terça, 19 de novembro de 2024
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Mães de jovens mortos pela polícia cobram punição de policiais

As mães de jovens mortos pela polícia em comunidades pobres do Rio cobraram hoje (1º) a punição dos policiais envolvidos nos assassinatos. Elas participarem da iniciativa Jovem Negro Vivo pelo…

As mães de jovens mortos pela polícia em comunidades pobres do Rio cobraram hoje (1º) a punição dos policiais envolvidos nos assassinatos. Elas participarem da iniciativa Jovem Negro Vivo pelo Mundo, promovida pela organização não governamental (ONG) Anistia Internacional com o objetivo de denunciar a violência policial no Brasil.

Terezinha Maria de Jesus, mãe do menino Eduardo, de 10 anos, morto em abril deste ano no Complexo do Alemão e Ana Paula Oliveira, mãe de Johnatha, morto aos 19 anos, em maio de 2014, por policiais da Unidade de Polícia Pacificadora (UPP) de Manguinhos, disseram que a viagem de 18 dias pela Europa deu a elas esperança na busca por justiça.

Segundo Terezinha, a viagem por 12 cidades da Holanda, Inglaterra, Suíça e Espanha serviu para denunciar a violência presente nas comunidades pobres do país e o descaso das autoridades públicas sobre o problema. “No Brasil é muito difícil eles [agentes do estado] quererem ouvir uma mãe pobre e preta. Eles não querem ouvir, só querem ver a tragédia e depois esquecer,” afirmou.

Terezinha disse que o filho foi morto pelos policiais sem que o abordassem. “Eles atiram para depois perguntar quem é”, disse, ressaltando que não vai deixar impunes os policiais envolvidos no crime. “Eu só vou sossegar a minha vida e ter um pouco de paz quando ver esses assassinos atrás das grades. A minha esperança é lutar por justiça até o fim da minha vida, porque eu não vou me calar. Se eu me calar, vai ser só mais um [caso] na história, mas eu não vou deixar. Eu vou ser a voz do Eduardo clamando por justiça”.

Com a responsabilidade de representar milhares de mães de jovens mortos pela polícia, Ana Paula, mãe de Johnatha, disse que na viagem buscou apoio para mobilizar pessoas de outros páises na luta pelo fim da violência nas comunidades pobres do Brasil. “[A viagem] foi importante para denunciar a atuação da polícia dentro das favelas. Todos os dias, a gente vê jovens, crianças, negros e moradores de favela sendo assassinados. Para mim, foi importante ter essa oportunidade de levar o meu grito por justiça e pelo fim dessas execuções.”

Ana lamentou o fato de pessoas serem assassinadas pelo braço armado do Estado, “que deveria dar segurança e zelar pela vida dessas pessoas.” De janeiro de 2010 e agosto de 2015, 3.256 pessoas morreram em decorrência de intervenção policial, segundo dados do Instituto de Segurança Pública do Rio. Ana Paula pediu mudanças na forma de atuação policial no Rio de Janeiro.

“Tem que haver uma reforma na polícia e mudanças na política de segurança pública. Enquanto eu viver, eu vou lutar por justiça e espero contribuir de alguma forma para que esse extermínio e essas execuções acabem. A gente não pode desistir por amor aos nossos filhos e temos que continuar nessa luta”, disse.

De acordo com a assessora de Direitos Humanos da Anistia Internacional, Renata Neder, a polícia atua de forma diferente dependendo quem for o abordado e o local onde ele se encontra. “Como se numa favela a polícia pudesse agir de uma forma mais agressiva ou displicente porque essas vidas teriam menos valor, mas isso é inadmissível”, afirmou.

Procurada pela reportagem da Agência Brasil, a Polícia Militar não respondeu às perguntas feitas até a publicação desta reportagem.

Abaixo-assinado da Anistia Internacional

A Anistia Internacional está promovendo um abaixo-assinado, que já tem 20 mil assinaturas, pedindo o fim das mortes causadas por policiais na capital fluminense. O documento deve ser entregue na próxima semana ao governo do estado. De acordo com a organização, a Polícia Militar do Rio de Janeiro tem usado força letal “de forma desnecessária, desproporcional e arbitrária”. Entre 2005 e 2014, 5.132 pessoas foram mortas por policiais em serviço na cidade do Rio de Janeiro. A grande maioria das vítimas era de jovens negros que viviam em favelas.

Segundo a ONG, os casos de homicídios decorrentes de intervenção policial raramente são investigados para determinar se o uso da força era necessário e proporcional. Entre os seis pontos do documento, a Anistia pede ao governo do estado e ao Ministério Público estadual a criação de uma força-tarefa envolvendo o Ministério Público e a Secretaria de Segurança Pública para garantir a investigação completa, ágil, imparcial e independente dos casos de homicídio decorrente de intervenção policial.

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