“Nós estamos esquecidos e sem apoio”, esse é o sentimento de diversos escritores rio pretenses.
Francis Pelot, 44 anos, o poeta, que também é porteiro tem material para lançar oito livros, mas até hoje não conseguiu apoio e verba para publicar ao menos um.
Desde os 14 anos ele escreve poemas, todos eles relacionados ao universo feminino, mas até hoje, não conseguiu realizar seu maior sonho, ser um poeta reconhecido.
“Há trinta anos eu escrevo, as vezes penso que nunca conseguirei publicar minhas poesias em um livro, mas sou otimista e vou continuar escrevendo, quem sabe um dia a sorte chega e alguém acredite no meu trabalho e me ajude a publicar meus trabalhos”, espera.
Essa situação vivida pelo poeta é compartilhada com mais de 100 escritores de Rio Preto que tentam todos os anos lançar suas obras, mas tem o sonho interrompido pelas dificuldades financeiras.
De acordo com a presidente da ARPE (Associação Rio-Pretense dos Escritores), Mariah Cidah, cada escritor de Rio Preto tem pelo menos duas obras para serem lançadas, mas apenas uma pequena parte desses escritores consegue.
Entre as dificuldades apontadas pela presidente estão o valor cobrado pelas editoras locais, e a falta de apoio do poder público com a cultura.
“Em Rio Preto é muito difícil se tornar um autor de livros, talento nós temos de sobra, mas falta estímulo do poder público. A única coisa que a prefeitura oferece é a biblioteca municipal como local para o lançamento do livro e nada mais, as editoras da cidade também são culpadas, um livro que poderia custar R$ 2,5 mil, chega a R$ 5 mil, por causa da falta de concorrência”, reclama Mariah.
A presidente da associação diz ainda que os jornais impressos da cidade também tem sua parte na culpa, já que ao invés de fazerem promoções com escritores locais, promovem apenas autores como Paulo Coelho.
“Porque que os jornais não fazem uma campanha para nos ajudar e distribuir nossos livros, ao invés de promoverem escritores como o Paulo Coelho?”, indaga a presidente.
Maria da Paixão, professora do ensino infantil, conseguiu lançar seu primeiro livro em maio deste ano. Paixão conta que não recebeu nenhum apoio da Secretaria de Cultura, mas mesmo assim, como tinha muita vontade de realizar o seu sonho, com muitas dificuldades ela pagou o lançamento da sua obra.
“Só consegui lançar o ‘Sonhando acordado’, porque tinha um dinheiro guardado e me senti na obrigação de publicar esse livro para a conscientização das crianças, sobre o problema da água, mas se fosse depender do apoio de algum empresário ou da prefeitura, esse projeto não teria saído dos rascunhos”, explica a escritora.
Ambos os escritores se sentem esquecidos e pouco apoiados, eles criticam o governo municipal de dar tanta importância para o teatro e se esquecerem das outras artes.
“Achamos muito interessante o FIT, mas porque a prefeitura também não se empenha para realizar a bienal do livro aqui em Rio Preto, a última vez que teve foi em 2002, e depois disso, nunca mais aconteceu, não sou contra o FIT, mas as outras artes também merecem apoio público”, diz Paixão.
O assessor da secretaria de cultura, Deodoro Moreira, diz que sua pasta encontrou uma forma de incentivar a produção artística em Rio Preto, através do Programa Municipal “Nelson Seixas” de Fomento à Produção Cultural.
Ele explica que todos os anos, quatro trabalhos em cinco diferentes áreas são selecionados através de um júri formado por especialistas, e os vencedores recebem R$ 5 mil para que a obra, no caso dos livros, seja lançada.
“Todos os meses lançamos em Rio Preto, pelo menos dois livros, sendo que quatro são do programa Nelson Seixas. Essa foi a forma mais democrática que encontramos para ajudar a produção cultural de Rio Preto, já que o candidato tem que comprovar que reside a pelo menos dois anos na cidade para se inscrever”, afirma Deodoro.
Quanto a falta de apoio, o assessor diz que as obras depois de lançada devem ser apresentadas pelos próprios escritores às diversas secretárias, para que ela seja reconhecida e comprada, ou seja, “o escritor tem que saber vender o seu livro, se ele quer que por exemplo a Secretária de Educação compre sua obra, deve apresentar por conta próprio o trabalho para a secretária, e lá eles vão analisar se vale a pena ou não”, explica.
Sobre o programa Nelson Seixas
O programa disponibiliza R$ 140 mil aos projetos selecionados que são divididos nas seguintes categorias: teatro, dança, música, literatura e artes visuais (cinema, vídeo, foto, etc.).
Ao final, são escolhidos no máximo quatro projetos por área, num total de até 20 projetos. A seleção aconteceu de maio a junho. Os valores oferecidos pela Prefeitura variam de acordo com a área.
Para a categoria teatro, cada projeto recebe R$ 10 mil. Os projetos relacionados à dança recebem R$ 9 mil. Os de música, R$ 6 mil cada. Os de literatura e artes visuais recebem R$ 5 mil.Para os projetos selecionados, os valores são distribuídos em três vezes, 40% na primeira parte, 40% na segunda e o restante, 20%, na terceira etapa.
Porém, segundo Deodoro Moreira, os valores são repassados somente se comprovado o cumprimento do cronograma estabelecido pelo próprio autor no projeto. O pagamento por etapas, de acordo com Moreira, busca evitar atrasos na entrega dos trabalhos.
“Após o pagamento da primeira parcela, com data indefinida, os responsáveis pelos projetos têm um prazo de seis meses para a conclusão da obra”, diz.