A caseira Vanda Villa da Silva, 49 anos, tinha ido colocar comida para os cachorros do sítio onde vivia, em Neves Paulista, quando tomou a primeira paulada.
Foram tantas que o rosto ficou completamente desfigurado e o caixão no qual ela foi enterrada, em meio a comoção de quase toda a cidade – cerca de oito mil nevenses -, precisou ser lacrado.
Quinze pedras de crack, que somariam R$ 100 às contas do tráfico, teriam levado a mulher a perder a vida com tanta violência. A dívida, no entanto, não era dela. O filho de 23 anos é quem devia. Dependente químico, ele usa drogas desde a adolescência. “Ele relatou que pegou as pedras para vender, acabou consumindo e ficou sem o dinheiro para pagar o traficante”, esclarece o delegado de Neves Paulista, Lincoln Flauzini de Oliveira.
O medo toma conta do pequeno município, que em 2012 não teve assassinatos. “Está todo mundo trancado em casa sem acreditar em tanta crueldade, em tanta maldade”, expressa a cuidadora de idosos Rosemeire da Silva. O pai dela, João da Silva, 64 anos, foi agredido na cabeça, teve o órgão sexual amarrado às mãos para que não fugisse e assistiu Vanda, com quem era casado há cerca de nove anos, ser espancada até a morte por três homens armados com pedaços de pau e a própria barra de ferro usada para trancar a porta da residência do casal.
De acordo com o depoimento dado pelo filho ao delegado, por volta das 19h30 da sexta-feira (22), o traficante que costumava entregar drogas para ele, que seria morador de Mirassol, foi até a cidade vizinha cobrar a dívida e teria sido informado pelo jovem que não seria pago. “Eu vi os meninos conversando na frente de casa, mas não sabia que estavam brigando”, conta o pai do jovem e ex-marido de Vanda, José Ildeo da Costa, 48 anos.
O traficante teria então ameaçado o jovem que, com medo, partiu para a cidade de Jaci, na casa de uma namorada. “O que ele me contou é que estava indo para lá conversar com a namorada porque eles estavam brigados”, nas palavras do pai. A polícia acredita que, irritado com a situação, o traficante e mais dois homens teriam invadido a casa onde viviam Vanda e João e assassinado a mulher.
O idoso conseguiu marcar o horário em que a tragédia começou pelo que passava na TV. “Meu pai contou que estava passando o jornal das 20h30 e que eles pediam dinheiro, mas que já foram batendo”, conta Rose. O grupo revirou a casa toda, mas João não soube dizer se levaram alguma coisa. Muito abalado, ele está passando por acompanhamento psicológico. “Ele só chora e se assusta até com a gente, que é da família”, lamenta Rosemeire.
Foi o idoso quem conseguiu buscar ajuda. Mesmo amarrado, ele rastejou até a porteira e gritou um vizinho. A neta, Letícia Meire da Silva, 24, que foi chamada logo em seguida pela vizinhança, relembra cada cena que viu. “Não sai da minha cabeça meu vô gritando sem parar: ‘Mataram ela! Mataram!’. Ele chorava e urrava. Tinha medo de quem se aproximasse. Demoramos para conseguir desamarrar ele, porque ele não queria que ninguém chegasse perto”.
A polícia chegou ao sítio por volta das 22h30 e horas depois já havia encontrado os três suspeitos do crime, inclusive o traficante para quem o filho de Vanda devia a droga. Na casa do suspeito, em Mirassol, foram apreendidas as roupas que possivelmente o homem estaria vestindo no ato do crime e o chip do celular que ele usava. O jovem já estava acompanhado por um advogado. “Nós encontramos na camiseta dele manchas que parecem sangue, mas só podemos afirmar depois da perícia”, explica o delegado.
Os três suspeitos de terem participado do crime foram conduzidos à delegacia, mas liberados depois de prestar depoimento por falta de provas. “Por enquanto, apesar dos depoimentos e dos indícios, nós não tempos provas”, nas palavras do delegado. Ele preferiu não dar detalhes sobre os outros envolvidos, mas garantiu que eles já foram identificados.
Filho se sente culpado, diz pai
“Eu não tô bem não, mas não quero falar nada”. O filho de Vanda e José preferiu não dar entrevistas. De acordo com os relatos do pai, ele foi ao enterro da mãe e quer justiça. “Ele se sente culpado, falou em se vingar de quem fez isso”, diz o pai. O jovem e o principal suspeito pela morte de Vanda eram amigos de infância. “Eu cheguei a colocar meu filho para fora de casa porque na adolescência ele queria trazer esse moço para morar com a gente”, conta o pai.
O suspeito tem 21 anos e saiu da prisão há cerca de um ano, após cumprir pena por tráfico de drogas por quase dois. “Ele foi preso em flagrante logo depois de atingir a maioridade”, afirma o delegado Lincoln. O filho de Vanda e José também já teve passagem pela polícia. Quando adolescente, cometeu um roubo com um amigo. A dependência química, de acordo com o pai, começou nessa mesma época.
“Ele tinha uns 15, 16 anos quando começou com esse negócio de droga”, revela o pai. Há três anos, a família se uniu para internar o jovem em uma clínica na cidade de Potirendaba. Ele ficou seis meses em tratamento. “Todo mundo pagava um pouquinho, me ajudava para ver se ele parava com essas coisas, mas parece que não resolveu”.