domingo, 24 de novembro de 2024
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Maioria dos brasileiros defende educação sexual nas escolas

Aos 16 anos, quando teve a primeira relação sexual, a estudante Juliana Lemes foi infectada com gonorreia —até então, ISTs (infecções sexualmente transmissíveis) nunca tinham sido assunto em casa, com…

Aos 16 anos, quando teve a primeira relação sexual, a estudante Juliana Lemes foi infectada com gonorreia —até então, ISTs (infecções sexualmente transmissíveis) nunca tinham sido assunto em casa, com os pais, e haviam sido pouco abordadas na escola. A jovem, que teve complicações, precisou ser operada às pressas, passou mais de 20 dias internada, hoje estuda enfermagem e trabalha em defesa de que todos recebam uma educação sexual de qualidade.

Como Juliana, que sentiu em sua saúde os efeitos da ausência dessas informações, a maioria dos brasileiros acredita que o tema deve ser discutido nas escolas —7 em cada 10 pessoas, mais especificamente—, segundo uma pesquisa da ONG Católicas Pelo Direito de Decidir, em parceria com o Instituto Ipsos, divulgada com exclusividade a Universa.

Um número ainda maior de pessoas —superior a oito em cada 10— acredita que discutir o assunto no ambiente escolar contribui para uma sociedade em que mulheres têm os mesmos direitos que os homens.
Os dados são da “Pesquisa de Opinião sobre Religião, Aborto, Política e Sexualidade no Brasil”, produzida a partir de entrevistas por telefone com mais de 1.000 pessoas, de todas as regiões do país, entre março e abril deste ano, com margem de erro de 3% e nível de confiança de 95%.

Gravidez precoce gera preocupação
O relatório mostra, ainda, que a maior preocupação dos brasileiros em relação à educação sexual é a prevenção da gravidez precoce.

Quase todos os brasileiros (92% da população) acreditam que estudantes do Ensino Médio —que, em geral, têm entre 14 e 17 anos— devem receber informações sobre métodos contraceptivos, tais como preservativos e pílulas anticoncepcionais. Apenas 18% defendem que a educação sexual comece já na infância, fase em que as crianças são ensinadas sobre consentimento, explica Gisele Pereira.

“Quando falamos de educação sexual, assim como em todas as áreas e temas transversais, é preciso ser adequado à faixa etária. Não se fala sobre contracepção na educação infantil, por exemplo, mas se dá ferramentas de proteção e denúncia das violências.”

A pesquisadora lembra, ainda, que o Brasil tem índices alarmantes de violência sexual contra crianças e adolescentes: só no ano passado, mais de 30 mil meninas de até 13 anos foram estupradas no país.

Maioria também defende aborto legal
As Católicas e o Instituto Ipsos também compilaram dados sobre a percepção da população brasileira a respeito do aborto. Segundo o relatório, 67% dos brasileiros são favoráveis à interrupção da gestação em situações específicas —o número sobe para 83% entre as pessoas que defendem a prática especificamente em casos de estupro.

O estudo mostrou, ainda, que o número de brasileiros que defendem que o aborto deve ser legalizado em qualquer circunstância ultrapassa o de brasileiros que acreditam que a prática deve ser 100% proibida, inclusive nos casos já previstos em lei (19% e 14% respectivamente).

Embora os que defendam que o aborto deve ser totalmente legalizado representem menos de um quinto dos brasileiros, 85% acreditam que, se a prática deixar de ser criminalizada, “menos mulheres morreriam por abortos clandestinos” e quase 75% rejeitam que uma mulher seja presa por fazer um aborto.

A pesquisa das Católicas também considerou o papel da religião quando o assunto é a interrupção voluntária da gravidez —e mostrou que nem sempre é a fé que define a percepção dos brasileiros sobre o assunto.

Mais de oito em cada 10 católicos brasileiros acreditam que uma mulher que fez um aborto pode ser uma boa praticante de sua fé independentemente de ter interrompido a gestação.

Além disso, mais da metade dos brasileiros (51%) concorda que um profissional de saúde que tenha fé religiosa deve realizar um aborto, independentemente de suas crenças —hoje, a chamada objeção de consciência é utilizada por muitos profissionais da saúde como justificativa para não atender ocorrências de aborto em casos previstos em lei, explica a pesquisadora.

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