A Prefeitura de Votuporanga informa que abriu processo administrativo disciplinar pra apurar a denúncia de agressão praticada por uma professora do CEM Profa. Anita Liévana Camargo, no Jardim Bom Clima, em Votuporanga.
“As cenas são chocantes. Um misto de barbárie com monstruosidade” – é assim que Edilene Lourenço de Oliveira Camargo, Flávia Andréia da Silva e Simone Aparecida Soares definem as imagens das câmeras de segurança da escola.
As três mães estiveram na redação do Diário, acompanhadas pelo advogado Hery Kattwinkel, para contar sobre as agressões sofridas pelos filhos, em 16 de junho do ano passado. Com medo de retaliações, elas preferiram não mostrar o rosto.
Questionadas sobre a demora para expor os fatos, Edilene argumenta que durante todo esse período, buscou ajuda e orientação de órgãos públicos.
“Assim que fui buscar meu filho na escola e ele me contou sobre a atitude da professora N., já fui atrás dos meus direitos. Procurei a direção da unidade, a Secretaria da Educação, a Polícia, o Conselho Tutelar, a OAB, até o Ministério Público. O que estava ao meu alcance, eu busquei”, revela Edilene, mãe de B., de sete anos. “Nas imagens, é possível ver nitidamente as mãos da professora apertando o pescoço do meu filho. É revoltante”.
O Boletim de Ocorrência foi elaborado no dia seguinte à agressão, assim que viu as imagens do circuito interno. “Foi quando eu percebi que ela não tinha agredido só o meu filho, mas tinha desferido um tapa na cara do G.”
Edilene procurou a direção da escola, que sugeriu a mudança da unidade de ensino. “A partir do momento que me aconselharam a tirá-lo do Anita e matriculá-lo no Pieroni ou Geyner, assumiram as agressões. Essa cidadã deveria ter sido afastada da classe assim que o processo começou, pois as imagens falam por si. Houve agressão. A polícia está com todo o material gravado. Em um dia só, foram nove crianças agredidas e a professora continua lecionando no Cem Anita e no Abílio Calile. É inadmissível”.
Empurra-empurra
Acionado pela Edilene, o Conselho Tutelar oficiou a Secretaria da Educação e, em resposta, a titular da pasta, Silvia Cristina Rodolfo informou em outubro que havia encaminhado documentos pertinentes ao caso para abertura de processo administrativo disciplinar em face da servidora envolvida.
Também por meio de ofício, o vereador Walter José dos Santos solicitou o afastamento da professora até a conclusão da sindicância, o que não houve, já que as mães têm provas de que a docente leciona atualmente em duas instituições municipais de ensino.
“Ela é desequilibrada, descontrolada. Como ela pode ensinar desta forma?”, questiona Edilene.
Inconformismo
Simone é mãe de G., também de sete anos, outra criança agredida. Inconformada, ela lembra que foi procurada pela Delegacia de Defesa da Mulher de Votuporanga para prestar depoimento.
“É uma sensação horrível você assistir a seu filho sendo agredido pela própria professora, que deveria ensiná-lo. Ela maltratava as crianças, dava tapas, apostiladas, puxões de orelha e de cabelo”.
Providências
Flávia Andreia, mãe de M., está revoltada com a falta de providências. “Essa cidadã, que não pode ser chamada de professora, agride nove alunos num dia só e continua lecionando? O que vão esperar acontecer para ela ser afastada? O pior é que no material disponibilizado só consta imagem, sem áudio. Podemos imaginar, pelo modo como foram feitos os maus tratos, as ofensas ditas. Ela empurrou meu filho com carteira e tudo e ele chegou a bater a cabeça na parede”.
Outro ponto levantado pelas mães é sobre a omissão da escola. “Como uma professora pode agredir nove alunos, puxar orelha, cabelo, tentar estrangular, empurrar a carteira até se chocar contra a parede e ninguém ouvir nada?”, indaga Edilene.
Medidas cabíveis
De acordo com o advogado das mães, as vítimas entraram com liminar para afastar a professora. “Às vezes, a gente critica, mas é com a intenção de melhorar a realidade da Educação. Apontamos soluções, por exemplo: uma alternativa seria reduzir a carga horária de 8 para 6 e contratar mais profissionais.”
Hery lamenta que a docente continue lecionando mesmo sem a conclusão do processo. “Diante da gravidade dos fatos, com provas incontestáveis, a professora teria que ter sido afastada imediatamente até que se apurasse a sindicância. Se em um dia foram nove crianças, quantos alunos foram afetados em um ano”.
Perdão
A professora até chegou a pedir desculpa para as mães. “Ela ligou, chegou a mandar email. Mas nada justifica a atitude dela. Isso ela cometeu em apenas um dia de aula; imagina como ela tratou essas crianças durante o ano todo?”
As mães acreditam que as agressões tenham causado algum dano ao psicológico das crianças. “Meu filho estava diante das imagens da sala de aula e, quando perguntaram se a professora o agrediu, ele negou inicialmente. Ele mordia os lábios, demonstrava medo, nervosismo. Mesmo se vendo nas cenas, ele demorou a consentir que sofria maus tratos. Parecia que ele tinha sofrido lavagem cerebral.”
Audiência
Hery informa que amanhã será realizada uma audiência preliminar, quando as mães e autora serão ouvidas. “Baseado nestes depoimentos, o promotor decidirá se oferecerá a denúncia ou não. Porém, de posse de provas irrefutáveis, como as imagens da agressão nas câmeras de segurança, acreditamos que ele vai denunciar essa professora”.
Além disso, o advogado entrou com uma ação indenizatória contra a Prefeitura. “O Poder Executivo é responsável pelos atos de seus funcionários. É preciso que se apure se houve omissão por parte da direção da escola, coordenação e Secretaria. A educação de Votuporanga hoje vive um caos, muitas vezes abafado. Algo tem que ser feito”, dispara.
Ameaça
“Desde o dia 16 de junho, estou lutando sozinha contra todos. Quando viu as imagens do circuito da escola, a delegada Edna Rita determinou que fossem fornecidas informações sobre a família de todos os agredidos. Assim que a Secretaria passou os contatos, as mães foram chamadas à Delegacia e assistiram às agressões”, desabafa Edilene, emendando que logo que o fato foi à tona, a professora chegou a ser afastada por um curto período.
“Porém, quando ela retornou ao trabalho, chamou meu filho e disse: ‘B., avisa sua mãe que eu voltei’. Isso é um absurdo. Ela falou em tom de ameaça”, revolta-se.As mães disseram à reportagem que até o momento não receberam nenhum auxílio por parte da Secretaria da Educação. “Nossos filhos estão traumatizados. Nenhum acompanhamento psicológico foi oferecido”.
Segundo Hery, a intenção não é apenas uma indenização. “Queremos fazer justiça e evitar que situações similares aconteçam, chamando atenção das autoridades e de pais de crianças”.
Cabe revelar que as três crianças citadas na reportagem são negras.
Generalização
O advogado e as mães garantem que não querem generalizar a situação. “Queremos ressaltar que isso é uma atitude isolada. Sabemos que os professores de Votuporanga são qualificados e dedicados”, afirmam.
Nota oficial
Em nota oficial, a Prefeitura de Votuporanga informa que abriu processo administrativo disciplinar e está em fase final. Em breve, a administração municipal poderá dar mais esclarecimentos.
Sobre a audiência desta segunda-feira (15/2), a Prefeitura informa que a audiência é referente a processo criminal, fugindo das competências administrativas, não sendo Poder Executivo parte do processo.
Por:Fernanda Ribeiro Ishikawa – Diário de Votuporanga