virais diferentes”, diz a nota.
Diante da dificuldade de conservação desses materiais, até hoje, apenas um caso de reinfecção foi atestado pelo Ministério da Saúde. Trata-se de uma médica de 37 anos que mora em Natal e trabalha também na Paraíba.
A identificação do caso foi feita pelos governos do Rio Grande do Norte e da Paraíba, que usaram o método da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) por sequenciamento genético, que confirmou que a mulher foi infectada por duas linhagens diferentes do vírus.